segunda-feira, 21 de março de 2016

A morte do Filho de Deus na cruz e a Ceia

 A morte do Filho de Deus na cruz e a Ceia

Por ocasião da morte de Cristo rasgou-se no Templo a cortina que separava o Santíssimo da humanidade. Tal acontecimento é tido em conta como símbolo de que, com a morte por sacrifício do Salvador, cessava no mesmo instante a separação existente entre a humanidade e a divindade, isto é, foi criada uma ligação direta.
Tal interpretação, porém, é errada. Com a crucificação rejeitaram as criaturas humanas o Filho de Deus como o Messias esperado, com o que a separação tornou-se maior! Rasgou-se a cortina porque, consequentemente, não havia mais necessidade do Santíssimo. Ficou exposto à vista e às correntes impuras, uma vez que, simbolicamente expresso, o divinal depois desse fato não pôs mais o seu pé sobre a Terra, com o que se tornou supérfluo o Santíssimo. Portanto, exatamente o contrário das interpretações de até agora, nas quais novamente, como tantas vezes, apenas se evidencia a grande presunção do espírito humano.
A morte na cruz também não foi um sacrifício necessário, mas um assassínio, um verdadeiro crime. Qualquer outra explicação constitui uma evasiva, que deve valer como desculpa ou que surgiu por ignorância. Cristo não desceu à Terra absolutamente com a intenção de se deixar crucificar. Nisso também não reside a redenção! Cristo foi crucificado, no entanto, como um incômodo portador da Verdade, por causa de seus ensinamentos.
Não foi a sua morte na cruz que podia e devia trazer a redenção, mas a Verdade, que deu à humanidade em suas palavras!
A Verdade, porém, era incômoda aos então dirigentes de religiões e de templos, um aborrecimento, visto abalar-lhes fortemente sua influência. Exatamente conforme também hoje, novamente, sucederia em tantos lugares. Quanto a isso, a humanidade não mudou. Os dirigentes de outrora se apoiavam, assim como os de hoje, em antigas e boas tradições, mas estas tinham se tornado, por causa dos praticantes e esclarecedores, mera forma rígida, vazia, sem ser mais viva em si. Idêntico quadro ao que hoje novamente se apresenta de modo freqüente.
Mas aquele que queria trazer essa vida necessária para dentro da Palavra existente, trouxe com isso naturalmente uma revolução na prática e na explicação, não na própria Palavra. Ele libertou o povo da rigidez e vacuidade opressoras, salvou-o disso, e isso foi mui naturalmente um grande aborrecimento para aqueles, que puderam reconhecer logo quão energicamente fora interferido assim nas rédeas de sua errada condução.
Por isso o portador da Verdade e libertador do fardo das interpretações errôneas teve de sofrer suspeita e perseguição. Quando não se conseguiu, apesar de todos os esforços, torná-lo ridículo, tratou-se de apresentá-lo como inverossímil. Para tanto devia servir o “passado terreno”, como filho de carpinteiro, para tachá-lo de “inculto e por isso incapaz para uma elucidação!” De um “leigo”. Tal como acontece também hoje em relação a cada um que enfrenta dogmas rígidos, os quais abafam já no gérmen todo o esforço ascendente, livre e vivo. Por precaução, nenhum dos adversários aprofundou-se em seus esclarecimentos, pois mui acertadamente sentiam que diante de uma réplica puramente objetiva deveriam ser derrotados. Ativeram-se, pois, na difamação vil, mediante seus instrumentos venais, a ponto de não temerem, por fim, em momento para eles propício, acusá-lo publica e falsamente e levá-lo à cruz, a fim de afastar junto com ele a ameaça ao seu poderio e prestígio.
Essa morte violenta, outrora comumente praticada pelos romanos, não constituiu em si a redenção e também não a trouxe. Não remiu nenhuma culpa da humanidade, não a libertou de coisa alguma, mas apenas sobrecarregou mais ainda a humanidade, por ser um assassínio da mais baixa espécie!
Se disso então, até os dias atuais, aqui e acolá se desenvolveu um culto, de ver nesse assassínio um fato essencial necessário da obra de redenção do Filho de Deus, então o ser humano fica com isso afastado justamente do que é mais precioso, daquilo que única e exclusivamente pode trazer a redenção. Desvia-o da verdadeira missão do Salvador, daquilo que tornou necessária a sua vinda do divinal à Terra. No entanto, isso não se deu para sofrer a morte na cruz, mas sim, para anunciar a Verdade no amontoado da rigidez dogmática e da vacuidade, que arrastam o espírito humano para baixo! Foi para descrever as coisas entre Deus, a Criação e o ser humano de tal forma como realmente são. Dessa forma, tudo quanto o limitado espírito humano havia engendrado a tal respeito, e que encobria a realidade, tinha de cair por si sem força. Só então o ser humano pôde ver claramente diante de si o caminho que o conduz para cima.
Somente no trazer essa Verdade e na libertação de erros ligada a isso reside única e exclusivamente a redenção!
É a redenção da visão turva, da crença cega. A palavra “cega” já caracteriza suficientemente a condição errada.
A Ceia antes de sua morte foi uma Ceia de despedida. Quando Cristo disse: “Tomai, comei, este é meu corpo. Bebei todos disto, este é meu sangue do novo testamento, que será derramado para muitos, para o perdão dos pecados”, declarava com isso que estava disposto até mesmo a aceitar essa morte na cruz, somente para ter o ensejo de transmitir à humanidade perdida a Verdade em seus esclarecimentos, que indica, única e exclusivamente, o caminho para o perdão dos pecados.
Ele diz também, textualmente: “para o perdão de muitos”, e não acaso “para o perdão de todos”! Por conseguinte, apenas para aqueles que se interessassem pelas suas explicações e delas tirassem lições vivas.
Seu corpo destruído pela morte na cruz e seu sangue derramado devem contribuir para que se reconheça a necessidade e a seriedade dos esclarecimentos trazidos por ele. Essa urgência somente deve ser sublinhada pela repetição da Ceia e na Ceia!
Que o Filho de Deus não tenha recuado nem mesmo diante de uma tal hostilidade da humanidade, cuja probabilidade já tinha sido reconhecida de antemão, antes de sua vinda, *(Dissertação Nº 48: Fenômenos universais) devia indicar especialmente para a situação desesperada do espírito humano, que só poderia ser arrancado da ruína pelo agarrar-se à corda de salvação da Verdade sem disfarce.
A referência do Filho de Deus, durante a Ceia, à sua morte na cruz é apenas uma última e expressa indicação sobre a necessidade urgente de seus ensinamentos, os quais ele viera trazer!
Ao tomar a Ceia, pois, cada pessoa deve se dar conta sempre de novo de que o próprio Filho de Deus não temeu a pressuposição de uma morte na cruz, causada pela humanidade, e que deu corpo e sangue a fim de possibilitar à humanidade o recebimento da descrição do real fenômeno no Universo, que mostra nitidamente os efeitos das leis imutáveis da Criação que trazem em si a vontade divina! Com esse reconhecimento da severidade amarga, que realça a necessidade urgente da mensagem para a salvação, deve renascer constantemente nas criaturas humanas nova força, novo impulso para realmente viver segundo os claros ensinamentos de Cristo, a fim de não só compreendê-los direito, mas também agir em tudo de acordo com eles. Com isso obterão então também perdão de seus pecados e redenção! Não diferentemente. Também não diretamente. Mas encontrá-los-ão impreterivelmente no caminho que Cristo mostra em sua mensagem.
