ACERCA DO SUICÍDIO - por Omraam Mikhaël Aïvanhov
Postado em Textos Conscienciais
- Por Omraam Mikhaël Aïvanhov -
Encha um copo de água pela metade e mostre-o a duas pessoas: uma diz
que ele está meio cheio, e outra diz que ele está meio vazio. Para a
maioria das pessoas, isto significa a mesma coisa, mas para a Ciência
Iniciática revela duas mentalidades, dois processos psicológicos
diferentes. Se você se fixar na plenitude, vai se sentir repleto; se
fixar no vazio, você será esvaziado. É uma lei mágica: quando um doente
não pensa senão na sua doença, o seu estado piora, porque todo o
pensamento negativo provoca a desagregação. Ele que pense em saúde, e
esse pensamento curá-lo-á.
Pode ser que lhe faltem muitas
coisas, mas, se quiser que lhe falte ainda mais, fixe-se nessa falta!...
Pense, antes, que você é herdeiro de uma imensa riqueza, e verá todas
as melhorias que se seguirão. Aliás, o que falta aos humanos não é tanto
o dinheiro, as casas, os carros, mas uma filosofia luminosa e divina,
capaz de fazê-los sair de todas as fraquezas, de todas as dificuldades.
Sim,
é muito simples, extremamente simples. Alguns, seja o que for que se
lhes apresente, estão habituados a ver o lado bom das coisas e das
situações, ao passo que outros só vêem os inconvenientes. Bem entendido,
uns e outros têm razão, mas esta “razão” age, interiormente, de duas
maneiras diferentes. Do ponto de vista da verdade, pode dizer-se que um
copo está meio cheio ou meio vazio, isso não tem qualquer importância;
mas a ação mágica é diferente. E é precisamente isto o essencial.
Habituando-se a ver as faltas, as lacunas, os defeitos, você vai ficando
cada vez mais triste, desanimado, azedo. É o que acontece quando alguém
se detém no que lhe falta. Que essas faltas existem, é evidente, a quem
o diz!... Mas a questão não está aí; a questão está em saber trabalhar
com o que se possui, para se melhorar.
Para mostrar a alguns o
quanto se enganam e fazem mal a si próprios, dizendo que lhes falta
isto, que lhes falta aquilo, e sobretudo dinheiro – é da falta de
dinheiro que todos se queixam mais! -, eu lhe direi: “Dou-lhe vinte
milhões; dou mesmo, dou-lhe vinte milhões, mas... você me dará seus
olhos.” Oh!, eles recusarão, soltando gritos. “E mais vinte milhões
pelos seus ouvidos... vinte milhões pelo seu nariz... vinte milhões
pelos seus braços... e mais vinte milhões pelas suas pernas.” Oh lá lá!
Vai subindo, chegamos aos bilhões. Pois bem, mesmo perante esta soma,
eles recusarão. Nesse caso, por que se sentem pobres? Eles são ricos, só
que não viram isso. Não o viram porque são idiotas, e os idiotas têm
sempre que sofrer, a sua cabeça tem que amadurecer. Não sou eu que o
digo, é a Natureza.
A Natureza é implacável: você pode gritar,
chorar, ameaçar, que ela não muda nada; você é que tem que se inclinar,
que obedecer, que se por de acordo com ela. Sim, ela é implacável,
irredutível. Você dirá que ela é cruel... Não, ela só pensa em tornar os
humanos inteligentes, belos e, sobretudo, felizes. Mas, quando vê que
eles têm cabeças duras... O que você quer? É preciso que essas cabeças
amadureçam, e para isso ela emprega métodos que só ela conhece. Quando a
Natureza se empenha em relação a alguém, nem sequer lhe dá explicações,
diz simplesmente: “Eu desejo o seu bem e, como não há outros meios para
o tornar sensato, sou obrigada a usar estes.” Não se pode censurá-la.
Aceite esta filosofia que lhe mostra que você é filho de Deus, herdeiro
de um tesouro que só espera o momento em que você seja capaz de o
colher. O que faz falta aos humanos é uma filosofia, e não qualquer
outra coisa; eles têm tudo em si e à sua volta e estão sempre a se
queixar. São rabugentos – é isso! -, sempre rabugentos, porque lhes
falta uma filosofia divina. É por isso que, quando eu vejo alguém
fechado sobre si mesmo, sobre seus problemas, tenho vontade de lhe
dizer: “Mas, meu pobre infeliz, como pode você ver alguma coisa? Você
não sai, está sempre fechado em sua mansarda. Passeie um pouco, para
poder ver a sua herança: todas essas florestas, essas montanhas, esses
lagos, esses rios, essas estrelas... Você compreenderá que possui uma
imensidão, que nada lhe falta.”
