segunda-feira, 30 de maio de 2016


O ser humano e seu livre-arbítrio

Para que se possa dar um quadro completo a respeito, faz-se necessário reunir muitos elementos de fora que exercem suas influências maiores ou menores sobre o fator principal!
O livre-arbítrio! É algo diante do qual até mesmo seres humanos eminentes se detêm pensativamente, porque havendo uma responsabilidade, segundo as leis da justiça, também deve haver incondicionalmente uma possibilidade de livre resolução.
Por onde quer que se ande, de todos os lados se ouve a exclamação: onde é que existe uma vontade livre no ser humano, quando há de fato providência, condução, determinações, influências astrais e carma? *(Destino) Pois o ser humano é impelido, ajustado e conformado, quer queira quer não!
Com afinco os pesquisadores sinceros se lançam sobre tudo aquilo que fala do livre-arbítrio, no reconhecimento mui acertado de que, justamente a esse respeito, necessita-se imprescindivelmente de um esclarecimento. Enquanto este falta, o ser humano também não consegue se enquadrar direito, a fim de impor-se na grande Criação como aquilo que realmente é. Se, porém, não estiver sintonizado de maneira certa com referência à Criação, terá de permanecer nela como um estranho, vagará a esmo, terá de se deixar empurrar, ajustar e moldar, porque lhe falta a consciência do alvo. Assim resulta então uma coisa da outra, e, como conseqüência natural, o ser humano tornou-se por fim aquilo que ele hoje é, mas que, na verdade, não deve ser!
Seu grande defeito é o fato, que ele não sabe onde realmente se encontra seu livre-arbítrio e como atua. Tal contingência mostra também que perdeu completamente o caminho para seu livre-arbítrio, não sabendo mais como encontrá-lo.
A entrada do caminho para a compreensão não é mais reconhecível, devido à areia movediça amontoada. Dissiparam-se os rastros. A criatura humana, indecisa, corre aí em círculos, fatigando-se, até que por fim um vento refrescante abra novamente os caminhos. É natural e evidente que antes toda essa areia movediça será levantada em rodopios violentos e, ao desaparecer, ainda poderá turvar a vista de muitos dos que, ansiosos, continuam a procurar a abertura do caminho. Por esse motivo, cada um deve exercitar o máximo cuidado para conservar a vista livre, até que o último grãozinho dessa areia movediça também tenha se dispersado. Do contrário, pode suceder que esteja vendo o caminho, no entanto, com a vista levemente turvada, pise em falso, tropece e caia, para, já com o caminho diante de si, ainda afundar. —
A incompreensão sempre de novo manifestada obstinadamente pelos seres humanos com relação à verdadeira existência de um livre-arbítrio baseia-se principalmente na não compreensão daquilo que o livre-arbítrio realmente é.
A explicação, na verdade, já se encontra na própria definição, porém, como por toda parte, aqui também não se vê a coisa realmente simples, por causa de tanta simplicidade, mas sim se procura em lugares errados, não se chegando dessa maneira a formar uma noção do livre-arbítrio.
Por arbítrio, o maior número dos seres humanos hoje em dia entende aquela sintonização forçada do cérebro terreno, quando o intelecto, atado a espaço e tempo, indica e determina alguma determinada direção para o pensar e o sentir.
Esse, no entanto, não é o livre-arbítrio, mas o arbítrio atado pelo intelectoterreno!
Tal equívoco feito por tantas pessoas causa grandes erros, soergue as barreiras que impossibilitam um reconhecimento e uma compreensão. Admira-se então o ser humano quando aí encontra lacunas, depara com contradições e não consegue introduzir lógica nenhuma.
O livre-arbítrio, que sozinho atua tão incisivamente na verdadeira vida, de modo que se estende até longe no mundo do Além, que imprime seu cunho à alma, sendo capaz de moldá-la, é de espécie totalmente diferente. Muito maior para ser tão terrenal. Por isso não está em nenhuma ligação com o corpo terreno de matéria grosseira, portanto, também não com o cérebro. Encontra-se exclusivamente no próprio espírito, na alma do ser humano.
Se o ser humano não concedesse ao intelecto, sempre de novo, a soberania ilimitada, poderia o livre-arbítrio, com a visão mais ampla de seu verdadeiro “eu” espiritual, indicar ao cérebro do intelecto a direção, oriunda da fina intuição. Por esse motivo, a vontade atada, que é absolutamente necessária para a realização de todas as finalidades terrenas, ligadas a espaço e tempo, teria então de enveredar muitas vezes por outro caminho, diferente do que acontece agora. Que com isso também o destino toma outro rumo é fácil de se explicar, porque o carma, devido aos diferentes caminhos tomados, também ata outros fios, trazendo outro efeito recíproco.
Essa explicação, naturalmente, ainda não pode trazer uma compreensão correta sobre o livre-arbítrio. Para que seja traçado um quadro completo disso, é necessário saber de que forma o livre-arbítrio já tem atuado. E de que maneira ocorreu a trama tantas vezes intrincada de um carma já vigente, que é capaz de, em seus efeitos, encobrir o livre-arbítrio de tal forma, que a sua existência mal ou de forma alguma pode ainda ser reconhecida.
Tal explicação, porém, somente poderá ser dada, por sua vez, se for recorrido ao processo evolutivo completo do ser humano espiritual, a fim de partir daquele momento em que a semente espiritual do ser humano mergulha pela primeira vez no invólucro de matéria fina, no limite extremo da materialidade. —
Vemos então que o ser humano não é absolutamente o que cuida ser. Nunca tem no bolso o direito absoluto à bem-aventurança e à continuação eterna de uma vida pessoal. *(Dissertação Nº 20: O Juízo Final) A expressão: “Somos todos filhos de Deus”, no sentido interpretado ou imaginado pelos seres humanos, é errada! Nemtodo ser humano é um filho de Deus, mas só quando para tanto tenha se desenvolvido.
O ser humano é lançado na Criação como um gérmen espiritual. Esse gérmen contém em si tudo para poder se transformar em um filho de Deus, pessoalmente consciente. Aí, porém, é pressuposto que para tanto ele desenvolva as correspondentes faculdades e cuide delas, sem deixar que se atrofiem.
Grande e poderoso é o processo, e, todavia, inteiramente natural em cada etapa do fenômeno. Nada se encontra aí fora de uma evolução lógica; porque a lógica está em todo o atuar divino, por ser este perfeito e tudo quanto é perfeito não pode dispensar a lógica. Cada um desses germens espirituais contém as mesmas faculdades em si, visto que promanam de um só espírito, e cada uma dessas faculdades individuais encerra uma promessa, cujo cumprimento realiza-se incondicionalmente, tão logo a faculdade seja levada ao desenvolvimento. Mas também somente então! Essa é a perspectiva de cada gérmen na semeadura. No entanto...!
Saiu um semeador para semear: lá onde o divinal, o eterno, paira sobre a Criação, e onde o mais etéreo da matéria fina da Criação toca a entealidade, é o campo para a semeadura dos germens espirituais humanos. Pequenas fagulhas saem do enteal transpondo o limite e afundam no solo virgem da parte fino-material da Criação, tal como nas descargas elétricas de um temporal. É como se a mão criadora do Espírito Santo disseminasse sementes na materialidade.
Enquanto a semeadura se desenvolve e vagarosamente amadurece para a safra, muitos grãos se perdem. Não vingam, isto é, não desenvolveram suas faculdades mais elevadas, mas apodreceram ou secaram e devem perder-se na matéria. Aqueles, porém, que vingaram e sobressaem do solo, serão examinados rigorosamente por ocasião da colheita, as espigas vazias separadas das espigas cheias. Após a colheita, o joio será mais uma vez separado cuidadosamente do trigo.
Assim é a imagem do processo em geral. E agora, a fim de conhecermos o livre-arbítrio, temos de acompanhar mais detalhadamente o processo evolutivo propriamente dito do ser humano:
Como o mais elevado, o mais puro, é, em seu esplendor, o eterno, o divinal, o ponto de partida de tudo, o início e o fim, rodeado pelo luminoso enteal.
Quando então centelhas do enteal saltam para o campo da extremidade fino-material da Criação material, fecha-se instantaneamente em redor dessa centelha um invólucro gasoso de idêntica espécie de matéria dessa mais delicada região da materialidade. Com isso, o gérmen espiritual do ser humano entrou na Criação, a qual, como tudo o que é matéria, está sujeita a alterações e à decomposição. Ele ainda está livre de carma e espera as coisas que deverão vir.
Até a essas mais extremas ramificações chegam então as vibrações das fortes vivências que se processam incessantemente no meio da Criação em todo o formar e decompor.
Ainda que se trate dos mais delicados vislumbres que atravessam essa matéria fina gasosa como um sopro, são, pois, suficientes para despertar a vontade sensível no gérmen espiritual e chamar-lhe a atenção. Ele quer “provar” esta ou aquela vibração e segui-la ou, caso se queira expressar de outra forma, deixar-se levar por ela, o que equivale a um deixar-se atrair. Nisso, há a primeira decisão do gérmen espiritual multiplamente dotado e que doravante será, segundo a sua escolha, atraído para aqui ou acolá. Aí também já se vão atando os primeiros fios mais delicados do tecido que mais tarde constituirá o seu tapete de vida.
Agora, no entanto, poderá esse gérmen, que se desenvolve rapidamente, utilizar-se de cada momento para entregar-se às vibrações de outras espécies que cruzam de modo permanente e múltiplo o seu caminho. Tão logo o realize, isto é, o deseje, modificará assim sua direção, seguindo a espécie recém-escolhida ou, expresso de outra forma, deixando-se arrastar por ela.
Através de seu desejo ele pode mudar, como por meio de um leme, o curso nas correntezas, tão logo uma delas não mais lhe agrade. Assim consegue “provar” aqui e acolá.
Nesse provar ele amadurece mais e mais, recebe lentamente a faculdade de discernir e por fim a capacidade de julgar, até que finalmente, tornando-se cada vez mais consciente e seguro, segue numa determinada direção. Sua escolha das vibrações, as quais está disposto a seguir, não fica aí sem um efeito mais profundo sobre ele próprio. É apenas uma conseqüência muito natural que essas vibrações, nas quais ele, devido à sua livre vontade, por assim dizer, flutua, influenciem na reciprocidade o gérmen espiritual de acordo com sua espécie.
Mas o próprio gérmen espiritual, no entanto, possui em si apenas qualidades nobres e puras! Esse é o dote com que deve “vicejar” na Criação. Se ele se entregar a vibrações nobres, estas, na lei da reciprocidade, vivificarão, despertarão, fortalecerão e desenvolverão as propriedades latentes no gérmen, de modo que estas com o tempo produzem juros abundantes e distribuem grandes bênçãos na Criação. Um ser humano espiritual que dessa forma se desenvolve tornar-se-á com isso um bom administrador.
Mas, se ele se decidir predominantemente por vibrações baixas, estas podem com o tempo influenciá-lo tão fortemente que a espécie delas fica aderida a ele, cobrindo e sufocando as próprias faculdades puras do gérmen espiritual, não deixando que cheguem a um verdadeiro despertar e florescer. Estas têm, por fim, de ser consideradas como de fato “enterradas”, pelo que o respectivo ser humano tornar-se-á um mau administrador do dote a ele confiado.