Por essa razão deve a Ceia sempre de novo vivificar o acontecimento, a fim de que não se enfraqueça o único zelo salvador para o cumprimento dos ensinamentos trazidos com tamanho sacrifício; pois pela indiferença que se inicia ou pelas formas meramente externas, as criaturas humanas perdem essa corda de salvação e tornam a cair nos tentáculos dos erros e da destruição.
É um grande erro as criaturas humanas acreditarem que pela morte na cruz esteja garantido o perdão de seus pecados. Esse pensamento acarreta o terrível dano de que todos aqueles que nisso crêem serão por isso retidos do verdadeiro caminho para a redenção, que reside, única e exclusivamente, no fato de viver de acordo com as palavras do Salvador, de acordo com as explicações que ele deu, como conhecedor e por abranger tudo com a visão. E essas explicações mostram, em quadros práticos, o necessário cumprimento e observância da vontade divina, que se encontra nas leis da Criação, bem como os seus efeitos, na observância e na inobservância.
Sua obra redentora consistiu em trazer essa explicação, que devia mostrar as falhas e os danos da prática religiosa, pois ela trouxe em si a Verdade, a fim de iluminar a escuridão crescente do espírito humano. Não consistiu na morte na cruz, tampouco que a Ceia ou a hóstia consagrada podem oferecer perdão dos pecados. Esse pensamento é contra cada lei divina! Com isso cai também o poder dos seres humanos de perdoar pecados. Uma pessoa só tem o direito e também o poder de perdoar o que lhe foi feito por outrem pessoalmente, e mesmo então só quando seu coração, sem ser influenciado, a isso impele.
Quem refletir seriamente reconhecerá também a Verdade e, assim, o caminho verdadeiro! Os que têm preguiça de pensar e os indolentes que não conservarem continuamente preparada, com todo cuidado e atenção, a lamparina a eles confiada pelo Criador, isto é, a faculdade de examinar e elucidar, podem perder facilmente a hora, quando a “Palavra da Verdade” chegar a eles, como as tolas virgens da parábola. Uma vez que se deixaram adormecer em cansado comodismo e crença cega, não serão capazes de reconhecer, por sua indolência, o portador da Verdade ou noivo. Têm de ficar então para trás, quando os vigilantes entrarem no reino da alegria.
Mensagem do Graal de Abdrushin

domingo, 13 de março de 2016

O ser humano e seu livre arbítrio!




 O ser humano e seu livre-arbítrio

Para que se possa dar um quadro completo a respeito, faz-se necessário reunir muitos elementos de fora que exercem suas influências maiores ou menores sobre o fator principal!
O livre-arbítrio! É algo diante do qual até mesmo seres humanos eminentes se detêm pensativamente, porque havendo uma responsabilidade, segundo as leis da justiça, também deve haver incondicionalmente uma possibilidade de livre resolução.
Por onde quer que se ande, de todos os lados se ouve a exclamação: onde é que existe uma vontade livre no ser humano, quando há de fato providência, condução, determinações, influências astrais e carma? *(Destino) Pois o ser humano é impelido, ajustado e conformado, quer queira quer não!
Com afinco os pesquisadores sinceros se lançam sobre tudo aquilo que fala do livre-arbítrio, no reconhecimento mui acertado de que, justamente a esse respeito, necessita-se imprescindivelmente de um esclarecimento. Enquanto este falta, o ser humano também não consegue se enquadrar direito, a fim de impor-se na grande Criação como aquilo que realmente é. Se, porém, não estiver sintonizado de maneira certa com referência à Criação, terá de permanecer nela como um estranho, vagará a esmo, terá de se deixar empurrar, ajustar e moldar, porque lhe falta a consciência do alvo. Assim resulta então uma coisa da outra, e, como conseqüência natural, o ser humano tornou-se por fim aquilo que ele hoje é, mas que, na verdade, não deve ser!
Seu grande defeito é o fato, que ele não sabe onde realmente se encontra seu livre-arbítrio e como atua. Tal contingência mostra também que perdeu completamente o caminho para seu livre-arbítrio, não sabendo mais como encontrá-lo.
A entrada do caminho para a compreensão não é mais reconhecível, devido à areia movediça amontoada. Dissiparam-se os rastros. A criatura humana, indecisa, corre aí em círculos, fatigando-se, até que por fim um vento refrescante abra novamente os caminhos. É natural e evidente que antes toda essa areia movediça será levantada em rodopios violentos e, ao desaparecer, ainda poderá turvar a vista de muitos dos que, ansiosos, continuam a procurar a abertura do caminho. Por esse motivo, cada um deve exercitar o máximo cuidado para conservar a vista livre, até que o último grãozinho dessa areia movediça também tenha se dispersado. Do contrário, pode suceder que esteja vendo o caminho, no entanto, com a vista levemente turvada, pise em falso, tropece e caia, para, já com o caminho diante de si, ainda afundar. —
A incompreensão sempre de novo manifestada obstinadamente pelos seres humanos com relação à verdadeira existência de um livre-arbítrio baseia-se principalmente na não compreensão daquilo que o livre-arbítrio realmente é.
A explicação, na verdade, já se encontra na própria definição, porém, como por toda parte, aqui também não se vê a coisa realmente simples, por causa de tanta simplicidade, mas sim se procura em lugares errados, não se chegando dessa maneira a formar uma noção do livre-arbítrio.
Por arbítrio, o maior número dos seres humanos hoje em dia entende aquela sintonização forçada do cérebro terreno, quando o intelecto, atado a espaço e tempo, indica e determina alguma determinada direção para o pensar e o sentir.
Esse, no entanto, não é o livre-arbítrio, mas o arbítrio atado pelo intelectoterreno!
Tal equívoco feito por tantas pessoas causa grandes erros, soergue as barreiras que impossibilitam um reconhecimento e uma compreensão. Admira-se então o ser humano quando aí encontra lacunas, depara com contradições e não consegue introduzir lógica nenhuma.
O livre-arbítrio, que sozinho atua tão incisivamente na verdadeira vida, de modo que se estende até longe no mundo do Além, que imprime seu cunho à alma, sendo capaz de moldá-la, é de espécie totalmente diferente. Muito maior para ser tão terrenal. Por isso não está em nenhuma ligação com o corpo terreno de matéria grosseira, portanto, também não com o cérebro. Encontra-se exclusivamente no próprio espírito, na alma do ser humano.
Se o ser humano não concedesse ao intelecto, sempre de novo, a soberania ilimitada, poderia o livre-arbítrio, com a visão mais ampla de seu verdadeiro “eu” espiritual, indicar ao cérebro do intelecto a direção, oriunda da fina intuição. Por esse motivo, a vontade atada, que é absolutamente necessária para a realização de todas as finalidades terrenas, ligadas a espaço e tempo, teria então de enveredar muitas vezes por outro caminho, diferente do que acontece agora. Que com isso também o destino toma outro rumo é fácil de se explicar, porque o carma, devido aos diferentes caminhos tomados, também ata outros fios, trazendo outro efeito recíproco.
Essa explicação, naturalmente, ainda não pode trazer uma compreensão correta sobre o livre-arbítrio. Para que seja traçado um quadro completo disso, é necessário saber de que forma o livre-arbítrio já tem atuado. E de que maneira ocorreu a trama tantas vezes intrincada de um carma já vigente, que é capaz de, em seus efeitos, encobrir o livre-arbítrio de tal forma, que a sua existência mal ou de forma alguma pode ainda ser reconhecida.