Os humanos se parecem com
aquele que caíra num lago e gritava: “Água, água, dêem-me água!” Eles
estão mergulhados no oceano da luz cósmica, mas têm tantas carapaças que
essa luz não consegue penetrar neles. Eis o atual estado de muitas
pessoas no mundo: sentem-se infelizes, queixam-se, querem, até,
suicidar-se. Não conseguem compreender que só elas são responsáveis pelo
seu estado. A Inteligência Cósmica não tinha vontade alguma de
reduzi-las a este extremo; foram elas que, ao mostrarem-se tão obtusas,
chegaram a essa situação; e suprimem-se porque – dizem – a vida não tem
qualquer sentido! Na realidade, a vida encerra ainda tantas
possibilidades insuspeitadas!... É a maior das tolices ficar prostrado a
um canto, infeliz, no vazio, por ser incapaz de vê-las!
Voltemos agora à imagem do copo meio cheio e do copo meio vazio. É claro
que, do ponto de vista da simples constatação, dizer de uma maneira ou
de outra vem a dar no mesmo. Mas constatar as coisas não é ainda a
verdadeira ciência. A verdadeira ciência consiste em vermos, na nossa
vida, as conseqüências desta ou daquela constatação. Quando você diz que
um copo está meio cheio, você fixa o pensamento na plenitude e se
habitua, assim, a ver o lado bom das coisas. E, mesmo quando você se
depara com um acontecimento desagradável, em vez de chorar horas
inteiras para “regar o jardim”, diga para você mesmo: “Oh!, existem
ainda algumas possibilidades, o Céu tem boas intenções a meu respeito,
quer que eu desenvolva qualidades que ainda não possuo. Quais são?”
Então procure... e, quando descobrir, agradeça-lhe por lhe ter dado essa
provação. É uma filosofia muito difícil de aceitar, mas é a melhor. A
partir do instante em que você começar a aceitá-la verdadeiramente, nada
mais poderá voltar a lhe entravar. Qualquer que seja a situação que lhe
aconteça, você avançará, porque estará a raciocinar bem.
E
agora imagine que os humanos se comportam muito mal com você; durante
toda a sua vida, por mais que você faça, apesar de toda a sua gentileza,
doçura e bondade, choverão injustiças sobre você. Então, por fim, você
achará que é tudo tão cruel, que se revoltará contra o Senhor e até
poderá querer pôr fim à vida. Espere!
Ainda há um ponto que
você não compreendeu bem: por que continua o Céu a lhe dar essas
provações, sempre as mesmas?... Suponha que numa outra encarnação você
foi cruel para com certas criaturas. Para lhe mostrarem quanto mal lhes
fez, são elas agora que, por sua vez, fazem-lhe sofrer, mas você não
compreende que a culpa é sua. Se assim não se respeitar – é uma lei. Por
conseguinte, embora as “injustiças” por que você passa sejam muito
gritantes, você deve tirar da cabeça essa idéia de que são injustiças.
Porque, na realidade, essas injustiças, visíveis e reais, são a
expressão de uma justiça invisível. Por uma razão ou por outra, você
merece o que lhe acontece: ou, ainda, deve se reforçar e tornar-se um
gênio, um gigante, um colosso.
O que impede os humanos de
evoluir é o fato de pensarem que as dificuldades ou os infortúnios são o
resultado de uma injustiça. Eles pensam: “O destino é injusto, e até o
Senhor é injusto, eu merecia melhor.” E como podem eles saber se
mereciam melhor? Eles não se conhecem, não conhecem o seu passado, nem o
seu presente, muito menos, o seu futuro; por isso, como poderão
pronunciar-se? Mesmo quando, num processo, os juízes condenam um
inocente – e quantos erros judiciários têm acontecido ao longo da
História! – na realidade, há sempre uma justiça por detrás dessa
injustiça. Pode mesmo acontecer com Santos, Iniciados e grandes Mestres:
muitos foram enforcados, queimados, crucificados; aparentemente, foi
injusto, mas, na realidade, não. Os Vinte e Quatro Anciãos ou Senhores
do Carma são absolutamente justos – as provações por que tais seres
passaram tinham-lhes sido enviadas para os fazer pagar uma dívida, ou
para os ajudar a compreender algumas verdades que sem isso não teriam
compreendido, ou, ainda, para os incitar a tornarem-se fortes,
poderosos, invencíveis.