Um gérmen espiritual não consegue, portanto, ser por si originariamente impuro, porque provém daquilo que é puro e traz apenas pureza em si. Pode, contudo, depois de seu mergulho na materialidade, conspurcar seu invólucro igualmente material pelo “provar” de vibrações impuras de acordo com a própria vontade, isto é, por meio de tentações, pode até com isso adquirir anímica e exteriormente coisas impuras, por fortes sufocações daquilo que é nobre, com o que ele então recebe características impuras, em contraste às capacidades inerentes e herdadas pelo espírito. A alma é somente o invólucro fino-material mais etéreo, gasoso, do espírito, e somente existente na Criação material. Após um eventual retorno para o puro espírito-enteal, situado mais acima, a alma é deixada para trás e só existe ainda o espírito, que de outra forma nem poderia ultrapassar o limite da Criação material para regressar ao espiritual. O seu regresso, seu retorno, no entanto, acontece então de forma viva, consciente, enquanto que a centelha que partiu ainda não o era no início.
Cada culpa e todo o carma é apenas de ordem material! Somente dentro do âmbito da Criação material, não diferentemente! Também não pode se transferir para o espírito, mas somente se aderir a ele. Razão pela qual é possível um lavar-se de toda a culpa.
Esse reconhecimento nada derruba, mas apenas confirma tudo o que a religião e a Igreja dizem figuradamente. Sobretudo, reconhecemos sempre mais e mais a grande Verdade que Cristo trouxe à humanidade.
É também evidente que um gérmen espiritual, que se sobrecarregou de coisas impuras na materialidade, não pode mais voltar novamente com essa carga para o espiritual, mas deverá permanecer na matéria até que tenha se desprendido desse fardo e podido livrar-se dele. Terá assim, naturalmente, de permanecer sempre na região para a qual o peso de sua carga o obriga, sendo para isso fator determinante o maior ou menor grau de impureza. Caso não consiga libertar-se e lançar fora o fardo até o dia do Juízo, não conseguirá ascender, apesar da sempre permanecente pureza do gérmen espiritual, que, aliás, pela sobrepujança das coisas impuras, não pôde desenvolver correspondentemente suas reais capacidades. O impuro, pelo seu peso, retém-no e arrasta-o junto para a decomposição de tudo quanto é material. *(Dissertação Nº 20: O Juízo Final)
Quanto mais consciente se torna então um gérmen espiritual em seu desenvolvimento, tanto mais o invólucro exterior irá se amoldando às características interiores. Ou aspirará ao que é nobre ou ao que é vil, isto é, ao belo ou ao feio.
Cada mudança de direção, que ele fizer, formará um nó nos fios, que ele vai arrastando atrás de si, que, em muitos caminhos errados, em muitas idas e vindas, podem vir a formar numerosas meadas como numa rede, na qual ele se emaranha, pelo que ou nela afunda, porque o retém, ou terá de se libertar violentamente. As vibrações às quais ele se entregou, provando ou usufruindo durante seus percursos, ficam ligadas a ele e arrastam-se atrás dele como fios, transmitindo-lhe, porém, também dessa forma, ininterruptamente, sua espécie de vibrações. Se ele então mantiver por longo tempo a mesma direção, assim os fios anteriores que se encontram mais longe, bem como os que estão mais perto, poderão atuar com intensidade não diminuída. Caso, porém, mude de rumo, as vibrações anteriores pouco a pouco irão se enfraquecendo em sua influência, por causa desse cruzamento, pois terão de passar primeiro por um nó que atua sobre elas de modo embaraçador, porque o enlaçamento em si já constitui uma ligação e fusão com a nova e diferente direção. A nova direção então resultante continua atuando em sua espécie diferente sobre a anterior, desagregando e dissolvendo, caso não pertença a uma espécie semelhante à primeira. E assim segue sucessivamente. Os fios vão se tornando mais espessos e mais fortes com o crescimento do gérmen espiritual, formando o carma, cujo efeito ulterior pode, por fim, adquirir tanto poder, que associa ao espírito este ou aquele “pendor”, que finalmente é capaz de prejudicar suas livres decisões, dando-lhes uma direção já antes estimável. Com isso o livre-arbítrio está então obscurecido, não pode mais atuar como tal.
Desde o início, portanto, existe o livre-arbítrio, só que muitos arbítrios estão mais tarde de tal forma sobrecarregados, que são fortemente influenciados pela maneira já mencionada, não podendo mais ser, portanto, nenhum livre-arbítrio.
O gérmen do espírito, que dessa forma vai se desenvolvendo mais e mais, deve, pois, ir se aproximando cada vez mais da Terra, visto que dela partem as vibrações de modo mais forte e ele, direcionando de forma cada vez mais consciente, segue-as, ou, melhor dito, deixa-se “atrair” por elas, a fim de poder provar cada vez mais intensamente as espécies escolhidas segundo a sua inclinação. Quer passar do petiscar para o real “provar” e, daí, para o “desfrutar”.
As vibrações oriundas da Terra são por isso tão fortes, porque aqui sobrevém algo de novo, muito revigorante: a força sexual corporal da matéria grosseira! *(Dissertação Nº 62: A força sexual em sua significação para a ascensão espiritual)
Essa tem a finalidade e a capacidade de “incandescer” toda a intuição espiritual. O espírito somente assim obtém correta ligação com a Criação material e pode por isso, só então, nela tornar-se ativo com pleno vigor. Abrange então tudo quanto é necessário para se fazer valer plenamente na materialidade, a fim de firmar-se nela em todos os sentidos, podendo atuar de maneira penetrante e dominadora, estando armado contra tudo e também protegido de tudo.
Daí as colossais ondas de força que emanam do vivenciar que se processa através dos seres humanos na Terra. Alcançam, no entanto, sempre apenas tão longe quanto a Criação material, contudo, nela vibrando até as ramificações mais delicadas.
Uma pessoa na Terra que fosse espiritualmente elevada e nobre, e que por isso viesse com elevado amor espiritual a seus próximos, permanecer-lhes-ia estranha, não podendo aproximar-se interiormente, tão logo fosse excluída sua força sexual. Assim, faltaria uma ponte para o entendimento e para o intuir anímico, existiria conseqüentemente um abismo.
No momento, porém, em que tal amor espiritual entra em pura ligação com a força sexual, e torna-se incandescido por esta, o fluxo para toda a materialidade recebe uma vida muito diferente, torna-se nisso terrenalmente mais real e consegue assim atuar sobre os seres humanos terrenos e sobre toda a materialidade de modo pleno e compreensível. Só assim ele é assimilado e compreendido por esta e pode trazer aquela bênção à Criação, que o espírito do ser humano deve trazer.
Há algo gigantesco nessa ligação. Esse é também o objetivo propriamente dito, pelo menos a finalidade principal, desse imensurável impulso natural, para tantos enigmático, a fim de deixar o espiritual desenvolver-se na materialidade até a plena força de atuação! Sem isso ele permaneceria demasiado estranho à materialidade, para poder manifestar-se direito. A finalidade procriadora só vem em segundo lugar. O fato principal é o impulso para cima que resulta dessa ligação no ser humano. Com isso o espírito humano também recebe sua força plena, seu calor e sua vitalidade, fica, por assim dizer, pronto com este processo. Por isso principia aqui, mas também somente agora, a sua plena responsabilidade!
A sábia justiça de Deus outorga ao ser humano, porém, nesse importante ponto de transição, também simultaneamente, não somente a possibilidade, mas sim até o impulso natural para desembaraçar-se facilmente de todo o carma com que até então sobrecarregou seu livre-arbítrio. Dessa forma, o ser humano consegue outra vez libertar o arbítrio completamente, para então, estando conscientemente de modo poderoso na Criação, tornar-se um filho de Deus, atuar no Seu sentido e subir às alturas em puras e elevadas intuições, para onde mais tarde será atraído, quando tiver deixado seu corpo de matéria grosseira.
Se o ser humano não fizer isso, a culpa é dele; pois com a entrada da força sexual manifesta-se nele, de modo preponderante, um impulso poderoso para cima, para o que é ideal, belo e puro. Isso sempre pode ser observado nitidamente na juventude incorrupta de ambos os sexos. Daí os entusiasmos dos anos da mocidade, infelizmente muitas vezes ridicularizados pelos adultos, e que não devem ser confundidos com os dos anos da infância. Por isso também nesses anos as intuições inexplicáveis, levemente melancólicas e com um ar de seriedade. Não são infundadas as horas em que parece que um moço ou uma jovem teria de carregar toda a dor do mundo, quando lhe surgem pressentimentos de uma profunda seriedade. Também o não se sentir compreendido, que tão freqüentemente ocorre, contém em si, na realidade, muito de verdadeiro. É o reconhecimento temporário da conformação errada do mundo em redor, o qual não quer nem pode compreender o sagrado início de um vôo puro às alturas, e só fica satisfeito quando essa tão forte intuição exortadora nas almas em amadurecimento é arrastada para baixo, para o “mais real” e sensato, que lhe é mais compreensível e que considera mais adequado à humanidade, julgando, em seu sentido intelectual unilateral, como o único normal.
Não obstante isso, existem inúmeros materialistas inveterados que, em idêntica época de sua vida, intuíram da mesma forma como uma severa advertência e que, aqui e acolá, falam prazerosamente do tempo áureo do primeiro amor com um leve acesso de certa sensibilidade, até de melancolia, que expressa inconscientemente certa dor sobre algo perdido, que não é possível descrever mais pormenorizadamente. E nisso todos eles têm razão! O mais precioso foi lhes tomado, ou eles próprios jogaram-no fora levianamente, quando, no cinzento dia-a-dia do trabalho, ou sob o sarcasmo dos assim chamados “amigos” e “amigas”, ou por meio de maus livros e exemplos, enterraram timidamente a jóia, cujo brilho, não obstante, irrompe novamente durante sua vida posterior, uma vez aqui e acolá, deixando aí num instante bater mais alto o coração insatisfeito, num inexplicável tremor de uma enigmática tristeza e saudade.
Mesmo que tais intuições sejam sempre de novo recalcadas e ridicularizadas rapidamente em amargo auto-escarnecimento, comprovam ainda assim a existência desse tesouro, e felizmente poucos são aqueles que podem afirmar nunca terem tido tais intuições. E esses também apenas seriam dignos de lástima; pois nunca viveram.
Mas mesmo tais corrompidos, ou digamos dignos de lástima, sentem então uma saudade, quando se lhes dá o ensejo de encontrar uma pessoa que utiliza essa força propulsora com disposição correta, e que, portanto, assim se tornou pura e já se encontra na Terra interiormente elevada. O efeito de semelhante saudade em tais pessoas é, porém, na maioria das vezes, primeiramente o reconhecimento involuntário da própria baixeza e negligência, que acaba transformando-se então em ódio, que pode chegar até a uma cólera cega. Não é raro também acontecer que uma pessoa perceptivelmente já animicamente elevada atraia sobre si o ódio de massas inteiras, sem que ela própria realmente tivesse dado motivo reconhecível externamente para tanto. Tais massas então não sabem outra coisa senão bradar: “crucificai-o, crucificai-o!”. Daí o grande número de mártires que a história da humanidade tem registrado.
A causa é a dor feroz de ver em outros algo precioso, que eles próprios perderam. Uma dor que só reconhecem como ódio. Em pessoas com maior calor interior, que foram retidas ou arrastadas para a imundície apenas devido a maus exemplos, a saudade daquilo que propriamente não foi conseguido provoca, num encontro com uma pessoa interiormente elevada, muitas vezes também ilimitado amor e veneração. Para onde quer que se dirija tal pessoa, há sempre apenas um pró ou um contra em torno dela. Indiferença não consegue resistir.