Tal explicação, porém, somente poderá ser dada, por sua vez, se for recorrido ao processo evolutivo completo do ser humano espiritual, a fim de partir daquele momento em que a semente espiritual do ser humano mergulha pela primeira vez no invólucro de matéria fina, no limite extremo da materialidade. —
Vemos então que o ser humano não é absolutamente o que cuida ser. Nunca tem no bolso o direito absoluto à bem-aventurança e à continuação eterna de uma vida pessoal. *(Dissertação Nº 20: O Juízo Final) A expressão: “Somos todos filhos de Deus”, no sentido interpretado ou imaginado pelos seres humanos, é errada! Nemtodo ser humano é um filho de Deus, mas só quando para tanto tenha se desenvolvido.
O ser humano é lançado na Criação como um gérmen espiritual. Esse gérmen contém em si tudo para poder se transformar em um filho de Deus, pessoalmente consciente. Aí, porém, é pressuposto que para tanto ele desenvolva as correspondentes faculdades e cuide delas, sem deixar que se atrofiem.
Grande e poderoso é o processo, e, todavia, inteiramente natural em cada etapa do fenômeno. Nada se encontra aí fora de uma evolução lógica; porque a lógica está em todo o atuar divino, por ser este perfeito e tudo quanto é perfeito não pode dispensar a lógica. Cada um desses germens espirituais contém as mesmas faculdades em si, visto que promanam de um só espírito, e cada uma dessas faculdades individuais encerra uma promessa, cujo cumprimento realiza-se incondicionalmente, tão logo a faculdade seja levada ao desenvolvimento. Mas também somente então! Essa é a perspectiva de cada gérmen na semeadura. No entanto...!
Saiu um semeador para semear: lá onde o divinal, o eterno, paira sobre a Criação, e onde o mais etéreo da matéria fina da Criação toca a entealidade, é o campo para a semeadura dos germens espirituais humanos. Pequenas fagulhas saem do enteal transpondo o limite e afundam no solo virgem da parte fino-material da Criação, tal como nas descargas elétricas de um temporal. É como se a mão criadora do Espírito Santo disseminasse sementes na materialidade.
Enquanto a semeadura se desenvolve e vagarosamente amadurece para a safra, muitos grãos se perdem. Não vingam, isto é, não desenvolveram suas faculdades mais elevadas, mas apodreceram ou secaram e devem perder-se na matéria. Aqueles, porém, que vingaram e sobressaem do solo, serão examinados rigorosamente por ocasião da colheita, as espigas vazias separadas das espigas cheias. Após a colheita, o joio será mais uma vez separado cuidadosamente do trigo.
Assim é a imagem do processo em geral. E agora, a fim de conhecermos o livre-arbítrio, temos de acompanhar mais detalhadamente o processo evolutivo propriamente dito do ser humano:
Como o mais elevado, o mais puro, é, em seu esplendor, o eterno, o divinal, o ponto de partida de tudo, o início e o fim, rodeado pelo luminoso enteal.
Quando então centelhas do enteal saltam para o campo da extremidade fino-material da Criação material, fecha-se instantaneamente em redor dessa centelha um invólucro gasoso de idêntica espécie de matéria dessa mais delicada região da materialidade. Com isso, o gérmen espiritual do ser humano entrou na Criação, a qual, como tudo o que é matéria, está sujeita a alterações e à decomposição. Ele ainda está livre de carma e espera as coisas que deverão vir.
Até a essas mais extremas ramificações chegam então as vibrações das fortes vivências que se processam incessantemente no meio da Criação em todo o formar e decompor.
Ainda que se trate dos mais delicados vislumbres que atravessam essa matéria fina gasosa como um sopro, são, pois, suficientes para despertar a vontade sensível no gérmen espiritual e chamar-lhe a atenção. Ele quer “provar” esta ou aquela vibração e segui-la ou, caso se queira expressar de outra forma, deixar-se levar por ela, o que equivale a um deixar-se atrair. Nisso, há a primeira decisão do gérmen espiritual multiplamente dotado e que doravante será, segundo a sua escolha, atraído para aqui ou acolá. Aí também já se vão atando os primeiros fios mais delicados do tecido que mais tarde constituirá o seu tapete de vida.
Agora, no entanto, poderá esse gérmen, que se desenvolve rapidamente, utilizar-se de cada momento para entregar-se às vibrações de outras espécies que cruzam de modo permanente e múltiplo o seu caminho. Tão logo o realize, isto é, o deseje, modificará assim sua direção, seguindo a espécie recém-escolhida ou, expresso de outra forma, deixando-se arrastar por ela.
Através de seu desejo ele pode mudar, como por meio de um leme, o curso nas correntezas, tão logo uma delas não mais lhe agrade. Assim consegue “provar” aqui e acolá.
Nesse provar ele amadurece mais e mais, recebe lentamente a faculdade de discernir e por fim a capacidade de julgar, até que finalmente, tornando-se cada vez mais consciente e seguro, segue numa determinada direção. Sua escolha das vibrações, as quais está disposto a seguir, não fica aí sem um efeito mais profundo sobre ele próprio. É apenas uma conseqüência muito natural que essas vibrações, nas quais ele, devido à sua livre vontade, por assim dizer, flutua, influenciem na reciprocidade o gérmen espiritual de acordo com sua espécie.
Mas o próprio gérmen espiritual, no entanto, possui em si apenas qualidades nobres e puras! Esse é o dote com que deve “vicejar” na Criação. Se ele se entregar a vibrações nobres, estas, na lei da reciprocidade, vivificarão, despertarão, fortalecerão e desenvolverão as propriedades latentes no gérmen, de modo que estas com o tempo produzem juros abundantes e distribuem grandes bênçãos na Criação. Um ser humano espiritual que dessa forma se desenvolve tornar-se-á com isso um bom administrador.
Mas, se ele se decidir predominantemente por vibrações baixas, estas podem com o tempo influenciá-lo tão fortemente que a espécie delas fica aderida a ele, cobrindo e sufocando as próprias faculdades puras do gérmen espiritual, não deixando que cheguem a um verdadeiro despertar e florescer. Estas têm, por fim, de ser consideradas como de fato “enterradas”, pelo que o respectivo ser humano tornar-se-á um mau administrador do dote a ele confiado.
Um gérmen espiritual não consegue, portanto, ser por si originariamente impuro, porque provém daquilo que é puro e traz apenas pureza em si. Pode, contudo, depois de seu mergulho na materialidade, conspurcar seu invólucro igualmente material pelo “provar” de vibrações impuras de acordo com a própria vontade, isto é, por meio de tentações, pode até com isso adquirir anímica e exteriormente coisas impuras, por fortes sufocações daquilo que é nobre, com o que ele então recebe características impuras, em contraste às capacidades inerentes e herdadas pelo espírito. A alma é somente o invólucro fino-material mais etéreo, gasoso, do espírito, e somente existente na Criação material. Após um eventual retorno para o puro espírito-enteal, situado mais acima, a alma é deixada para trás e só existe ainda o espírito, que de outra forma nem poderia ultrapassar o limite da Criação material para regressar ao espiritual. O seu regresso, seu retorno, no entanto, acontece então de forma viva, consciente, enquanto que a centelha que partiu ainda não o era no início.