Algumas pessoas pensam que escapam às
dificuldades pondo fim à vida. Na verdade, é ainda pior, depois, quando
estiverem do outro lado, porque ninguém tem o direito de partir antes do
termo; é uma deserção que terá de ser paga duas vezes, três vezes mais
caro. Lá em cima não há lugar para aqueles que quiseram desertar da
terra, e não querem recebê-los: terão de sofrer tanto tempo quanto o que
ainda lhes restava viver na terra.
A atitude de quem põe fim à
sua vida é extremamente repreensível. Em primeiro lugar, essas pessoas
são ignorantes, porque não conhecem a razão das provações que têm de
suportar. Depois, são orgulhosas, porque julgam saber melhor que os
Vinte e Quatro Anciãos aquilo que merecem. Finalmente, são fracas,
porque não suportam as dificuldades. Demonstram, pois, ignorância,
orgulho e fraqueza. E o mundo invisível fica descontente com esses seres
porque eles abandonaram o seu posto.
Você me dirá: “Mas alguns
se suicidaram porque tinham um ideal extraordinário, que não
conseguiram atingir. Ao verem que não conseguiram, ficavam tão
decepcionados consigo próprios que acabavam com suas vidas.” Ora bem:
isso também não é permitido. Quando se tem um grande ideal, o essencial é
trabalhar para realizá-lo, sem fixar uma data para sua realização. Se
não se foi bem sucedido, foi porque ainda não se possuíam os elementos
que fariam o sucesso; é próprio do orgulho não querer admitir isso e
suprimir-se. Dever-se-ia ter perseverado!
A maioria dos humanos
pensam que vieram à terra para viver em felicidade e realizar as suas
ambições. Mas não: eles vieram à Terra para pagar suas dívidas, para se
instruírem e se reforçarem. É por isso que o Céu não pode ter estima por
quem tomou a decisão de pôr termo à sua vida, porque tais seres
colocam-se acima do Senhor de todos os destinos, e os sofrimentos que
terão de suportar a seguir são indescritíveis. Eis mais uma das grandes
verdades da Ciência Iniciática.
É claro que se pode dar ao
suicídio toda a espécie de explicações. Mas, sejam quais forem as razões
por que um homem ou uma mulher se suicida, pode-se dizer que a
verdadeira razão é esta: trata-se de uma criatura que não sabe que o
Criador colocou nela possibilidades incríveis de triunfar em quaisquer
condições de vida: possibilidades de comunicar com os seres do mundo
invisível, possibilidades de criar pelo pensamento e de lançar essas
criações através do espaço... Ela não sabe que, mesmo na maior solidão e
na maior miséria, é possível não se sentir pobre e só, mas visitada,
rodeada e senhora de todos os tesouros; aconteça o que acontecer, ela
tem dentro de si um mundo tão vasto e tão belo para se sentir feliz!
Existem seres a quem nenhum acontecimento, nenhuma situação abala,
porque têm um sistema filosófico ao qual se agarram. Por que se diz nos
Evangelhos que devemos construir a nossa casa sobre a rocha? A rocha é o
espírito, e o espírito permanece inabalável em todas as circunstâncias.
O coração, o intelecto ou o corpo físico são vulneráveis, mas o
espírito não.
Os humanos estão muito mal instruídos; eles não
sabem o que Deus colocou neles próprios e, à mais pequena decepção,
pensam que a única solução é o suicídio. O que quer isso dizer? Que são
gênios? Que são seres tão excepcionais que não podem suportar o mal no
mundo?... Não, são pobres miseráveis privados de tudo: de inteligência,
de amor, de força; só a sua fraqueza os leva a acabarem assim. Que tenha
havido na História homens e mulheres heróicos que ofereceram a vida
para salvar um exército, uma cidade, um povo, isso eu compreendo, é uma
outra questão. Eu não me refiro a esses, mas a todos aqueles –
principalmente jovens – que se preparam para acabar lamentavelmente,
porque se sentem sós ou incompreendidos.