A graça misteriosamente irradiante duma jovem incorrupta ou dum moço incorrupto outra coisa não é senão o impulso puro da força sexual que desperta em união com a força espiritual para coisas mais elevadas e mais nobres, intuído conjuntamente pelo seu ambiente devido às fortes vibrações! Zelosamente, cuidou o Criador de que isso só sucedesse ao ser humano numa idade em que pudesse tornar-se plenamente consciente de sua vontade e de seus atos. Então é chegado o tempo no qual ele pode e deveria desembaraçar-se, como que brincando, de tudo quanto pertence ao passado, em ligação com a força plena nele agora existente. Cairia até por si, caso o ser humano mantivesse sua vontade pelo bem, ao que nessa época sente-se impulsionado sem cessar. Poderia, então, como as intuições mui acertadamente indicam, escalar sem esforço àquele degrau ao qual ele, como ser humano, pertence! Vede a atitude sonhadora da mocidade incorrupta! Nada mais é senão a intuição do impulso para cima, a vontade de libertar-se de toda a imundície, o anseio ardente pelo que é ideal. A inquietação impulsionadora, porém, é o sinal para não perder o tempo, mas desembaraçar-se energicamente do carma e iniciar a escalada do espírito.
Por isso a grande importância, o grande ponto de transição que a Terra é para a criatura humana!
É algo de esplêndido encontrar-se nessa força concentrada, atuar nela e com ela! Isso, enquanto a direção que o ser humano escolheu for boa. Mas também não existe nada mais miserável do que malbaratar essas energias unilateralmente em cega embriaguez dos sentidos e assim vir a paralisar seu espírito, privando-o de uma grande parte do impulso de que tanto necessita para chegar às alturas.
E, no entanto, o ser humano, na maioria dos casos, perde essa preciosa época transitória, deixando-se guiar pelo ambiente “entendido” para caminhos errados, os quais o retêm e, infelizmente, com demasiada freqüência até o conduzem para baixo. Devido a isso não consegue libertar-se das turvas vibrações nele aderentes, as quais, pelo contrário, recebem apenas novo suprimento de forças e, assim, envolvem mais e mais o seu livre-arbítrio, até que ele não consegue mais reconhecê-lo.
Assim acontece na primeira encarnação na Terra. Nas seguintes encarnações, que se fazem necessárias, o ser humano trará consigo um carma muito mais pesado. A possibilidade de desvencilhamento, porém, apresenta-se, apesar disso, sempre de novo, e nenhum carma poderia ser mais forte do que o espírito do ser humano ao chegar na plenitude do seu vigor, tão logo receba através da força sexual a ligação sem lacunas com a materialidade, à qual, sim, o carma pertence.
Se, porém, o ser humano desperdiçou essas épocas para desvencilhar-se do seu carma e para a recuperação a isso ligada de seu livre-arbítrio, tendo se emaranhado mais ainda, tendo talvez até caído profundamente, apesar disso, ainda se oferece a ele um poderoso aliado para o combate do carma e para a ascensão. O maior vencedor que há, capaz de tudo sobrepujar. A sabedoria do Criador dispôs as coisas na materialidade de tal maneira, que os períodos mencionados não são os únicos em que o ser humano pode encontrar a possibilidade de auxílio rápido, nos quais ele consegue encontrar a si mesmo, bem como o seu real valor, recebe até para tanto um impulso extraordinariamente forte, a fim de que atente a isso.
Esse poder mágico, que está à disposição de cada ser humano durante toda sua existência terrena, em constante prontidão de auxílio, mas que também se origina da mesma união da força sexual com a força espiritual, podendo provocar a eliminação do carma, é o amor! Não o amor cobiçoso da matéria grosseira, mas o elevado e puro amor que outra coisa não conhece nem deseja senão o bem da pessoa amada, que nunca pensa em si próprio. Ele pertence também à Criação material e não exige renúncia nem penitencialismo, mas quer sempre apenas o melhor para o outro, preocupa-se com ele, sofre com ele, mas divide também com ele as alegrias.
Como base, tem ele as intuições semelhantes de anseio pelo ideal da juventude incorrupta no irromper da força sexual, mas também estimula o ser humano responsável, isto é, maduro, para a força plena de toda a sua capacidade, até ao heroísmo, de modo que a força produtiva e combativa seja concentrada à máxima intensidade. Aqui, em relação à idade, não são postos limites! Tão logo uma pessoa dê guarida ao amor puro, seja o de um homem por uma mulher ou vice-versa, ou por um amigo, ou por uma amiga, ou pelos pais, pelos filhos, não importa, se este apenas for puro, trará como primeira dádiva a oportunidade para livrar-se de todo o carma, que então apenas é remido ainda de forma puramente “simbólica”, *(Dissertação Nº 37: Simbolismo no destino humano) para o desabrochar do livre e consciente arbítrio, que  pode ser dirigido para cima. Como conseqüência natural, inicia-se então a escalada, o resgate das cadeias indignas que a retêm.
A primeira intuição que se manifesta quando desperta o amor puro é o julgar-se indigno diante do ser querido. Com outras palavras, pode-se descrever esse fenômeno como o princípio da modéstia e da humildade, portanto, o recebimento de duas grandes virtudes. A seguir, junta-se a isso o impulso de querer manter a mão sobre o outro, protetoramente, a fim de que não lhe aconteça mal algum de nenhum lado, mas sim que seu caminho o conduza por veredas floridas e ensolaradas. O “querer trazer nas palmas das mãos” não é um ditado oco, mas sim caracteriza mui acertadamente a intuição que brota. Nisso, porém, encontra-se uma abdicação da própria personalidade, uma grande vontade de servir, o que, por si só, poderia bastar para eliminar em pouco tempo todo o carma, tão logo essa vontade perdure e não dê lugar a impulsos puramente sensuais. Por último, manifesta-se ainda, no amor puro, o desejo ardente de poder fazer algo bem grande para o outro ser querido, no sentido nobre, de não o ofender ou ferir com nenhum gesto, nenhum pensamento, nenhuma palavra, muito menos ainda com uma ação feia. Torna-se viva a mais delicada consideração.
Trata-se, então, de segurar essas puras intuições e colocá-las acima de tudo o mais. Nunca alguém, então, quererá ou fará algo de mal. Simplesmente não o consegue, mas sim, pelo contrário, tem nisso a melhor proteção, a maior força, o mais bem-intencionado conselheiro e auxiliador.
Por esse motivo também Cristo, sempre de novo, indica para a onipotência do amor! Somente ele tudo sobrepuja, tudo consegue. Todavia, pressupondo sempre que não se trate apenas do amor terreno e cobiçoso, que contém em si o ciúme e seus vícios análogos.
O Criador, em Sua sabedoria, lançou com isso uma bóia de salvação na Criação, que não somente uma vez na vida terrena toca em cada criatura humana, a fim de que nela se segure e por ela se alce!
Esse auxílio está à disposição de todos. Não faz nenhuma diferença, nem na idade nem no sexo, nem no pobre nem no rico, tampouco no nobre ou humilde. Por essa razão, o amor é também a maior dádiva de Deus! Quem compreende isso, esse está certo da salvação de todas as vicissitudes e de todas as profundezas! Liberta-se, recupera assim de modo mais fácil e mais rápido um límpido livre-arbítrio, que o conduz para cima.
E mesmo que se encontre numa profundidade, que deve levá-lo ao desespero, o amor é capaz de arrancá-lo com o ímpeto de um furacão para cima, ao encontro da Luz, de Deus, que é o próprio amor. Tão logo numa pessoa desperte um amor puro mediante qualquer impulso, tem ela também a mais direta ligação com Deus, a fonte primordial de todo o amor, e com isso também o mais forte auxílio. Mas se um ser humano possuísse tudo e não tivesse o amor, só seria um metal soante ou um chocalho tilintante, isto é, sem calor, sem vida... nada!
Se vier a sentir, no entanto, amor verdadeiro por qualquer um de seus semelhantes, o qual só se esforça para dar à pessoa amada luz e alegria, não a degradar mediante cobiças insensatas, mas sim soerguê-la protegendo, então ele serve a ela, sem se tornar consciente do servir, propriamente, visto que assim se torna um desinteressado doador e presenteador. E esse servir liberta-o!
Muitos dirão para si mesmos: Eis exatamente isso que eu faço, ou pelo menos já me esforço! Procuro por todos os meios tornar fácil a vida terrena de minha mulher ou família, proporcionar-lhes prazeres, empenhando-me em conseguir tantos meios para que possam ter uma vida cômoda, agradável e livre de preocupações. Milhares baterão no peito, sentindo-se elevados e julgando-se por demais bons e nobres. Enganam-se! Esse não é o amor vivo! Este não é tão unilateralmente terreno, mas impulsiona ao mesmo tempo muito mais fortemente para o que é mais elevado, mais nobre e ideal. Claro é que ninguém deve impunemente, isto é, sem conseqüências prejudiciais, descuidar-se das necessidades terrenas, não deve negligenciá-las, mas estas não devem constituir a finalidade principal do pensar e do atuar. Acima disso paira, de modo imenso e forte, o desejar, tão misterioso para muitos, de poder ser, realmente, perante si mesmos, aquilo que valem perante aqueles pelos quais são amados. E esse desejar é o caminho certo! Ele conduz sempre somente para o alto.
O amor verdadeiro e puro não necessita ser esclarecido ainda mais detalhadamente. Cada ser humano sente perfeitamente como ele é constituído. Procura apenas enganar-se com freqüência a tal respeito, quando vê aí os seus erros e intui de modo claro quão longe se encontra ainda realmente de amar de modo verdadeiro e puro. Mas ele deve então se animar, não pode parar hesitantemente e chegar por fim a falhar; pois para ele não existe mais um livre-arbítrio sem o verdadeiro amor!
Quantos ensejos são, portanto, proporcionados ao ser humano, a fim de se animarem e se lançarem rumo ao alto, sem que os aproveitem. Por isso, na maioria, suas lamúrias e buscas não são legítimas! Nem querem, tão logo eles próprios tenham de contribuir com algo, mesmo que seja apenas uma pequena modificação de seus hábitos e opiniões. Na maior parte é mentira, auto-ilusão! Deus é que deve vir até eles e soerguê-los para Si, sem que precisem renunciar à tão querida comodidade e à sua auto-adoração. Então, também, consentiriam em acompanhar, mas não sem esperar para tanto ainda um agradecimento todo especial de Deus.
Deixai que tais zangões sigam seu caminho para a ruína! Não merecem que alguém se esforce por eles. Deixarão passar sempre de novo, queixando-se e rezando, as oportunidades que se oferecem. Se uma tal pessoa, no entanto, se aproveitasse delas uma vez, então certamente iria privá-las de seu mais distinto adorno, da pureza e altruísmo, para arrastar este preciosíssimo bem à lama das paixões.
Pesquisadores e sábios devem finalmente se animar e se desviar dessas pessoas! Não devem pensar que estão fazendo obra agradável a Deus, quando oferecem continuamente a Sua Palavra e a Sua vontade sagrada como mercadoria barata e por meio de tentativas de ensinamentos, dando assim quase a aparência de que o Criador precisaria mendigar por intermédio de Seus fiéis para ampliar o círculo dos adeptos. É uma conspurcação, se for oferecida a esses que com as mãos imundas agarram-na. Não se deve esquecer a sentença que proíbe “atirar pérolas aos porcos”.
E outra coisa não se dá em tais casos. Desnecessário desperdício de tempo, que em tal medida não deve ser mais esbanjado, sem que, por fim, na ação retroativa, se torne prejudicial. Só devem ser ajudados aqueles que procuram.
A inquietação que por toda parte surge em muitas pessoas, o pesquisar e o procurar pelo paradeiro do livre-arbítrio são perfeitamente justificados e constituem um sinal de que não há tempo a perder. Reforça-se este fato com o pressentimento inconsciente de um possível tarde demais para tal. Isso mantém agora o pesquisar constantemente vivo. Mas é em grande parte inútil. Os seres humanos de hoje, em sua maior parte, não conseguem mais ativar o livre-arbítrio, porque se embaraçaram demasiadamente!