Cada culpa e todo o carma é apenas de ordem material! Somente dentro do âmbito da Criação material, não diferentemente! Também não pode se transferir para o espírito, mas somente se aderir a ele. Razão pela qual é possível um lavar-se de toda a culpa.
Esse reconhecimento nada derruba, mas apenas confirma tudo o que a religião e a Igreja dizem figuradamente. Sobretudo, reconhecemos sempre mais e mais a grande Verdade que Cristo trouxe à humanidade.
É também evidente que um gérmen espiritual, que se sobrecarregou de coisas impuras na materialidade, não pode mais voltar novamente com essa carga para o espiritual, mas deverá permanecer na matéria até que tenha se desprendido desse fardo e podido livrar-se dele. Terá assim, naturalmente, de permanecer sempre na região para a qual o peso de sua carga o obriga, sendo para isso fator determinante o maior ou menor grau de impureza. Caso não consiga libertar-se e lançar fora o fardo até o dia do Juízo, não conseguirá ascender, apesar da sempre permanecente pureza do gérmen espiritual, que, aliás, pela sobrepujança das coisas impuras, não pôde desenvolver correspondentemente suas reais capacidades. O impuro, pelo seu peso, retém-no e arrasta-o junto para a decomposição de tudo quanto é material. *(Dissertação Nº 20: O Juízo Final)
Quanto mais consciente se torna então um gérmen espiritual em seu desenvolvimento, tanto mais o invólucro exterior irá se amoldando às características interiores. Ou aspirará ao que é nobre ou ao que é vil, isto é, ao belo ou ao feio.
Cada mudança de direção, que ele fizer, formará um nó nos fios, que ele vai arrastando atrás de si, que, em muitos caminhos errados, em muitas idas e vindas, podem vir a formar numerosas meadas como numa rede, na qual ele se emaranha, pelo que ou nela afunda, porque o retém, ou terá de se libertar violentamente. As vibrações às quais ele se entregou, provando ou usufruindo durante seus percursos, ficam ligadas a ele e arrastam-se atrás dele como fios, transmitindo-lhe, porém, também dessa forma, ininterruptamente, sua espécie de vibrações. Se ele então mantiver por longo tempo a mesma direção, assim os fios anteriores que se encontram mais longe, bem como os que estão mais perto, poderão atuar com intensidade não diminuída. Caso, porém, mude de rumo, as vibrações anteriores pouco a pouco irão se enfraquecendo em sua influência, por causa desse cruzamento, pois terão de passar primeiro por um nó que atua sobre elas de modo embaraçador, porque o enlaçamento em si já constitui uma ligação e fusão com a nova e diferente direção. A nova direção então resultante continua atuando em sua espécie diferente sobre a anterior, desagregando e dissolvendo, caso não pertença a uma espécie semelhante à primeira. E assim segue sucessivamente. Os fios vão se tornando mais espessos e mais fortes com o crescimento do gérmen espiritual, formando o carma, cujo efeito ulterior pode, por fim, adquirir tanto poder, que associa ao espírito este ou aquele “pendor”, que finalmente é capaz de prejudicar suas livres decisões, dando-lhes uma direção já antes estimável. Com isso o livre-arbítrio está então obscurecido, não pode mais atuar como tal.
Desde o início, portanto, existe o livre-arbítrio, só que muitos arbítrios estão mais tarde de tal forma sobrecarregados, que são fortemente influenciados pela maneira já mencionada, não podendo mais ser, portanto, nenhum livre-arbítrio.
O gérmen do espírito, que dessa forma vai se desenvolvendo mais e mais, deve, pois, ir se aproximando cada vez mais da Terra, visto que dela partem as vibrações de modo mais forte e ele, direcionando de forma cada vez mais consciente, segue-as, ou, melhor dito, deixa-se “atrair” por elas, a fim de poder provar cada vez mais intensamente as espécies escolhidas segundo a sua inclinação. Quer passar do petiscar para o real “provar” e, daí, para o “desfrutar”.
As vibrações oriundas da Terra são por isso tão fortes, porque aqui sobrevém algo de novo, muito revigorante: a força sexual corporal da matéria grosseira! *(Dissertação Nº 62: A força sexual em sua significação para a ascensão espiritual)
Essa tem a finalidade e a capacidade de “incandescer” toda a intuição espiritual. O espírito somente assim obtém correta ligação com a Criação material e pode por isso, só então, nela tornar-se ativo com pleno vigor. Abrange então tudo quanto é necessário para se fazer valer plenamente na materialidade, a fim de firmar-se nela em todos os sentidos, podendo atuar de maneira penetrante e dominadora, estando armado contra tudo e também protegido de tudo.
Daí as colossais ondas de força que emanam do vivenciar que se processa através dos seres humanos na Terra. Alcançam, no entanto, sempre apenas tão longe quanto a Criação material, contudo, nela vibrando até as ramificações mais delicadas.
Uma pessoa na Terra que fosse espiritualmente elevada e nobre, e que por isso viesse com elevado amor espiritual a seus próximos, permanecer-lhes-ia estranha, não podendo aproximar-se interiormente, tão logo fosse excluída sua força sexual. Assim, faltaria uma ponte para o entendimento e para o intuir anímico, existiria conseqüentemente um abismo.
No momento, porém, em que tal amor espiritual entra em pura ligação com a força sexual, e torna-se incandescido por esta, o fluxo para toda a materialidade recebe uma vida muito diferente, torna-se nisso terrenalmente mais real e consegue assim atuar sobre os seres humanos terrenos e sobre toda a materialidade de modo pleno e compreensível. Só assim ele é assimilado e compreendido por esta e pode trazer aquela bênção à Criação, que o espírito do ser humano deve trazer.
Há algo gigantesco nessa ligação. Esse é também o objetivo propriamente dito, pelo menos a finalidade principal, desse imensurável impulso natural, para tantos enigmático, a fim de deixar o espiritual desenvolver-se na materialidade até a plena força de atuação! Sem isso ele permaneceria demasiado estranho à materialidade, para poder manifestar-se direito. A finalidade procriadora só vem em segundo lugar. O fato principal é o impulso para cima que resulta dessa ligação no ser humano. Com isso o espírito humano também recebe sua força plena, seu calor e sua vitalidade, fica, por assim dizer, pronto com este processo. Por isso principia aqui, mas também somente agora, a sua plena responsabilidade!
A sábia justiça de Deus outorga ao ser humano, porém, nesse importante ponto de transição, também simultaneamente, não somente a possibilidade, mas sim até o impulso natural para desembaraçar-se facilmente de todo o carma com que até então sobrecarregou seu livre-arbítrio. Dessa forma, o ser humano consegue outra vez libertar o arbítrio completamente, para então, estando conscientemente de modo poderoso na Criação, tornar-se um filho de Deus, atuar no Seu sentido e subir às alturas em puras e elevadas intuições, para onde mais tarde será atraído, quando tiver deixado seu corpo de matéria grosseira.