Os jovens devem
aperceber-se da riqueza de que dispõem. Eles têm imaginação, não é
verdade? Então, por que não se servem dela? Oh!, é claro, eles servem-se
dela: quando se trata de pensar nos seus namorados e de imaginarem como
os acariciam, como os beijam, a imaginação dos rapazes e das raparigas
não descansa. Mas por que eles a utilizam unicamente nas elucubrações
sexuais essa preciosa faculdade que o Criador lhes deu? Porque não
aprenderam a utilizar a imaginação para pensarem em todas as razões que
podem ter para se sentirem felizes e ricos graças a tudo o que existe no
Céu e na terra e, principalmente, em si próprios?
Houve
numerosos casos de suicídio na História, mas podem ser resumidos em três
categorias. Eles têm como causa ou falta de inteligência, ou falta de
coração ou falta de vontade. Se você tiver uma boa compreensão das
coisas, se souber que existe um mundo divino povoado de seres
esplêndidos e que esse mundo divino imprimiu a sua marca no mundo
físico; se você souber que os sentimentos e os desejos são de uma
potência tal que, com perseverança, se consegue sempre realizá-los...
Enfim, se você conseguir se educar para não procurar satisfazer
unicamente as suas cobiças, mas a considerar todas as dificuldades como
um meio de exercer a sua vontade, então, esteja certos de que
jamais
você se suicidará. Nem mesmo a miséria, as privações, a doença ou a
solidão conseguirão lhe vencer.
Você é que triunfará.
Os jovens
devem persuadir-se ao menos de uma coisa: o mundo é vasto e eles não
estão sós. O que mais leva as pessoas ao suicídio é a falta de amor.
Quando alguém perdeu o amor, só deseja morrer; a vida não tem sentido. A
vida está ligada ao amor. Isto é tão verdadeiro que, se você estiver
nos braços daquele ou daquela que ama, vai querer sempre viver. Se
suprimir o amor, você morrerá. Muitas pessoas suprimiram o amor e agora
perguntam a si próprias por que razão já não têm gosto por nada. Pois
bem, é justamente porque nelas não há amor.
Quando vejo uma
jovem com um ar travesso, cantarolando, sei que ela acaba de estar com o
seu namorado, porque o amor é isso, é a alegria. E se depois a vejo
deprimida, sei que perdeu o namorado, não é difícil de decifrar. Eis
porque eu insisto sempre no amor. Mas não nesse amor que hoje está na
moda e que, na realidade, não é senão libertinagem, porque também esse
amor, tal como a falta de amor, acaba por roubar aos seres todas as
razões de viver.
Sim, é sobre o amor que se deve falar
constantemente, durante toda a vida, porque os humanos ainda estão longe
de conhecer o verdadeiro amor, aquele que é capaz de remover montanhas,
de criar mundos!... Quanto a mim, já encontrei o segredo: eu amo a
Fraternidade, e como amo a Fraternidade, todas as questões estão
resolvidas. Só penso nela, nada mais existe na minha cabeça, ela dá
sentido à minha vida. Faça você a mesma coisa e jamais terá o desejo de
se suicidar.
(Texto extraído do livro “Respostas à Questão
do Mal” – Omraam Mikhaël Aïvanhov – Edições Prosveta; Portugal -
páginas 129-142).
- Nota de Wagner Borges: Omraam Mikael
Aivanhov (1900-1986): Mestre espiritualista búlgaro, que morou a maior
parte de sua vida na França, onde fundou a Fraternidade Branca Universal
- www.fbu.org (não confundir com a Fraternidade Branca do Himalaia, dos
mestres, que se situa em planos sutis). É um dos mentores espirituais
dos trabalhos do IPPB. Mais informações sobre o seu trabalho podem ser
conseguidas em nosso site - www.ippb.org.br - Basta entrar na seção de
busca por palavras do site e clicar o seu nome. Daí surgirão diversos
textos dele postados em várias seções do site, e aí é só mergulhar em
seus escritos e se fartar de ler textos excelentes e cheios de sabedoria
espiritual e humana.
Fonte: www.ippb.org.br