Venderam-no e mercadejaram-no... por nada!
Quanto a isso não poderão responsabilizar Deus, como se tenta fazer sempre de novo tão freqüentemente, mediante toda a sorte de interpretações, para se eximirem do pensamento duma responsabilidade própria que os aguarda, mas terão de acusar a si mesmos. E mesmo que tal auto-acusação fosse perpassada da mais acerba amargura e da mais profunda dor, ainda assim não seria suficientemente forte para dar uma relativa compensação pelo valor do bem perdido, que foi insensatamente calcado ou desperdiçado.
Não obstante isso, o ser humano ainda pode encontrar o caminho para conquistá-lo novamente, tão logo se esforce seriamente nesse sentido. No entanto, sempre apenas quando ele o desejar do mais fundo do seu íntimo. Se esse desejo realmente viver nele e jamais enfraquecer. Deve trazer o mais ardente anseio para tanto. E mesmo que devesse empenhar nisso toda a sua existência terrena, só teria o que ganhar com isso; pois extremamente séria e necessária para o ser humano é a recuperação do livre-arbítrio! Podemos em lugar de recuperação dizer desenterramento, ou purificação libertadora. Vem a dar exatamente no mesmo.
Enquanto, porém, o ser humano só pensar e cismar a tal respeito, não conseguirá nada. O maior esforço e pertinácia têm de falhar aí, visto que através de pensamentos e cismas não conseguirá nunca ultrapassar os limites de tempo e espaço, isto é, jamais chegará até onde se encontra a solução. E como atualmente o pensar e o cismar têm sido considerados como o principal caminho para todo o pesquisar, não existe, também, nenhuma perspectiva de que se possa esperar um progresso além das coisas puramente terrenas. A não ser que os seres humanos se modifiquem nisso fundamentalmente.
Aproveitai o tempo da existência terrena! Pensai no grande ponto de transição que sempre traz consigo a plena responsabilidade!
Por esse motivo, uma criança ainda não se encontra espiritualmente capacitada, porque a ligação entre o espiritual e o material ainda não se efetuou nela através da força sexual. Só no momento da entrada de tal força é que suas intuições adquirirão aquele vigor capaz de perpassar de modo incisivo a Criação material, transformando-a e remodelando-a, com o que assumirá, de modo espontâneo, plena e inteira responsabilidade. Antes, os efeitos retroativos também não são tão fortes, porque a capacidade de intuição atua de modo muito mais fraco. Por isso, na primeira encarnação *(Entrada do ser humano na existência terrena) na Terra, um carma não pode ser tão pesado, mas, quando muito, pode influir na ocasião do nascimento, determinando o ambiente em que o nascimento se dá, a fim de que ajude o espírito, durante a vida terrena, a libertar-se do carma mediante o reconhecimento de suas propriedades específicas. Os pontos de atração das espécies iguais representariam aí um papel predominante. Tudo, porém, apenas em sentido fraco. O carma, propriamente dito, potente e incisivo, só se inicia quando no ser humano a força sexual se liga à sua força espiritual, pelo que ele se torna na matéria não apenas de pleno valor, mas pode, em todos os sentidos, sobrepujá-la amplamente, caso se sintonizar correspondentemente.
Até aí também as trevas, o mal, não conseguem chegar diretamente ao ser humano. Disso uma criança se acha protegida pela falta de ligação com o material. Como que separada. Falta a ponte.
Por isso, a muitos ouvintes tornar-se-á também mais compreensível por que as crianças gozam de uma proteção muito maior contra o mal, o que já é proverbial. Pelo mesmo caminho, porém, que forma a ponte para a força sexual que se inicia, e sobre a qual o ser humano pode andar lutando em seu pleno vigor, pode lhe chegar naturalmente também tudo o mais, se não estiver suficientemente vigilante. Mas em caso algum isso pode acontecer antes que possua também a necessária força defensiva. Não existe em momento algum uma desigualdade que permita surgir uma desculpa.
Por essa razão, a responsabilidade dos pais assume proporções gigantescas! Ai daqueles que privam os próprios filhos da oportunidade de se desembaraçar de seu carma e de ascender, quer por zombarias inoportunas, quer por educação errônea, se não até por maus exemplos, aos quais pertencem também as ambições exageradas nos mais variados setores. As tentações da vida terrena, já por si só, atraem neste ou naquele sentido. E por não ser explicada aos adolescentes a sua real posição de poder, ou eles nem aplicam a sua força ou aplicam-na de modo insuficiente, ou desperdiçam-na da maneira mais irresponsável, quando não fazem dela até uso errado e mau.
Assim, na ignorância, inicia-se, pois, o inevitável carma com ímpeto cada vez maior, lança adiante, influenciando, as suas irradiações através de algum pendor para isto ou aquilo, e restringe com isso o livre-arbítrio propriamente dito nas decisões, de modo que ele não é mais livre. Decorreu disso também o fato de a maioria da humanidade, hoje em dia, não mais poder ativar livre-arbítrio algum. Ela se atou, acorrentou, escravizou-se por própria culpa. Quão pueris e indignos se mostram os seres humanos, quando procuram repelir o pensamento duma responsabilidade incondicional, preferindo nisso lançar ao Criador uma censura de injustiça! Quão ridículo soa o pretexto de que até nem teriam nenhum livre-arbítrio próprio, mas seriam conduzidos, empurrados, aplainados e modelados, sem poder fazer algo contra isso.
Se ao menos por um momento quisessem conscientizar-se do mísero papel que representam realmente com tal comportamento. Se, antes de tudo o mais, finalmente quisessem se examinar de forma verdadeiramente crítica em relação à posição de poder que lhes foi concedida, a fim de reconhecer como eles a desperdiçam, irrefletidamente, em ninharias e futilidades transitórias, como, em troca, elevam bagatelas a uma posição de importância desprezível, sentem-se grandes em coisas nas quais, no entanto, têm de parecer tão pequenos em relação à sua destinação real como seres humanos na Criação. O ser humano de hoje é como um homem ao qual foi dado um reino e que prefere perder seu tempo com os mais simples brinquedos infantis!
É apenas evidente, e não de se esperar diferentemente, que as forças poderosas concedidas ao ser humano devam esmagá-lo, se não souber guiá-las.
É chegado o último momento para finalmente despertar! Devia o ser humano aproveitar plenamente o tempo e a graça que lhe são presenteados com cada vida terrena. Ainda não pressente quão indispensável isso já é. No momento em que vier a libertar novamente o arbítrio, que atualmente se acha preso, servi-lo-á tudo o que agora parece muitas vezes estar contra ele. Mesmo as irradiações dos astros, temidas por tantos, só existem para servi-lo e auxiliá-lo. Pouco importa de que natureza sejam.
E cada qual o consegue, mesmo que o carma ainda penda pesadamente nele! Mesmo que as irradiações dos astros pareçam ser predominantemente desfavoráveis. Tudo isso se efetua de modo pernicioso somente no caso de um arbítrio atado. Mas também aí apenas aparentemente; porque, na realidade, ainda assim será para o seu bem, se não souber mais ajudar a si mesmo de outra maneira. Desse modo será forçado a defender-se, a acordar e a estar alerta.
O medo das irradiações dos astros não é, contudo, apropriado, porque os fenômenos colaterais que aí se efetivam são sempre apenas os fios do carma, que está atuando para a respectiva pessoa. As irradiações dos astros constituem apenas canais, para os quais é conduzido todo o carma que, na ocasião, encontra-se suspenso para uma pessoa, até o ponto em que este, em sua espécie, corresponda às respectivas irradiações de igual espécie. Se, portanto, as irradiações dos astros são desfavoráveis, então se juntará nesses canais apenas carma suspenso desfavorável para o ser humano, aquilo que corresponde exatamente à espécie das irradiações, nada diferente. Igualmente nos casos de irradiações favoráveis. Guiado assim mais concentradamente, pode também efetivar-se sobre o ser humano sempre de modo mais sensível. Onde, porém, não há carma nocivo, as irradiações desfavoráveis dos astros também não poderão atuar de modo nocivo. Uma coisa não é separável da outra. Também nisso se reconhece mais uma vez o grande amor do Criador. Os astros controlam ou guiam os efeitos do carma. Conseqüentemente, um carma nocivo não pode atuar sem interrupções, mas também de permeio tem de deixar ao ser humano intervalos para tomar alento, porque os astros irradiam alternadamente e, assim, no período de irradiações benignas, o mau carma está impossibilitado de agir! Tem, pois, que interromper e aguardar até que recomecem as irradiações desfavoráveis, não podendo, por conseguinte, oprimir inteiramente uma pessoa tão facilmente. Não havendo, ao lado do carma nocivo da criatura humana, também algum carma benigno que se efetiva através das irradiações favoráveis dos astros, então, pelas irradiações favoráveis, pelo menos se consegue que o sofrimento venha a ter interrupções durante as épocas de irradiações benignas.
Assim se engrenam também aqui, uma na outra, as rodas dos acontecimentos. Uma coisa acarreta a outra, dentro da mais estrita lógica, e controla-a simultaneamente, a fim de que não possam ocorrer irregularidades. E assim prossegue, como num gigantesco conjunto de engrenagens. De todos os lados os dentes das engrenagens se entrosam de forma precisa e exata, movimentando e impulsionando tudo adiante, para o desenvolvimento.
No centro de tudo, porém, encontra-se o ser humano com o incalculável poder que lhe é confiado para dar, por meio de sua vontade, a direção a essa gigantesca engrenagem. No entanto, sempre apenas para si próprio! Poderá levá-lo para cima ou para baixo. Unicamente a sintonização é a determinante para o fim.
Todavia, a engrenagem da Criação não é constituída de material rígido, mas de formas e seres, todos vivos, que, atuando conjuntamente, causam uma impressão ainda mais gigantesca. Todo esse maravilhoso tecer, no entanto, serve apenas para ajudar o ser humano, para servi-lo, enquanto ele não interferir com o poder que lhe foi dado, de modo a embaraçá-lo pelo esbanjamento pueril e aplicação errada. Urge, por fim, que se enquadre diferentemente para tornar-se aquilo que deve ser. Obedecer outra coisa não significa, na realidade, senão compreender! Servir é auxiliar. Auxiliar, porém, significa reinar. Em pouco tempo cada um pode libertar seu arbítrio conforme deve ser. E dessa forma tudo muda para ele, pois ele próprio primeiramente mudou o seu íntimo.
Mas para milhares, centenas de milhares, sim, para milhões de seres humanos tornar-se-á demasiadamente tarde, porque não o querem diferentemente. É apenas natural que a força erradamente dirigida destrua a máquina, força que, de outra forma, teria lhe servido para realizar um trabalho abençoado.
Quando sobrevierem os acontecimentos, todos os hesitantes lembrar-se-ão de novo repentinamente de rezar, porém não poderão encontrar mais a maneira adequada, a qual, unicamente, poderia proporcionar auxílio. Reconhecendo então o falhar, passarão logo, em seu desespero, a blasfemar e a afirmar acusadoramente que não poderia existir um Deus, se Ele permite tais coisas. Não querem acreditar na justiça férrea, tampouco que lhes tenha sido dado o poder de modificar tudo ainda em tempo. E que isso também lhes fora dito com suficiente freqüência.
Mas eles exigem para si, com obstinação pueril, segundo o seu modo, um Deus amoroso que tudo perdoa. Só nisso querem reconhecer a Sua grandeza! Como deveria esse Deus, segundo suas idéias, proceder então com aqueles que sempre O procuraram sinceramente, mas que justamente por causa desse procurar foram pisados, escarnecidos e perseguidos por aqueles que esperam perdão?