Se o ser humano não fizer isso, a culpa é dele; pois com a entrada da força sexual manifesta-se nele, de modo preponderante, um impulso poderoso para cima, para o que é ideal, belo e puro. Isso sempre pode ser observado nitidamente na juventude incorrupta de ambos os sexos. Daí os entusiasmos dos anos da mocidade, infelizmente muitas vezes ridicularizados pelos adultos, e que não devem ser confundidos com os dos anos da infância. Por isso também nesses anos as intuições inexplicáveis, levemente melancólicas e com um ar de seriedade. Não são infundadas as horas em que parece que um moço ou uma jovem teria de carregar toda a dor do mundo, quando lhe surgem pressentimentos de uma profunda seriedade. Também o não se sentir compreendido, que tão freqüentemente ocorre, contém em si, na realidade, muito de verdadeiro. É o reconhecimento temporário da conformação errada do mundo em redor, o qual não quer nem pode compreender o sagrado início de um vôo puro às alturas, e só fica satisfeito quando essa tão forte intuição exortadora nas almas em amadurecimento é arrastada para baixo, para o “mais real” e sensato, que lhe é mais compreensível e que considera mais adequado à humanidade, julgando, em seu sentido intelectual unilateral, como o único normal.
Não obstante isso, existem inúmeros materialistas inveterados que, em idêntica época de sua vida, intuíram da mesma forma como uma severa advertência e que, aqui e acolá, falam prazerosamente do tempo áureo do primeiro amor com um leve acesso de certa sensibilidade, até de melancolia, que expressa inconscientemente certa dor sobre algo perdido, que não é possível descrever mais pormenorizadamente. E nisso todos eles têm razão! O mais precioso foi lhes tomado, ou eles próprios jogaram-no fora levianamente, quando, no cinzento dia-a-dia do trabalho, ou sob o sarcasmo dos assim chamados “amigos” e “amigas”, ou por meio de maus livros e exemplos, enterraram timidamente a jóia, cujo brilho, não obstante, irrompe novamente durante sua vida posterior, uma vez aqui e acolá, deixando aí num instante bater mais alto o coração insatisfeito, num inexplicável tremor de uma enigmática tristeza e saudade.
Mesmo que tais intuições sejam sempre de novo recalcadas e ridicularizadas rapidamente em amargo auto-escarnecimento, comprovam ainda assim a existência desse tesouro, e felizmente poucos são aqueles que podem afirmar nunca terem tido tais intuições. E esses também apenas seriam dignos de lástima; pois nunca viveram.
Mas mesmo tais corrompidos, ou digamos dignos de lástima, sentem então uma saudade, quando se lhes dá o ensejo de encontrar uma pessoa que utiliza essa força propulsora com disposição correta, e que, portanto, assim se tornou pura e já se encontra na Terra interiormente elevada. O efeito de semelhante saudade em tais pessoas é, porém, na maioria das vezes, primeiramente o reconhecimento involuntário da própria baixeza e negligência, que acaba transformando-se então em ódio, que pode chegar até a uma cólera cega. Não é raro também acontecer que uma pessoa perceptivelmente já animicamente elevada atraia sobre si o ódio de massas inteiras, sem que ela própria realmente tivesse dado motivo reconhecível externamente para tanto. Tais massas então não sabem outra coisa senão bradar: “crucificai-o, crucificai-o!”. Daí o grande número de mártires que a história da humanidade tem registrado.
A causa é a dor feroz de ver em outros algo precioso, que eles próprios perderam. Uma dor que só reconhecem como ódio. Em pessoas com maior calor interior, que foram retidas ou arrastadas para a imundície apenas devido a maus exemplos, a saudade daquilo que propriamente não foi conseguido provoca, num encontro com uma pessoa interiormente elevada, muitas vezes também ilimitado amor e veneração. Para onde quer que se dirija tal pessoa, há sempre apenas um pró ou um contra em torno dela. Indiferença não consegue resistir.
A graça misteriosamente irradiante duma jovem incorrupta ou dum moço incorrupto outra coisa não é senão o impulso puro da força sexual que desperta em união com a força espiritual para coisas mais elevadas e mais nobres, intuído conjuntamente pelo seu ambiente devido às fortes vibrações! Zelosamente, cuidou o Criador de que isso só sucedesse ao ser humano numa idade em que pudesse tornar-se plenamente consciente de sua vontade e de seus atos. Então é chegado o tempo no qual ele pode e deveria desembaraçar-se, como que brincando, de tudo quanto pertence ao passado, em ligação com a força plena nele agora existente. Cairia até por si, caso o ser humano mantivesse sua vontade pelo bem, ao que nessa época sente-se impulsionado sem cessar. Poderia, então, como as intuições mui acertadamente indicam, escalar sem esforço àquele degrau ao qual ele, como ser humano, pertence! Vede a atitude sonhadora da mocidade incorrupta! Nada mais é senão a intuição do impulso para cima, a vontade de libertar-se de toda a imundície, o anseio ardente pelo que é ideal. A inquietação impulsionadora, porém, é o sinal para não perder o tempo, mas desembaraçar-se energicamente do carma e iniciar a escalada do espírito.
Por isso a grande importância, o grande ponto de transição que a Terra é para a criatura humana!
É algo de esplêndido encontrar-se nessa força concentrada, atuar nela e com ela! Isso, enquanto a direção que o ser humano escolheu for boa. Mas também não existe nada mais miserável do que malbaratar essas energias unilateralmente em cega embriaguez dos sentidos e assim vir a paralisar seu espírito, privando-o de uma grande parte do impulso de que tanto necessita para chegar às alturas.
E, no entanto, o ser humano, na maioria dos casos, perde essa preciosa época transitória, deixando-se guiar pelo ambiente “entendido” para caminhos errados, os quais o retêm e, infelizmente, com demasiada frequência até o conduzem para baixo. Devido a isso não consegue libertar-se das turvas vibrações nele aderentes, as quais, pelo contrário, recebem apenas novo suprimento de forças e, assim, envolvem mais e mais o seu livre-arbítrio, até que ele não consegue mais reconhecê-lo.
Assim acontece na primeira encarnação na Terra. Nas seguintes encarnações, que se fazem necessárias, o ser humano trará consigo um carma muito mais pesado. A possibilidade de desvencilhamento, porém, apresenta-se, apesar disso, sempre de novo, e nenhum carma poderia ser mais forte do que o espírito do ser humano ao chegar na plenitude do seu vigor, tão logo receba através da força sexual a ligação sem lacunas com a materialidade, à qual, sim, o carma pertence.
Se, porém, o ser humano desperdiçou essas épocas para desvencilhar-se do seu carma e para a recuperação a isso ligada de seu livre-arbítrio, tendo se emaranhado mais ainda, tendo talvez até caído profundamente, apesar disso, ainda se oferece a ele um poderoso aliado para o combate do carma e para a ascensão. O maior vencedor que há, capaz de tudo sobrepujar. A sabedoria do Criador dispôs as coisas na materialidade de tal maneira, que os períodos mencionados não são os únicos em que o ser humano pode encontrar a possibilidade de auxílio rápido, nos quais ele consegue encontrar a si mesmo, bem como o seu real valor, recebe até para tanto um impulso extraordinariamente forte, a fim de que atente a isso.
Esse poder mágico, que está à disposição de cada ser humano durante toda sua existência terrena, em constante prontidão de auxílio, mas que também se origina da mesma união da força sexual com a força espiritual, podendo provocar a eliminação do carma, é o amor! Não o amor cobiçoso da matéria grosseira, mas o elevado e puro amor que outra coisa não conhece nem deseja senão o bem da pessoa amada, que nunca pensa em si próprio. Ele pertence também à Criação material e não exige renúncia nem penitencialismo, mas quer sempre apenas o melhor para o outro, preocupa-se com ele, sofre com ele, mas divide também com ele as alegrias.
