Esta é a minha carne! Este é o meu sangue!
“Quem aceita a minha Palavra, aceita a mim”, disse o
Filho de Deus a seus discípulos, “em verdade come da minha carne e bebe
do meu sangue!”
Esse é o sentido das palavras que o Filho de Deus pronunciou quando
instituiu a Ceia, e as quais ele simbolizou com a Ceia em memória de sua
peregrinação pela Terra. Como podia ocorrer que a tal respeito
eclodissem violentas disputas entre os eruditos e as igrejas. O sentido é
tão simples e tão claro, se a criatura humana colocar como base que o
Filho de Deus, Jesus Cristo, era a Palavra de Deus encarnada.
Como poderia ele falar a esse respeito mais nitidamente do que com as
simples palavras: “Quem aceita a minha Palavra, come do meu corpo e
bebe do meu sangue!” Também quando disse: “A Palavra é verdadeiramente
meu corpo e meu sangue!” Tinha, pois, de falar assim, porque ele próprio
era a Palavra Viva em carne e sangue. Em todas as transmissões somente
foi omitido sempre de novo o principal: a indicação à Palavra que peregrinou
pela Terra! Por esta não ter sido entendida, julgavam-na de pouca
importância. Com isso, porém, toda a missão de Cristo foi mal
compreendida e mutilada, desfigurada.
Também aos discípulos do Filho de Deus não foi dada naquele tempo,
apesar de sua fé, a possibilidade de compreender acertadamente as
palavras de seu Mestre, assim como tantas coisas, ditas por ele, nunca
compreenderam direito. A esse respeito o próprio Cristo manifestou sua
tristeza com bastante frequência. Formaram simplesmente o sentido da
Ceia àquela maneira como haviam compreendido em sua simplicidade
infantil. É evidente aí que reproduzissem também as palavras, pouco
claras para eles, de maneira correspondente à sua própria compreensão,
não, porém, assim como o Filho de Deus as tinha em mente. —
Jesus era a Palavra de Deus encarnada! Portanto, quem acolheu direito
a sua Palavra dentro de si, este acolheu com isso a ele próprio.
E se uma pessoa deixa se tornar viva dentro de si a Palavra de Deus a
ela oferecida para que, assim, torne-se-lhe uma evidência no pensar e
no atuar, então ela, com a Palavra dentro de si, também torna vivo o
espírito de Cristo, porque o Filho de Deus foi a Palavra Viva de Deus
encarnada!
A criatura humana tem apenas de se esforçar para penetrar finalmente nesse curso de pensamentos de modo certo.
Não deve apenas ler e tagarelar a respeito, mas também precisa procurar
vivificar com imagens esse curso de pensamentos, isto é, vivenciar
serenamente o sentido em imagens vivas. Então também vivenciará realmente
a Ceia, pressupondo-se que reconheça nisso o recebimento da Palavra
Viva de Deus, cujo sentido e querer ela naturalmente deve conhecer antes
a fundo.
Não é tão cômodo assim, conforme pensam tantos fiéis. Aceitação
bronca da Ceia não pode lhes trazer nenhum proveito; pois aquilo que é
vivo, como a Palavra de Deus, quer e também deve ser tomado de
modo vivo. A Igreja não consegue insuflar vida à Ceia para outrem,
enquanto esse participante da Ceia não houver antes preparado em si
próprio o lugar para recebê-la direito.
Vêem-se igualmente quadros que visam reproduzir a bela expressão: “Eu
bato à porta!” Os quadros são certos. O Filho de Deus está parado
diante da porta da cabana e bate, querendo entrar. No entanto, o ser
humano aí já adicionou novamente algo do seu próprio pensar, ao deixar
ver pela porta entreaberta a mesa posta na cabana. Surge assim o
pensamento de que não deve ser repelido ninguém que peça de comer e de
beber. O pensamento é belo e também corresponde à Palavra de Cristo, mas
interpretado de modo demasiado restrito nisso. O “Eu bato à porta”
significa mais! A caridade é apenas uma pequena parte do conteúdo da
Palavra de Deus.
Quando Cristo diz: “Eu bato à porta”, quer ele dizer com isso que a
Palavra de Deus, por ele corporificada, está batendo à porta da alma
humana, não para pedir ingresso, mas sim exigindo entrada! A Palavra dada às criaturas humanas em toda a sua plenitude deve ser aceita por estas. A alma
deve abrir sua porta para a entrada da Palavra! Se obedecer a essa
exigência, então, os atos de matéria grosseira da criatura humana
terrena serão como evidência de tal modo, como o exige a “Palavra”.
A criatura humana sempre procura apenas uma compreensão intelectiva, o
que significa desmembramento e com isso também diminuição, um
estabelecimento de limites mais restritos. Por isso, incorre sempre de
novo no perigo de reconhecer apenas fragmentos de tudo o que é grande,
conforme também aqui sucedeu novamente.
A encarnação, portanto, corporificação, da Palavra Viva de Deus
deverá permanecer sempre um mistério aos seres humanos terrenos, porque o
início desse fenômeno desenrolou-se no divinal. Até no divinal, porém, a
capacidade de compreensão do espírito humano não consegue penetrar,
ficando assim vedada à compreensão da criatura humana a primeira fase
para a futura encarnação. Portanto, não é surpreendente que exatamente essa
ação simbólica do Filho de Deus, que consistiu na distribuição do pão e
do vinho, ainda não pudesse ser compreendida até hoje pela humanidade.
Mas quem depois desse esclarecimento, que lhe permite imaginar um
quadro, ainda quiser bradar contra tal propósito prova apenas que o
limite de sua compreensão termina no espiritual. Sua defesa em favor da
explicação literalmente antinatural de até então dessas palavras de
Cristo testemunharia apenas uma obstinação inescrupulosa.
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