Tolos esses que, em sua cegueira e surdez sempre de novo desejadas, correm ao encontro da ruína, eles próprios criam com fervor sua destruição. Que fiquem entregues às trevas, ao encontro das quais se dirigem teimosamente, devido ao tudo saber melhor. Só mesmo mediante o próprio vivenciar é que ainda poderão chegar à reflexão. Por isso também as trevas serão a sua melhor escola. Mas virá o dia, a hora, em que esse caminho também será tarde demais, porque o tempo não será mais suficiente para, após um reconhecimento final pelo vivenciar, ainda se libertarem das trevas e ascenderem. Por esse motivo já é tempo de, finalmente, ocuparem-se seriamente com a Verdade.
Mensagem do Graal de Abdrushin

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Era uma vez.......





 Era uma vez...!

São apenas três palavras, todavia, são como uma fórmula mágica; pois trazem em si a propriedade de despertar em cada ser humano imediatamente alguma intuição fora do comum. Raramente essa intuição é sempre igual. É semelhante ao efeito da música. Tal como a música, estas três palavras também encontram seu caminho diretamente até o espírito do ser humano, seu verdadeiro “eu”. Naturalmente, apenas naqueles, que não mantêm o espírito inteiramente enclausurado e, com isso, já perderam a verdadeira natureza humana aqui na Terra.
Cada pessoa, porém, ante estas palavras, involuntariamente recordar-se-á logo de alguma vivência do passado. Esta se levanta viva diante dela e, com a imagem, também uma intuição correspondente.
Ternura saudosa para uns, felicidade melancólica, também desejos silenciosos irrealizáveis. Para outros, no entanto, orgulho, cólera, horror ou ódio. O ser humano sempre pensa em algo que outrora vivenciou, que lhe produziu uma impressão fora do comum, mas que ele presumia desde muito já extinta dentro de si.
Entretanto, nele nada se apagou, nada ficou perdido daquilo que ele realmente vivenciou outrora. Tudo isso pode chamar ainda de coisa sua, como realmente adquirida e, por conseguinte, imperecível. Mas também somente aquilo que foi vivenciado! Outra coisa não poderá surgir com tais palavras.
O ser humano deve prestar muita atenção nisso, com cuidado e com o sentido alerta, então logo reconhecerá o que está realmente vivo dentro dele e o que pode ser denominado morto, como invólucro sem alma de recordações inúteis.
Finalidade e proveito para o ser humano, onde não devemos considerar o corpo, só tem aquilo que durante sua existência terrena atuou de modo suficientemente profundo, para imprimir na alma uma marca, que não desvanece, que não se deixa apagar novamente. Somente tais marcas têm influência sobre a formação da alma humana e, assim, prosseguindo, também sobre a evolução do espírito em seu constante desenvolvimento.
Na realidade, portanto, só é vivenciado e com isso tornado propriedade, aquilo que deixa uma impressão de tal maneira profunda. Tudo o mais passa sem efeito ou, no máximo, contribui como meio auxiliar para preparar acontecimentos, que são aptos a causar impressões tão grandes.
Feliz daquele que pode denominar tantas e tão fortes vivências como sendo suas, quer tenham sido provocadas por alegria ou dor; pois essas impressões serão um dia o que de mais valioso uma alma humana levará consigo em seu caminho para o Além. —
A atuação puramente terrena do intelecto, conforme é usual hoje, serve, quando bem aplicada, só para facilitar a existência corporal terrena. Este é, raciocinando com nitidez, o verdadeiro alvo de cada atuação do intelecto! Em última análise, não há nunca outro resultado. Em toda a sabedoria teórica, não importando qual seja o campo, assim como em toda a atuação, tanto na esfera do Estado ou na família, em cada pessoa individual ou nas nações, bem como, finalmente, na humanidade inteira. Infelizmente, tudo acabou se submetendo incondicionalmente apenas ao intelecto e, por conseguinte, encontra-se com isso preso a pesadas correntes da restrição terrena da capacidade de compreensão, o que logicamente teve de ocasionar e ocasionará ainda conseqüências funestas em todo o atuar e em todos os acontecimentos.
Quanto a isso, existe apenas uma exceção na Terra inteira. Contudo, a exceção não nos é oferecida por acaso pela Igreja, como tantos hão de pensar e como também devia ser, e sim pela arte! Nesta o intelecto exerce função estritamente secundária. Porém, onde quer que o intelecto alcance supremacia, a arte logo é degradada a ofício; ela desce diretamente e também de modo totalmente incontestável bem para baixo. Trata-se de uma conseqüência, que, em sua simples naturalidade, nem pode ser diferente. Nem uma exceção pode ser aí comprovada.
A mesma conclusão também deve ser tirada de tudo o mais! E isso, então, não dá o que pensar aos seres humanos? Tem de ser como se lhes caísse uma venda dos olhos. Para aquele que pensa e compara, fica bem claro que, em tudo o mais que é dominado pelo intelecto, ele só pode receber um sucedâneo, coisa de pouco valor! Ante essa constatação, o ser humano devia reconhecer a que lugar, por natureza, pertence o intelecto, se deva surgir algo certo e valioso!
Somente a arte nasceu, até agora, ainda da atuação do espírito vivo, da intuição. Somente ela teve uma origem e um desenvolvimento natural, isto é, normal e sadio. O espírito, porém, não se manifesta no intelecto, e sim nas intuiçõese mostra-se somente naquilo que de um modo geral se denomina “alma”. Exatamente aquilo, do que o atual ser humano de intelecto, desmedidamente orgulhoso de si mesmo, gosta de escarnecer e ridicularizar. Zomba assim do que há de mais valioso no ser humano, sim, exatamente daquilo que faz do ser humano realmente um ser humano!
O espírito nada tem a ver com o intelecto. Se o ser humano finalmente quiser melhora em tudo, tem de observar as palavras de Cristo: Por suas obras os reconhecereis! É chegado o tempo em que isso acontecerá.
Somente obras do espírito trazem em si, por sua origem, a vida e, com isso, duração e constância. Tudo o mais, uma vez passado seu tempo de florescência, terá de ruir por si mesmo. Assim que os frutos devam chegar para isso, ficará patente o vazio!
Olhai, pois, a história! Somente a obra do espírito, isto é, a arte, sobreviveu aos povos, que já desmoronaram pela atuação de seu intelecto frio e sem vida. Seu alto e tão apregoado saber não pôde oferecer-lhes salvação disso. Egípcios, judeus, gregos, romanos seguiram este caminho, mais tarde também os espanhóis, franceses e agora os alemães, – contudo, as obras da verdadeira arte sobreviveram a todos eles! Também nunca poderão vir a perecer. Todavia, ninguém notou a regularidade severa na ocorrência dessas repetições. Criatura humana alguma pensou em investigar a verdadeira raiz desse grave mal.
Em vez de procurá-las e dar fim de uma vez a essa decadência, que se vem repetindo sempre de novo, o ser humano rendeu-se cegamente, submetendo-se com lamentações e rancor a essa grande “fatalidade”.
Agora, porém, atinge por fim a humanidade toda! Muita miséria já ficou atrás de nós, miséria maior ainda está por vir. E um profundo sofrimento perpassa as densas fileiras dos que em parte já estão sendo atingidos por isso.
Pensai nos povos todos, que já tiveram de soçobrar, assim que atingiram a sua florescência, o ponto mais alto de seu intelecto. Os frutos decorrentes dessa florescência foram por toda parte os mesmos! Imoralidade, indecência e gula em múltiplos aspectos, ao que se seguiu inevitavelmente a decadência e a ruína.
A absoluta igual espécie é de chamar a atenção de qualquer pessoa! E também cada um que pensa tem de encontrar em tais fenômenos uma bem determinada espécie e lógica de leis as mais severas.
Esses povos, um atrás do outro, tiveram de reconhecer por fim que sua grandeza, seu poder e magnificência foram apenas aparentes, mantidos só pela violência e pela pressão, não fortalecidos em si mesmos por saúde.
Abri, pois, vossos olhos em vez de desanimar! Olhai ao redor de vós, aprendei com o que passou, comparai isso com as mensagens que já há milênios vos têm chegado da esfera divina, e tereis de descobrir a raiz do mal que corrói, que constitui exclusivamente o estorvo para a ascensão da humanidade inteira.
Somente depois que o mal tiver sido extirpado de todo, é que estará aberto o caminho para geral ascensão, não antes. E esse caminho então será estável, porque pode trazer em si algo de vivo do espírito, o que até agora estava excluído. —
Antes de entrarmos em pormenores, quero esclarecer o que é espírito, como sendo o único realmente vivo dentro do ser humano. Espírito não é esperteza nem intelecto! Tampouco é sabedoria aprendida. Por isso chama-se erroneamente de “espirituosa” a uma pessoa, que estudou muito, leu, observou e sabe conversar bem a esse respeito. Ou quando brilha pelas boas idéias e por perspicácia do intelecto.
O espírito é algo muito diferente. Trata-se de uma constituição autônoma, oriunda do mundo de sua espécie igual, que é diferente da parte a que pertence a Terra e, com isso, o corpo. O mundo espiritual encontra-se mais alto, constitui a parte superior e mais leve da Criação. Essa parte espiritual no ser humano, devido à sua constituição, traz em si a incumbência de voltar ao puro espiritual, tão logo se tenham desligado dela todos os envoltórios materiais. O impulso para isso fica liberado em um bem determinado grau de amadurecimento, e o conduz então para cima, para sua igual espécie, por cuja força de atração é elevado. *(Dissertação Nº 63: Eu sou a ressurreição e a vida, etc.!)
O espírito nada tem a ver com o intelecto terreno, e sim apenas com a propriedade que denominamos como “coração”. Espirituoso tem, pois, a mesma significação que “dotado de coração”, e não que dotado de intelecto.
A fim de mais facilmente descobrir tal diferença, o ser humano sirva-se então da frase: “Era uma vez!” Muitos dos que procuram já encontrarão uma explicação através dela. Caso observarem atentamente a si mesmos, poderão reconhecer tudo o que foi útil à sua alma na vida terrena de até agora, ou o que serviu apenas para lhes facilitar a passagem e o seu trabalho no âmbito terreno. Portanto, o que não só possui valores terrenos, mas também do Além, e o que serve unicamente para finalidades terrenas, permanecendo, porém, sem valor para o Além. O primeiro, ele pode levar consigo para o Além, o outro, porém, deixa para trás, no desenlace, como algo válido somente aqui, já que mais adiante de nada lhe pode servir. O que deixa para trás, vem a ser apenas o instrumento para os acontecimentos terrenos, meio auxiliar para a época terrena, nada mais.
Se um instrumento não é utilizado somente como tal, e sim ajustado muito acima de sua capacidade, lógico é que não é adequado para essa altitude, encontra-se em lugar errado, acarretando com isso também falhas de várias espécies que, com o decorrer do tempo, trarão conseqüências bem nefastas.
A esses instrumentos pertence, como o mais elevado, o intelecto terreno que, como produto do cérebro humano, tem de trazer a restrição em si, à qual tudo quanto é de matéria grosseira corporal fica sempre sujeito, por sua própria constituição. E o produto também não pode ser diferente da origem. Esse permanece sempre ligado à espécie da origem. Do mesmo modo, as obras que surgem através do produto.
Disso resulta para o intelecto, naturalmente, a mais restrita capacidade de compreensão, somente terrena, estreitamente ligada a espaço e tempo. Como ele descende da matéria grosseira, por si morta, a qual não traz em si vida própria, ele também não possui força viva. Essa circunstância manifesta-se, logicamente, em todos os atos do intelecto, o qual, por isso, permanece impossibilitado de inserir algo vivo em suas obras.