Como base, tem ele as intuições semelhantes de anseio pelo ideal da juventude incorrupta no irromper da força sexual, mas também estimula o ser humano responsável, isto é, maduro, para a força plena de toda a sua capacidade, até ao heroísmo, de modo que a força produtiva e combativa seja concentrada à máxima intensidade. Aqui, em relação à idade, não são postos limites! Tão logo uma pessoa dê guarida ao amor puro, seja o de um homem por uma mulher ou vice-versa, ou por um amigo, ou por uma amiga, ou pelos pais, pelos filhos, não importa, se este apenas for puro, trará como primeira dádiva a oportunidade para livrar-se de todo o carma, que então apenas é remido ainda de forma puramente “simbólica”, *(Dissertação Nº 37: Simbolismo no destino humano) para o desabrochar do livre e consciente arbítrio, que  pode ser dirigido para cima. Como consequência natural, inicia-se então a escalada, o resgate das cadeias indignas que a retêm.
A primeira intuição que se manifesta quando desperta o amor puro é o julgar-se indigno diante do ser querido. Com outras palavras, pode-se descrever esse fenômeno como o princípio da modéstia e da humildade, portanto, o recebimento de duas grandes virtudes. A seguir, junta-se a isso o impulso de querer manter a mão sobre o outro, protetoramente, a fim de que não lhe aconteça mal algum de nenhum lado, mas sim que seu caminho o conduza por veredas floridas e ensolaradas. O “querer trazer nas palmas das mãos” não é um ditado oco, mas sim caracteriza mui acertadamente a intuição que brota. Nisso, porém, encontra-se uma abdicação da própria personalidade, uma grande vontade de servir, o que, por si só, poderia bastar para eliminar em pouco tempo todo o carma, tão logo essa vontade perdure e não dê lugar a impulsos puramente sensuais. Por último, manifesta-se ainda, no amor puro, o desejo ardente de poder fazer algo bem grande para o outro ser querido, no sentido nobre, de não o ofender ou ferir com nenhum gesto, nenhum pensamento, nenhuma palavra, muito menos ainda com uma ação feia. Torna-se viva a mais delicada consideração.
Trata-se, então, de segurar essas puras intuições e colocá-las acima de tudo o mais. Nunca alguém, então, quererá ou fará algo de mal. Simplesmente não o consegue, mas sim, pelo contrário, tem nisso a melhor proteção, a maior força, o mais bem-intencionado conselheiro e auxiliador.
Por esse motivo também Cristo, sempre de novo, indica para a onipotência do amor! Somente ele tudo sobrepuja, tudo consegue. Todavia, pressupondo sempre que não se trate apenas do amor terreno e cobiçoso, que contém em si o ciúme e seus vícios análogos.
O Criador, em Sua sabedoria, lançou com isso uma bóia de salvação na Criação, que não somente uma vez na vida terrena toca em cada criatura humana, a fim de que nela se segure e por ela se alce!
Esse auxílio está à disposição de todos. Não faz nenhuma diferença, nem na idade nem no sexo, nem no pobre nem no rico, tampouco no nobre ou humilde. Por essa razão, o amor é também a maior dádiva de Deus! Quem compreende isso, esse está certo da salvação de todas as vicissitudes e de todas as profundezas! Liberta-se, recupera assim de modo mais fácil e mais rápido um límpido livre-arbítrio, que o conduz para cima.
E mesmo que se encontre numa profundidade, que deve levá-lo ao desespero, o amor é capaz de arrancá-lo com o ímpeto de um furacão para cima, ao encontro da Luz, de Deus, que é o próprio amor. Tão logo numa pessoa desperte um amor puro mediante qualquer impulso, tem ela também a mais direta ligação com Deus, a fonte primordial de todo o amor, e com isso também o mais forte auxílio. Mas se um ser humano possuísse tudo e não tivesse o amor, só seria um metal soante ou um chocalho tilintante, isto é, sem calor, sem vida... nada!
Se vier a sentir, no entanto, amor verdadeiro por qualquer um de seus semelhantes, o qual só se esforça para dar à pessoa amada luz e alegria, não a degradar mediante cobiças insensatas, mas sim soerguê-la protegendo, então ele serve a ela, sem se tornar consciente do servir, propriamente, visto que assim se torna um desinteressado doador e presenteador. E esse servir liberta-o!
Muitos dirão para si mesmos: Eis exatamente isso que eu faço, ou pelo menos já me esforço! Procuro por todos os meios tornar fácil a vida terrena de minha mulher ou família, proporcionar-lhes prazeres, empenhando-me em conseguir tantos meios para que possam ter uma vida cômoda, agradável e livre de preocupações. Milhares baterão no peito, sentindo-se elevados e julgando-se por demais bons e nobres. Enganam-se! Esse não é o amor vivo! Este não é tão unilateralmente terreno, mas impulsiona ao mesmo tempo muito mais fortemente para o que é mais elevado, mais nobre e ideal. Claro é que ninguém deve impunemente, isto é, sem conseqüências prejudiciais, descuidar-se das necessidades terrenas, não deve negligenciá-las, mas estas não devem constituir a finalidade principal do pensar e do atuar. Acima disso paira, de modo imenso e forte, o desejar, tão misterioso para muitos, de poder ser, realmente, perante si mesmos, aquilo que valem perante aqueles pelos quais são amados. E esse desejar é o caminho certo! Ele conduz sempre somente para o alto.
O amor verdadeiro e puro não necessita ser esclarecido ainda mais detalhadamente. Cada ser humano sente perfeitamente como ele é constituído. Procura apenas enganar-se com frequência a tal respeito, quando vê aí os seus erros e intui de modo claro quão longe se encontra ainda realmente de amar de modo verdadeiro e puro. Mas ele deve então se animar, não pode parar hesitantemente e chegar por fim a falhar; pois para ele não existe mais um livre-arbítrio sem o verdadeiro amor!
Quantos ensejos são, portanto, proporcionados ao ser humano, a fim de se animarem e se lançarem rumo ao alto, sem que os aproveitem. Por isso, na maioria, suas lamúrias e buscas não são legítimas! Nem querem, tão logo eles próprios tenham de contribuir com algo, mesmo que seja apenas uma pequena modificação de seus hábitos e opiniões. Na maior parte é mentira, auto-ilusão! Deus é que deve vir até eles e soerguê-los para Si, sem que precisem renunciar à tão querida comodidade e à sua auto-adoração. Então, também, consentiriam em acompanhar, mas não sem esperar para tanto ainda um agradecimento todo especial de Deus.
Deixai que tais zangões sigam seu caminho para a ruína! Não merecem que alguém se esforce por eles. Deixarão passar sempre de novo, queixando-se e rezando, as oportunidades que se oferecem. Se uma tal pessoa, no entanto, se aproveitasse delas uma vez, então certamente iria privá-las de seu mais distinto adorno, da pureza e altruísmo, para arrastar este preciosíssimo bem à lama das paixões.
Pesquisadores e sábios devem finalmente se animar e se desviar dessas pessoas! Não devem pensar que estão fazendo obra agradável a Deus, quando oferecem continuamente a Sua Palavra e a Sua vontade sagrada como mercadoria barata e por meio de tentativas de ensinamentos, dando assim quase a aparência de que o Criador precisaria mendigar por intermédio de Seus fiéis para ampliar o círculo dos adeptos. É uma conspurcação, se for oferecida a esses que com as mãos imundas agarram-na. Não se deve esquecer a sentença que proíbe “atirar pérolas aos porcos”.