Nesse acontecimento natural imutável encontra-se a chave para as ocorrências sombrias durante a existência do ser humano sobre esta pequena Terra.
Temos de aprender finalmente a distinguir entre o espírito e o intelecto, entre o núcleo vivo do ser humano e o seu instrumento! Se esse instrumento for colocado acima do núcleo vivo, como aconteceu até agora, resulta algo insano que há de trazer em si já na origem o gérmen da morte, e assim, aquilo que é vivo, o mais sublime, o mais precioso, será sufocado, atado e separado de sua indispensável atividade, até que, inacabado, erga-se livremente dos destroços no inevitável desmoronamento da construção morta.
Imaginemos agora em vez de “Era uma vez” a pergunta: “Como era antigamente?” Quão diverso é o efeito. Logo se nota a grande diferença. A primeira frase fala para a intuição, que está em ligação com o espírito. Já a segunda se dirige ao intelecto. Imagens muito diferentes surgem com isso. São de antemão limitadas, frias, sem calor de vida, porque o intelecto não tem outra coisa para dar.
A maior culpa da humanidade, porém, desde o início, foi ter colocado esse intelecto, que somente pode formar coisas incompletas e sem vida, sobre um alto pedestal, adorando-o literalmente e dançando ao seu redor. Foi-lhe dado um lugar que  devia ser reservado para o espírito.
Tal empreendimento encontra-se, em tudo, em oposição às determinações do Criador e, portanto, contra a natureza, já que estas jazem ancoradas na atividade da natureza. Por conseguinte, também nada pode conduzir a um verdadeiro alvo, ao contrário, tudo tem de ruir no ponto em que a colheita deve começar. Não é possível de outro modo, mas sim um acontecimento natural, previsível.
Somente é diferente na mera técnica, em cada indústria. Esta atingiu um alto nível através do intelecto e progredirá ainda muito mais no futuro! O fato, no entanto, serve como prova da veracidade de minhas declarações. A técnica é e sempre permanecerá, em todas as coisas, puramente terrena, morta. Como o intelecto, pois, também pertence a tudo o que é terrenal, consegue, no que diz respeito à técnica, desenvolver-se admiravelmente, realizar coisas realmente grandes. Ele se encontra aí no lugar certo, em sua verdadeira incumbência! Contudo, lá onde for necessário entrar em consideração também o que é “vivo”, isto é, essencialmente humano, o intelecto não basta em sua espécie e por isso temde falhar, tão logo não for guiado aí pelo espírito! Pois só o espírito é vida. Êxito em uma bem determinada espécie pode trazer sempre apenas a atuação da igual espécie. Por esta razão, o intelecto terreno jamais poderá atuar no espírito! Por esse motivo constituiu uma grave falta dessa humanidade, o fato de ter colocado o intelecto acima da vida.
Com isso, o ser humano alterou a sua tarefa, colocou-a, a bem dizer, de cabeça para baixo, contra a determinação criadora, isto é, totalmente natural, ao conferir ao intelecto, que vem em segunda posição, somente terrenal, o lugar mais alto, que pertence ao espírito vivo. Com isso, por sua vez, torna-se bem natural que agora seja obrigado a procurar penosamente de baixo para cima, no que o intelecto, colocado acima, com sua restrita faculdade de compreensão, impede qualquer visão mais ampla, em vez de poder ver, através do espírito, de cima para baixo.
Se quiser despertar, então o ser humano é obrigado, antes disso, a “inverter as luzes”. Colocar o que agora está em cima, o intelecto, no lugar que lhe foi destinado por natureza, e levar o espírito outra vez ao lugar mais elevado. Essa inversão necessária não é mais tão fácil para o ser humano de hoje. —
O ato inversor de outrora dos seres humanos, que se colocou tão incisivamente contra a vontade do Criador, por conseguinte, contra as leis da natureza, foi o “pecado original” propriamente dito, cujas conseqüências nefastas nada deixam a desejar; pois este então se transformou no “pecado hereditário”, porque a elevação do intelecto a dominador único acarretou, por sua vez, também a natural conseqüência de que o cuidado e a atuação tão unilateral fortalecesse com o tempo também o cérebro unilateralmente, de modo que cresceu somente a parte que tem de executar o trabalho do intelecto, e a outra teve de definhar. Por isso, essa parte atrofiada por negligência só consegue hoje em dia agir ainda como um cérebro de sonhos pouco confiável, que ainda por cima está sob a poderosa influência do assim chamado cérebro diurno, que aciona o intelecto.
A parte do cérebro, que deve constituir a ponte para o espírito, ou melhor, a ponte do espírito para tudo o que é terreno, foi, portanto, paralisada com isso, uma ligação rompida, ou pelo menos bastante afrouxada, com o que o ser humano impediu para si toda a ação do espírito e com isso também a possibilidade de tornar seu intelecto “animado”, espiritualizado e vivificado. Ambas as partes do cérebro deveriam ter sido desenvolvidas bem uniformemente, para uma atividade comum e harmônica, como tudo no corpo. O espírito guiando e o intelecto executando aqui na Terra. Torna-se assim evidente que devido a isso toda a atividade do corpo, e até mesmo este, nunca pode ser assim como ele deve ser. Esse acontecimento manifesta-se naturalmente através de tudo! Porque com isso falta o essencial para todas as coisas terrenas!
É um fato fácil de compreender que com o impedimento estavam ligados concomitantemente também o afastamento e o alheamento do divino. Pois não havia mais caminho para lá.
Isso teve, por fim, novamente a desvantagem que já desde milênios todo corpo de criança, que nasce, traz para a Terra o cérebro anterior do intelecto tão grande, por causa da hereditariedade de alcance cada vez maior, que de antemão toda a criança, devido a essa circunstância, será outra vez facilmente subjugada pelo intelecto, tão logo esse cérebro entre em plena atividade. O abismo entre as duas partes do cérebro tornou-se agora tão grande, a relação das possibilidades de trabalho tão desiguais que, sem uma catástrofe, na maior parte dos seres humanos não se consegue mais uma melhora.
O atual ser humano de intelecto não é mais uma criatura humana normal, mas falta-lhe todo o desenvolvimento da parte principal do seu cérebro, pertencente ao ser humano completo, devido à atrofia processada desde milênios. Todo o ser humano de intelecto, sem exceção, tem somente um cérebro normal aleijado! Por conseguinte, dominam a Terra, há milênios, aleijados de cérebro, consideram os seres humanos normais como inimigos e procuram subjugá-los. No atrofiamento consideram-se capazes de realizar muito e não sabem que a criatura humana normal tem condições de realizar dez vezes mais e produzir obras que possuem duração e que são mais perfeitas do que os empreendimentos atuais! O caminho para obter tal capacitação está aberto a cada pesquisador verdadeiramente sincero!
Todavia, um ser humano de intelecto não poderá mais estar tão facilmente em condições de compreender algo que faz parte da atividade dessa parte atrofiada de seu cérebro! Ele simplesmente não é capaz de compreender, mesmo se quisesse, e somente devido à sua estreiteza voluntária é que zomba de tudo o que não está ao seu alcance e que nunca mais poderá ser compreendido por ele, em conseqüência de seu cérebro em verdade retrógrado, anômalo. Nisso repousa exatamente a parte mais terrível da maldição dessa aberração antinatural. A cooperação harmoniosa entre as duas partes do cérebro humano, que é absolutamente necessária para uma criatura humana normal, é coisa definitivamente impossível para os atuais seres humanos de intelecto, que denominamos materialistas. —
Ser materialista não é acaso um elogio, mas sim a legitimação de um cérebro atrofiado.
Domina, por conseguinte, até agora nesta Terra o cérebro antinatural, cuja atuação, por fim, evidentemente, tem que trazer a ruína inevitável de tudo, pois tudo aquilo, quanto ele também queira trazer, já contém em si desde o início, naturalmente, desarmonia e enfermidade, devido ao atrofiamento.
Nisto agora nada mais há para modificar, mas deve-se aguardar tranqüilamente o desmoronamento que se processa de forma natural. Então, porém, é chegado o dia da ressurreição para o espírito, e também uma nova vida!Com isso estará aniquilado para sempre o escravo do intelecto que, desde milênios, tem a palavra! Nunca mais ele poderá erguer-se, porque a prova e a vivência própria finalmente o forçarão a submeter-se voluntariamente, como doente e pobre de espírito, àquilo que era incapaz de compreender. Nunca mais lhe será dado o ensejo de levantar-se contra o espírito, quer com escárnio, quer com aparente direito, usando violência, como também foi praticado contra o Filho de Deus, que teve de lutar contra isso. Outrora, ainda teria sido possível evitar muitas desgraças. Mas agora não mais; pois nesse intervalo tornou-se impossível reatar a debilitada ligação entre as duas partes do cérebro.
Haverá muitos seres humanos de intelecto, que mais uma vez quererão zombar das explicações nesta dissertação, contudo, sem aí, como sempre, além de bordões vazios, poderem apresentar sequer uma contraprova realmente objetiva. Entretanto, todo aquele que procura sinceramente e que raciocina tem de tomar esse alvoroço cego apenas como nova prova daquilo que aqui esclareci. Tais pessoas simplesmente não podem, mesmo que se esforcem para tanto. Consideremo-las, por isso, de hoje em diante, como doentes que em breve necessitarão de auxílio e... aguardemos calmamente. Não há necessidade de luta nem de nenhum ato de violência para forçar o progresso necessário; pois o fim virá por si mesmo. Também nisto se efetiva o acontecimento natural de forma totalmente inexorável e também pontual nas leis inamovíveis de todas as reciprocidades. — —
Uma “nova geração” deve surgir então, de acordo com tantas predições. Essa não será constituída, porém, somente de novos nascimentos, tidos como dotados de um “novo sentido”, conforme já foi observado agora na Califórnia e também na Austrália, mas sim principalmente de pessoas que já vivem na Terra, que em tempo próximo tornar-se-ão “videntes” devido a muitos acontecimentos que estão por vir. Terão, então, o mesmo “sentido” que os atuais recém-nascidos; pois esse sentido nada mais é do que a capacidade de estar no mundo com o espírito aberto e livre, o qual não se deixa mais subjugar pelas restrições do intelecto. Com isso, o pecado hereditário será finalmente extinguido!
Tudo isso, porém, nada tem a ver com as propriedades denominadas até agora de “faculdades ocultas”. Trata-se apenas da criatura humana normal, como deve ser! O “tornar-se vidente” não tem relação alguma com a “clarividência”, mas sim, significa o “perscrutar”, o reconhecer.
Os seres humanos estarão então em condições de distinguir tudo sem serem influenciados, o que nada mais significa do que formar um juízo próprio. Eles vêem o ser humano de intelecto tal qual é realmente, em sua tão perigosa restrição, tanto para ele como para seu ambiente, da qual concomitantemente se originam a arrogância de dominar e a mania de querer ter sempre razão, que, na verdade, faz parte disso.
Verão também, como desde milênios, em severa conseqüência, a humanidade inteira sofreu sob esse jugo, uma vez dessa, outra vez de outra forma, e como essa afecção cancerosa, qual inimigo hereditário, sempre se dirigiu contra o desenvolvimento do espírito humano livre, a principal finalidade na existência da criatura humana! Nada lhes escapará, nem mesmo a amarga certeza de que a aflição, todos os sofrimentos, cada uma das quedas, tinham de se originar desse mal, e que a melhora nunca pôde ocorrer, porque cada reconhecimento mais amplo estava excluído de antemão devido à restrição da faculdade de compreensão.