E outra coisa não se dá em tais casos. Desnecessário desperdício de tempo, que em tal medida não deve ser mais esbanjado, sem que, por fim, na ação retroativa, se torne prejudicial. Só devem ser ajudados aqueles que procuram.
A inquietação que por toda parte surge em muitas pessoas, o pesquisar e o procurar pelo paradeiro do livre-arbítrio são perfeitamente justificados e constituem um sinal de que não há tempo a perder. Reforça-se este fato com o pressentimento inconsciente de um possível tarde demais para tal. Isso mantém agora o pesquisar constantemente vivo. Mas é em grande parte inútil. Os seres humanos de hoje, em sua maior parte, não conseguem mais ativar o livre-arbítrio, porque se embaraçaram demasiadamente!
Venderam-no e mercadejaram-no... por nada!
Quanto a isso não poderão responsabilizar Deus, como se tenta fazer sempre de novo tão frequentemente, mediante toda a sorte de interpretações, para se eximirem do pensamento duma responsabilidade própria que os aguarda, mas terão de acusar a si mesmos. E mesmo que tal auto-acusação fosse perpassada da mais acerba amargura e da mais profunda dor, ainda assim não seria suficientemente forte para dar uma relativa compensação pelo valor do bem perdido, que foi insensatamente calcado ou desperdiçado.
Não obstante isso, o ser humano ainda pode encontrar o caminho para conquistá-lo novamente, tão logo se esforce seriamente nesse sentido. No entanto, sempre apenas quando ele o desejar do mais fundo do seu íntimo. Se esse desejo realmente viver nele e jamais enfraquecer. Deve trazer o mais ardente anseio para tanto. E mesmo que devesse empenhar nisso toda a sua existência terrena, só teria o que ganhar com isso; pois extremamente séria e necessária para o ser humano é a recuperação do livre-arbítrio! Podemos em lugar de recuperação dizer desenterramento, ou purificação libertadora. Vem a dar exatamente no mesmo.
Enquanto, porém, o ser humano só pensar e cismar a tal respeito, não conseguirá nada. O maior esforço e pertinácia têm de falhar aí, visto que através de pensamentos e cismas não conseguirá nunca ultrapassar os limites de tempo e espaço, isto é, jamais chegará até onde se encontra a solução. E como atualmente o pensar e o cismar têm sido considerados como o principal caminho para todo o pesquisar, não existe, também, nenhuma perspectiva de que se possa esperar um progresso além das coisas puramente terrenas. A não ser que os seres humanos se modifiquem nisso fundamentalmente.
Aproveitai o tempo da existência terrena! Pensai no grande ponto de transição que sempre traz consigo a plena responsabilidade!
Por esse motivo, uma criança ainda não se encontra espiritualmente capacitada, porque a ligação entre o espiritual e o material ainda não se efetuou nela através da força sexual. Só no momento da entrada de tal força é que suas intuições adquirirão aquele vigor capaz de perpassar de modo incisivo a Criação material, transformando-a e remodelando-a, com o que assumirá, de modo espontâneo, plena e inteira responsabilidade. Antes, os efeitos retroativos também não são tão fortes, porque a capacidade de intuição atua de modo muito mais fraco. Por isso, na primeira encarnação *(Entrada do ser humano na existência terrena) na Terra, um carma não pode ser tão pesado, mas, quando muito, pode influir na ocasião do nascimento, determinando o ambiente em que o nascimento se dá, a fim de que ajude o espírito, durante a vida terrena, a libertar-se do carma mediante o reconhecimento de suas propriedades específicas. Os pontos de atração das espécies iguais representariam aí um papel predominante. Tudo, porém, apenas em sentido fraco. O carma, propriamente dito, potente e incisivo, só se inicia quando no ser humano a força sexual se liga à sua força espiritual, pelo que ele se torna na matéria não apenas de pleno valor, mas pode, em todos os sentidos, sobrepujá-la amplamente, caso se sintonizar correspondentemente.
Até aí também as trevas, o mal, não conseguem chegar diretamente ao ser humano. Disso uma criança se acha protegida pela falta de ligação com o material. Como que separada. Falta a ponte.
Por isso, a muitos ouvintes tornar-se-á também mais compreensível por que as crianças gozam de uma proteção muito maior contra o mal, o que já é proverbial. Pelo mesmo caminho, porém, que forma a ponte para a força sexual que se inicia, e sobre a qual o ser humano pode andar lutando em seu pleno vigor, pode lhe chegar naturalmente também tudo o mais, se não estiver suficientemente vigilante. Mas em caso algum isso pode acontecer antes que possua também a necessária força defensiva. Não existe em momento algum uma desigualdade que permita surgir uma desculpa.
Por essa razão, a responsabilidade dos pais assume proporções gigantescas! Ai daqueles que privam os próprios filhos da oportunidade de se desembaraçar de seu carma e de ascender, quer por zombarias inoportunas, quer por educação errônea, se não até por maus exemplos, aos quais pertencem também as ambições exageradas nos mais variados setores. As tentações da vida terrena, já por si só, atraem neste ou naquele sentido. E por não ser explicada aos adolescentes a sua real posição de poder, ou eles nem aplicam a sua força ou aplicam-na de modo insuficiente, ou desperdiçam-na da maneira mais irresponsável, quando não fazem dela até uso errado e mau.
Assim, na ignorância, inicia-se, pois, o inevitável carma com ímpeto cada vez maior, lança adiante, influenciando, as suas irradiações através de algum pendor para isto ou aquilo, e restringe com isso o livre-arbítrio propriamente dito nas decisões, de modo que ele não é mais livre. Decorreu disso também o fato de a maioria da humanidade, hoje em dia, não mais poder ativar livre-arbítrio algum. Ela se atou, acorrentou, escravizou-se por própria culpa. Quão pueris e indignos se mostram os seres humanos, quando procuram repelir o pensamento duma responsabilidade incondicional, preferindo nisso lançar ao Criador uma censura de injustiça! Quão ridículo soa o pretexto de que até nem teriam nenhum livre-arbítrio próprio, mas seriam conduzidos, empurrados, aplainados e modelados, sem poder fazer algo contra isso.
Se ao menos por um momento quisessem conscientizar-se do mísero papel que representam realmente com tal comportamento. Se, antes de tudo o mais, finalmente quisessem se examinar de forma verdadeiramente crítica em relação à posição de poder que lhes foi concedida, a fim de reconhecer como eles a desperdiçam, irrefletidamente, em ninharias e futilidades transitórias, como, em troca, elevam bagatelas a uma posição de importância desprezível, sentem-se grandes em coisas nas quais, no entanto, têm de parecer tão pequenos em relação à sua destinação real como seres humanos na Criação. O ser humano de hoje é como um homem ao qual foi dado um reino e que prefere perder seu tempo com os mais simples brinquedos infantis!
É apenas evidente, e não de se esperar diferentemente, que as forças poderosas concedidas ao ser humano devam esmagá-lo, se não souber guiá-las.
É chegado o último momento para finalmente despertar! Devia o ser humano aproveitar plenamente o tempo e a graça que lhe são presenteados com cada vida terrena. Ainda não pressente quão indispensável isso já é. No momento em que vier a libertar novamente o arbítrio, que atualmente se acha preso, servi-lo-á tudo o que agora parece muitas vezes estar contra ele. Mesmo as irradiações dos astros, temidas por tantos, só existem para servi-lo e auxiliá-lo. Pouco importa de que natureza sejam.