Com o despertar, porém, também terá cessado toda influência, todo poder desses seres humanos de intelecto. Para todos os tempos; pois se inicia então uma nova e melhor época para a humanidade, onde o antigo não pode mais se manter.
Com isso, virá a necessária, já hoje desejada por centenas de milhares, vitória do espírito sobre o intelecto que falha. Muitas das massas, até agora induzidas a erro, ainda reconhecerão com isso que até então tinham interpretado de modo inteiramente errado a expressão “intelecto”. A maioria, sem examinar, aceitou-o simplesmente como um ídolo, só porque também os demais o apresentavam assim, e porque todos os seus adeptos sempre sabiam apresentar-se, pela violência e pelas leis, como dominadores absolutos e infalíveis. Muitos, devido a isso, nem se dão ao trabalho de descobrir a verdadeira vacuidade e as falhas que se ocultavam atrás disso.
Contudo, existem com certeza também outros que, desde decênios, vêm lutando contra esse inimigo com tenaz energia e convicção, escondida e, em parte, também abertamente, expostos às vezes também aos mais pesados sofrimentos. Porém, lutaram, sem conhecer o próprio inimigo! E isso dificultava, logicamente, o sucesso. Tornou-o de antemão impossível. A espada dos lutadores não era bem afiada, porque iam gastando-a constantemente ao bater em fatos secundários. Com esses fatos secundários, porém, davam também sempre golpes a esmo, desperdiçando as próprias forças, e ocasionaram apenas desunião entre si, que hoje aumenta cada vez mais.
Há na realidade apenas um inimigo da humanidade ao longo de toda a linha: o domínio, até agora irrestrito, do intelecto! Isso foi o grande pecado original, a mais grave culpa do ser humano, que acarretou todos os males. Isso se tornou o pecado hereditário, e isso também é o anticristo, sobre o qual foi anunciado, que levantará sua cabeça. Em termos mais claros, o domínio do intelecto é seu instrumento, pelo qual os seres humanos lhe estão submissos. A ele, ao inimigo de Deus, ao próprio anticristo... Lúcifer! *(Dissertação Nº 89: O anticristo)
Encontramo-nos no meio dessa época! Ele habita hoje em cada ser humano, pronto a destruí-lo, pois sua atividade causa o imediato afastamento de Deus, como conseqüência totalmente natural. Ele intercepta o espírito, tão logo possa reinar.
Eis por que deve o ser humano manter-se em constante vigilância. —
Não deve, por isso, acaso diminuir seu intelecto, mas sim transformá-lo em instrumento, que ele é, e não torná-lo uma vontade determinante. Não torná-lo senhor!
A criatura humana da geração vindoura poderá contemplar os tempos de até agora apenas ainda com asco, horror e com vergonha. Semelhante ao que se dá conosco, quando entramos em uma antiga câmara de tortura. Também aí vemos os maus frutos do frio domínio do intelecto. Pois é incontestável que uma pessoa com um pouquinho só de coração e conseqüente atividade espiritual jamais teria inventado um tal horror! No geral, porém, hoje isto não é diferente, apenas algo disfarçado, e as misérias das massas são idênticos frutos podres, como a antiga tortura individual.
Quando o ser humano vier a lançar um olhar retrospectivo, então não cessará mais de menear a cabeça. Ele perguntará a si mesmo como foi possível suportar tais erros em silêncio durante milênios. A resposta é, evidentemente, muito simples: pela violência. Para onde quer que se olhe, pode-se reconhecer isso bem nitidamente. Excluindo os tempos da remota antiguidade, basta que entremos nas já citadas câmaras de tortura, que ainda hoje podem ser vistas por toda parte, e cuja utilização não dista tanto assim da época presente.
Sentimos arrepios, quando contemplamos esses antigos instrumentos. Quanta brutalidade fria há nisso, quanta bestialidade! Decerto, nenhuma pessoa do tempo atual terá dúvidas de que tais práticas constituíram pesados crimes. Cometeu-se com isso, nos criminosos, um crime ainda maior. Mas também muitos inocentes foram arrancados da família e da liberdade, e atirados brutalmente naquelas masmorras. Quantas lamentações, quantos gritos de dor faziam-se ouvir dos que ficavam ali inteiramente à mercê de seus algozes. Seres humanos tiveram de sofrer coisas, diante das quais, em pensamento, só se pode sentir aversão e pavor. Cada um pergunta a si próprio, involuntariamente, se de fato foi humanamente possível ter acontecido tudo isso com esses indefesos, e ainda por cima sob a aparência de todo o direito. Um direito que outrora só se arrogou pela violência. E agora novamente, através de dores físicas, forçou-se confissões de culpa das pessoas suspeitas para que, dessa forma, sem percalços, pudessem ser assassinadas. Mesmo que tais confissões de culpa só foram obtidas à força e prestadas apenas para fugir a esses impiedosos maus-tratos corporais, elas eram suficientes aos juízes, que precisavam de tais confissões para cumprir a “palavra” da lei. Presumiriam esses indivíduos medíocres realmente que com isso podiam lavar-se também perante a vontade divina? De livrar-se da ação inexorável da lei fundamental de uma reciprocidade?
Ou todas essas criaturas humanas eram escória dos mais endurecidos criminosos, que se arrogaram o direito de submeter outros a julgamento, ou fica demonstrado através disso, tão nitidamente, a estreiteza doentia do intelecto terreno. Não pode haver um meio-termo.
Segundo as leis divinas da Criação, todo dignitário, todo juiz, indiferente de qual cargo ele exerce aqui na Terra, não deveria nunca ficar, em sua atuação, sob o abrigo do cargo que exerce, mas sim, sozinho e de forma puramente pessoal, sem proteção como qualquer outra pessoa, teria de arcar ele mesmo com a plena responsabilidade, por tudo quanto fizer em seu cargo. E não só espiritualmente, como também terrenamente. Assim cada qual tomaria as coisas muito mais a sério e com mais cuidado. E os assim chamados “erros” com toda a certeza não mais se repetirão tão facilmente, cujas conseqüências jamais podem ser reparadas. Sem falar dos sofrimentos físicos e anímicos das pessoas atingidas e de seus familiares.
Examinemos uma vez ainda o capítulo também pertencente a este assunto dos processos das assim chamadas “bruxas”!
Quem teve alguma vez acesso aos autos de tais processos gostaria de, enrubescido de vergonha, desejar para si, nunca ter feito parte desta humanidade. Bastava, outrora, um ser humano possuir conhecimentos sobre plantas terapêuticas, seja mediante experiência prática ou adquirida por tradição, e com isso prestar ajuda a pessoas doentes que a solicitassem dele, então era arrastado impiedosamente a essa tortura, de que por fim só o livrava a morte na fogueira, se seu corpo não sucumbisse antes a essas crueldades.
Até mesmo a beleza corporal podia servir outrora de motivo para isso, principalmente a castidade que não se subjugava.
E então ainda as atrocidades medonhas da Inquisição! *(Tribunal do Santo Ofício)Relativamente poucos são os anos que nos separam desse “outrora”!
Da mesma forma que hoje reconhecemos essa injustiça, também as reconhecia outrora o povo. Pois este não estava ainda tão restringido pelo “intelecto”, nele ainda repontava aqui e acolá o sentimento, o espírito.
Não se reconhece hoje uma total estreiteza nisso tudo? Uma estupidez irresponsável?
Fala-se sobre isso com superioridade e encolher de ombros, todavia, no fundo nada se alterou aí. Ainda se conserva intacta a presunção estreita diante de tudo o que não foi compreendido! Só que em lugar dessas torturas se recorre atualmente ao sarcasmo público em tudo o que, devido à própria estreiteza, não se compreende. Que cada qual bata no peito e pense primeiro sobre isso, sem nisso se poupar. Toda a pessoa, que possui a capacidade de saber o que para os demais fica inacessível, que talvez possa ver, com os olhos de matéria fina, também o mundo de matéria fina como um fenômeno natural, o que dentro em pouco não provocará mais dúvidas, muito menos ataques brutais, será de antemão considerada como impostora pelos heróis do intelecto, isto é, por criaturas humanas não completamente normais, e talvez também perante a justiça.
E ai daquele, que não sabe o que fazer com isso e que com a maior inocência fala dessas coisas que viu e que ouviu. Terá de sentir medo disso, como os primeiros cristãos sob o domínio de Nero com seus auxiliares sempre prontos para cometer assassínios.
Caso essa pessoa ainda possua outras faculdades, que nunca poderão ser compreendidas pelos pronunciados seres humanos de intelecto, então ela será implacavelmente e sem piedade perseguida, caluniada e posta à margem, se não se submeter à vontade de todos; se for possível, será tornada “inócua”, conforme se costuma expressar tão habilmente. Ninguém sente remorsos por causa disso. Um tal ser humano vale ainda hoje como caça livre de qualquer indivíduo às vezes interiormente muito pouco limpo. Quanto mais restrito um ser humano, maior também a ilusão de perspicácia e o pendor para a arrogância.
Não se aprendeu nada com esses acontecimentos dos velhos tempos, com as suas torturas e fogueiras, e ridículos autos dos processos! Pois ainda hoje qualquer pessoa pode impunemente macular e ofender o que é fora do comum e não-compreendido. Nisso não é diferente do que foi outrora.
Pior ainda do que com a justiça, foi nas inquisições criadas pela Igreja. Aqui, os gritos dos martirizados eram sobrepujados por orações beatas. Era um escárnio em relação à vontade divina na Criação! Os representantes eclesiásticos daqueles tempos demonstravam com isso que não tinham a mínima noção do verdadeiro ensinamento de Cristo, nem da divindade e de sua vontade criadora, cujas leis repousam de modo inabalável na Criação e aí atuam, homogeneamente desde o começo até o fim dos tempos.
Deus deu ao espírito humano, em sua constituição, o livre-arbítrio da decisão. Somente nele é que ele pode amadurecer assim como deve, lapidar-se e desenvolver-se plenamente. Só aí encontra a possibilidade para tanto. Se, porém, essa vontade livre for reprimida, torna-se um obstáculo, quando não um retrocesso violento. Contudo, as igrejas cristãs, bem como muitas religiões, combatiam outrora essa determinação divina, opondo-se a ela com a maior crueldade. Queriam, por meio de torturas, e por fim pela morte, obrigar as pessoas a enveredar e seguir por caminhos, fazer confissões que eram contra suas convicções, isto é, contra sua vontade. Com isso, pecavam contra o mandamento divino. No entanto, não somente isso, mas impediam também as pessoas na evolução de seu espírito, e arremessaram-nas centenas de anos para trás.
Se apenas uma centelha de verdadeiro sentimento, portanto, do espírito, houvesse se manifestado nisso, então tal coisa jamais deveria e poderia ter acontecido! Somente a frieza do intelecto ocasionou assim esse procedimento desumano.
É comprovado pela história que até mesmo muitos papas mandaram trabalhar com punhal e com veneno para realizar seus desejos puramente terrenos, seus objetivos. Isso só se podia dar sob o domínio do intelecto, que em sua marcha triunfal tudo subjugava, sem se deter diante de coisa alguma. —
E acima de tudo isso pairava e paira, como fato inamovível, a vontade férrea de nosso Criador. Ao passar para o Além, cada pessoa fica despida do poder terreno e de sua proteção. Seu nome, sua posição, tudo ficou para trás. Apenas uma pobre alma humana traspassa para o Além, para aí receber, usufruir o que semeou. Não é possível sequer uma exceção! Seu caminho a conduz através de toda a engrenagem da incondicional reciprocidade da justiça divina. Lá não existe nenhuma Igreja, nenhum Estado, e sim apenas almas humanas individuais, que têm de prestar contas, pessoalmente, de cada um dos erros que cometeram!
Quem age contra a vontade de Deus, isto é, quem peca na Criação, fica submetido às conseqüências de tal transgressão. Não importa quem seja e sob que pretexto tenha sido cometido. Quer seja um ser humano individual, sob a cobertura da Igreja, da justiça... um crime contra o corpo ou contra a alma é e continua sendo crime! Isso não pode ser alterado de forma alguma, nem mesmo através de uma aparência de direito, que absolutamente nem sempre é o direito; pois evidentemente as leis também foram estabelecidas apenas pelos seres humanos de intelecto e, por conseguinte, têm de conter restrição terrena.
Veja-se, por exemplo, a legislação de muitos países, principalmente da América Central e do Sul. A pessoa que hoje governa e que por isso recebe todas as honrarias pode, já amanhã, ir parar em um cárcere como criminosa ou ser executada, caso seu adversário consiga apoderar-se desse governo por um golpe de força. Caso malogre, em lugar de ser ele proclamado regente, passará a ser considerado como criminoso e perseguido. E todas as autoridades constituídas servem de bom grado, tanto a um como a outro. Até mesmo um viajante, dando voltas ao mundo, tem muitas vezes de mudar de consciência como quem muda de roupa, quando passa de um país para outro, para poder ser considerado bom em todas as partes. O que em um país é tido como crime, no outro muitas vezes é permitido e, ainda mais, talvez até mesmo bem-visto.
Isso naturalmente só é possível nas conquistas do intelecto terreno, mas nunca onde o intelecto deve assumir seu degrau natural como instrumento do espírito vivo; pois quem escutar o espírito jamais ignorará as leis de Deus. E onde estas forem tomadas como fundamento, lá não pode haver defeitos nem lacunas, e sim tão-só unidade, que traz consigo felicidade e paz. As manifestações do espírito em todas as partes, em suas linhas gerais, somente podem ser sempre as mesmas. Jamais se oporão umas às outras.
Também a ciência do direito, a medicina, a política, tem de permanecer ofício imperfeito lá, onde somente o intelecto pode constituir a base e onde falta o espiritual. Simplesmente não é possível de outro modo. Partindo-se nesse caso, evidentemente, sempre do verdadeiro conceito de “espírito”. —
O saber é um produto, o espírito, porém, vida, cujo valor e cuja força só podem ser medidos segundo suas conexões com a origem do espiritual. Quanto mais íntima for essa conexão, tanto mais valorosa e poderosa há de ser a parte que se desprendeu da origem. Quanto mais frouxa, porém, tornar-se essa conexão, tanto mais distante, estranha, isolada e fraca tem de ser também a parte saída da origem, isto é, o respectivo ser humano.
Todas essas são evidências tão simples, que não se pode compreender como os seres humanos de intelecto, que erraram o caminho, possam passar sempre e sempre de novo como cegos por isso. Pois o que a raiz traz, recebem o tronco, a flor e o fruto! Mas também nisso se mostra essa desesperançada auto-restrição na compreensão. Penosamente construíram um muro à sua frente e agora não podem mais olhar por cima e muito menos através dele.
No entanto, a todos os espiritualmente vivos eles têm, com seu sorriso zombeteiro e presunçoso, com seus ares de superioridade e olhar de desprezo para outros ainda não tão escravizados, de assemelhar-se às vezes a pobres tolos doentes, os quais, apesar de toda a compaixão, deve-se deixar em sua ilusão, porque o seu limite de compreensão deixa passar sem impressões mesmo os fatos reais de comprovações contrárias. Todo e qualquer esforço para melhorar alguma coisa nisso deve assemelhar-se tão-só às tentativas vãs de envolver um corpo doente com um manto novo e bem vistoso, a fim de restabelecer também simultaneamente a saúde.
Já agora o materialismo está além do seu ponto culminante, e breve, falhando por toda parte, terá de desmoronar em si. Não sem nisso arrastar consigo muita coisa boa. Seus adeptos já chegaram ao fim de suas possibilidades, dentro em breve ficarão confusos em relação à sua própria obra e depois a si próprios, sem perceber o abismo que se abriu diante deles. Em pouco tempo serão qual um rebanho sem pastor, não confiando uns nos outros, cada qual seguindo seu próprio caminho e, não obstante isso, elevando-se ainda orgulhosamente por cima dos outros. Irrefletidamente, seguindo apenas o hábito anterior.
Com todos os sinais da aparência exterior de sua vacuidade eles, por fim, também tombarão às cegas no abismo. Consideram ainda como espírito, aquilo que apenas é produto de seus próprios cérebros. Como, porém, pode a matéria morta gerar espírito vivo? Em muitas coisas mostram-se orgulhosos por seu pensar exato e, nos assuntos essenciais, sem o mínimo escrúpulo, deixam lacunas da maior irresponsabilidade.
Cada novo passo, cada tentativa de melhora, terá que trazer sempre novamente em si toda a aridez da obra do intelecto, e assim o gérmen da decadência inevitável.
Tudo quanto digo de tal natureza não é nenhuma profecia, nenhuma predição sem base, e sim a conseqüência inalterável da vontade criadora, que tudo vivifica, cujas leis já esclareci em minhas numerosas dissertações precedentes. Quem segue comigo em espírito os caminhos nitidamente indicados nas mesmas também tem de abranger com a vista o fim inevitável e reconhecê-lo. E todos os indícios para isso já estão aí.
Lastima-se e grita-se, vê-se com asco de que maneira as excrescências do materialismo exibem-se hoje em formas quase inacreditáveis. Implora-se e roga-se pela libertação do sofrimento, pela melhora, pela cura desse declínio ilimitado. Os poucos, que ainda puderam salvar qualquer emoção de sua vida anímica dessa tempestade de acontecimentos incríveis, que não se sufocaram espiritualmente na decadência geral que ilusoriamente traz com orgulho na testa o nome “progresso”, sentem-se como expulsos, retardatários, e também como tais são considerados e ridicularizados pelos seguidores sem alma da época moderna.
Uma coroa de louros a todos quantos tiveram a coragem de não se juntar às massas! Que altivamente se abstiveram da rampa íngreme que leva para baixo!
É um sonâmbulo aquele que por isso ainda se considera hoje um infeliz! Abri os olhos! Não vedes, pois, que tudo o que vos oprime já é o começo do repentino fim do materialismo, que atualmente só domina de maneira aparente? A construção inteira já está para ruir, sem a participação dos que sob ele sofreram e ainda terão de sofrer. A humanidade de intelecto tem agora de colher aquilo que durante milênios gerou, alimentou, criou e adulou.
Para o cálculo humano, um longo período, para as mós automáticas de Deus na Criação, um breve lapso de tempo. Para onde vós olhardes, em toda parte surge o malogro. Ele flutua recuando e represa-se ameaçadoramente, elevando-se como um pesado dique para, em breve, precipitando-se e desmoronando, soterrar fundo os seus adoradores embaixo de si. Trata-se da lei inexorável da reciprocidade, que tem de mostrar-se de modo terrível nesse desencadeamento, porque durante milênios, apesar de múltiplas experiências, nunca houve uma alteração para algo mais elevado, e sim, pelo contrário, foi alargado ainda mais o mesmo caminho errado.
Desalentados, o tempo é chegado! Levantai a fronte, que tantas vezes tivestes de baixar cheios de vergonha, quando a injustiça e a estupidez puderam vos infligir sofrimento tão profundo. Encarai hoje calmamente o adversário, que dessa maneira quis subjugar-vos!
A veste pomposa de até agora já está bem estraçalhada. Através de todos os seus buracos já se vê finalmente a figura em sua forma verdadeira. Inseguro, mas nem por isso menos arrogante, o fatigado produto do cérebro humano, o intelecto, que se deixou elevar a espírito, olha dela para fora... sem compreender!
Tirai sossegadamente a venda e olhai mais nitidamente ao redor de vós. Já um relance em alguns bons jornais transmite a um olhar claro toda uma série de coisas. Vê-se um esforço obstinado para se agarrar ainda à toda a velha aparência. Procura-se, com arrogância e não raro com sarcasmos grosseiros, encobrir toda essa incompreensão que cada vez se mostra mais nitidamente. Muitas vezes uma pessoa quer, empregando expressões insípidas, julgar algo do que, na realidade, não possui evidentemente sequer um vislumbre de compreensão. Até mesmo pessoas com qualidades assaz boas debandam hoje desamparadas para caminhos pouco limpos, somente para não terem de confessar que muitas coisas ultrapassam a capacidade de compreensão de seu próprio intelecto, sobre o qual unicamente queriam apoiar-se até agora. Não percebem o ridículo do procedimento, não vêem os pontos fracos que dessa maneira só ajudam a aumentar. Confusos, ofuscados, encontrar-se-ão em breve diante da Verdade e, entristecidos, lançarão um olhar sobre sua vida fracassada, nisso reconhecendo finalmente, envergonhados, que havia estupidez exatamente lá, onde se tinham como sábios.
Até que ponto já se chegou hoje? O ser humano musculoso é trunfo! Acaso um pesquisador sério, que em luta durante decênios descobriu um soro que anualmente presenteou centenas de milhares de pessoas, adultos e menores, com proteção e também ajuda contra os perigos de doenças fatais, pôde festejar tamanhos triunfos como um boxeador, que vence seu adversário com rude brutalidade puramente terrena? Ou como um aviador que, com um pouco de coragem, não mais do que cada combatente tinha que ter no campo de batalha, executa um importante vôo, graças à sua excelente máquina? É considerado quase um acontecimento político. Acaso uma única alma humana tem algum proveito com isso? Só terrenal, completamente terrenal, isto é, inferior em toda a obra da Criação! Correspondendo inteiramente ao bezerro de ouro da atividade do intelecto. Como triunfo desse príncipe fictício de barro, tão preso à Terra, sobre a restrita humanidade! — —
E ninguém vê esse deslizar vertiginoso rumo ao abismo horrendo!
Quem intui isso mantém-se por enquanto ainda em silêncio, com a consciência vergonhosa, de que seria ridicularizado se falasse. Trata-se já de uma confusão absurda, onde, no entanto, desponta o reconhecimento da incapacidade. E com o pressentir do reconhecimento, tudo se revolta mais ainda, já por teimosia, por vaidade, e não por último pelo temor e pelo pavor do que há de sobrevir. Não se quer por nenhum preço já pensar no fim desse grande erro! Torna-se um agarrar obstinado à orgulhosa construção dos milênios passados, que se assemelha em tudo à construção da torre de Babel e que também acabará identicamente!
O materialismo, até agora não perturbado, traz em si o pressentimento da morte que, a cada mês, torna-se mais evidente. —
Nas inúmeras almas, porém, isso se faz sentir, por toda parte, na Terra inteira! Sobre o brilho da Verdade só resta ainda uma tênue camada das concepções velhas e falsas que o primeiro golpe de vento purificador sopra para longe, de modo a assim libertar o núcleo, cujo luzir se ligará a tantos outros, para ostentar sua auréola radiante que se eleva como uma chama de agradecimento em direção ao reino da luminosa alegria, aos pés do Criador.
Esta será a época do tão almejado Reino do Milênio, que está diante de nós como grande estrela da esperança em radiante promessa!
Com isso, estará remido finalmente o grande pecado da humanidade inteira contra o espírito, que o deixou preso à Terra por meio do intelecto! Somente esseé então o caminho certo para a volta ao natural, o caminho da vontade do Criador, que quer que as obras dos seres humanos sejam grandes e perfluídas por intuições vivas! A vitória do espírito será simultaneamente também a vitória do mais puro amor!
Mensagem do Graal de Abdrushin


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