E cada qual o consegue, mesmo que o carma ainda penda pesadamente nele! Mesmo que as irradiações dos astros pareçam ser predominantemente desfavoráveis. Tudo isso se efetua de modo pernicioso somente no caso de um arbítrio atado. Mas também aí apenas aparentemente; porque, na realidade, ainda assim será para o seu bem, se não souber mais ajudar a si mesmo de outra maneira. Desse modo será forçado a defender-se, a acordar e a estar alerta.
O medo das irradiações dos astros não é, contudo, apropriado, porque os fenômenos colaterais que aí se efetivam são sempre apenas os fios do carma, que está atuando para a respectiva pessoa. As irradiações dos astros constituem apenas canais, para os quais é conduzido todo o carma que, na ocasião, encontra-se suspenso para uma pessoa, até o ponto em que este, em sua espécie, corresponda às respectivas irradiações de igual espécie. Se, portanto, as irradiações dos astros são desfavoráveis, então se juntará nesses canais apenas carma suspenso desfavorável para o ser humano, aquilo que corresponde exatamente à espécie das irradiações, nada diferente. Igualmente nos casos de irradiações favoráveis. Guiado assim mais concentradamente, pode também efetivar-se sobre o ser humano sempre de modo mais sensível. Onde, porém, não há carma nocivo, as irradiações desfavoráveis dos astros também não poderão atuar de modo nocivo. Uma coisa não é separável da outra. Também nisso se reconhece mais uma vez o grande amor do Criador. Os astros controlam ou guiam os efeitos do carma. Consequentemente, um carma nocivo não pode atuar sem interrupções, mas também de permeio tem de deixar ao ser humano intervalos para tomar alento, porque os astros irradiam alternadamente e, assim, no período de irradiações benignas, o mau carma está impossibilitado de agir! Tem, pois, que interromper e aguardar até que recomecem as irradiações desfavoráveis, não podendo, por conseguinte, oprimir inteiramente uma pessoa tão facilmente. Não havendo, ao lado do carma nocivo da criatura humana, também algum carma benigno que se efetiva através das irradiações favoráveis dos astros, então, pelas irradiações favoráveis, pelo menos se consegue que o sofrimento venha a ter interrupções durante as épocas de irradiações benignas.
Assim se engrenam também aqui, uma na outra, as rodas dos acontecimentos. Uma coisa acarreta a outra, dentro da mais estrita lógica, e controla-a simultaneamente, a fim de que não possam ocorrer irregularidades. E assim prossegue, como num gigantesco conjunto de engrenagens. De todos os lados os dentes das engrenagens se entrosam de forma precisa e exata, movimentando e impulsionando tudo adiante, para o desenvolvimento.
No centro de tudo, porém, encontra-se o ser humano com o incalculável poder que lhe é confiado para dar, por meio de sua vontade, a direção a essa gigantesca engrenagem. No entanto, sempre apenas para si próprio! Poderá levá-lo para cima ou para baixo. Unicamente a sintonização é a determinante para o fim.
Todavia, a engrenagem da Criação não é constituída de material rígido, mas de formas e seres, todos vivos, que, atuando conjuntamente, causam uma impressão ainda mais gigantesca. Todo esse maravilhoso tecer, no entanto, serve apenas para ajudar o ser humano, para servi-lo, enquanto ele não interferir com o poder que lhe foi dado, de modo a embaraçá-lo pelo esbanjamento pueril e aplicação errada. Urge, por fim, que se enquadre diferentemente para tornar-se aquilo que deve ser. Obedecer outra coisa não significa, na realidade, senão compreender! Servir é auxiliar. Auxiliar, porém, significa reinar. Em pouco tempo cada um pode libertar seu arbítrio conforme deve ser. E dessa forma tudo muda para ele, pois ele próprio primeiramente mudou o seu íntimo.
Mas para milhares, centenas de milhares, sim, para milhões de seres humanos tornar-se-á demasiadamente tarde, porque não o querem diferentemente. É apenas natural que a força erradamente dirigida destrua a máquina, força que, de outra forma, teria lhe servido para realizar um trabalho abençoado.
Quando sobrevierem os acontecimentos, todos os hesitantes lembrar-se-ão de novo repentinamente de rezar, porém não poderão encontrar mais a maneira adequada, a qual, unicamente, poderia proporcionar auxílio. Reconhecendo então o falhar, passarão logo, em seu desespero, a blasfemar e a afirmar acusadoramente que não poderia existir um Deus, se Ele permite tais coisas. Não querem acreditar na justiça férrea, tampouco que lhes tenha sido dado o poder de modificar tudo ainda em tempo. E que isso também lhes fora dito com suficiente frequência.
Mas eles exigem para si, com obstinação pueril, segundo o seu modo, um Deus amoroso que tudo perdoa. Só nisso querem reconhecer a Sua grandeza! Como deveria esse Deus, segundo suas ideias, proceder então com aqueles que sempre O procuraram sinceramente, mas que justamente por causa desse procurar foram pisados, escarnecidos e perseguidos por aqueles que esperam perdão?
Tolos esses que, em sua cegueira e surdez sempre de novo desejadas, correm ao encontro da ruína, eles próprios criam com fervor sua destruição. Que fiquem entregues às trevas, ao encontro das quais se dirigem teimosamente, devido ao tudo saber melhor. Só mesmo mediante o próprio vivenciar é que ainda poderão chegar à reflexão. Por isso também as trevas serão a sua melhor escola. Mas virá o dia, a hora, em que esse caminho também será tarde demais, porque o tempo não será mais suficiente para, após um reconhecimento final pelo vivenciar, ainda se libertarem das trevas e ascenderem. Por esse motivo já é tempo de, finalmente, ocuparem-se seriamente com a Verdade.
Fonte: livro Na Luz da Verdade

Mensagem do Graal de Abdrushin

quarta-feira, 9 de março de 2016

O Pai Nosso

Na Luz da Verdade

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  O Pai Nosso

São apenas poucas as pessoas que procuram conscientizar-se do que realmente querem, quando proferem a oração “Pai – Nosso”. Menos ainda, as que sabem realmente qual o sentido das frases que aí estão recitando. Recitar é decerto a única expressão adequada para o procedimento que o ser humano, neste caso, chama de orar.
Quem se examinar rigorosamente a tal respeito tem de admitir isso, ou então testemunhará que passa toda a sua vida de idêntica maneira... superficial, não sendo, nem jamais tendo sido capaz de um pensamento profundo. Existem muitos desses nesta Terra que, sem dúvida, levam-se a sério, mas, pelos outros, mesmo com a melhor boa vontade, não podem ser levados a sério.
Exatamente o começo desta oração desde sempre é intuído erroneamente, conquanto de modos diversos. As pessoas que procuram proferir com seriedade esta oração, isto é, que nela se empenham com uma certa boa vontade, sentem surgir em si, logo após ou durante as primeiras palavras, um certo sentimento de segurança, de tranqüilidade anímica! E este sentimento permanece predominante nelas até alguns segundos depois de orar.
Isso explica duas coisas: primeiro, que quem reza só pode manter sua seriedade durante as primeiras palavras, através das quais se desencadeia tal sentimento, e, segundo, que justamente o desencadeamento desse sentimento prova quão longe se acha de entender o que com isso profere!
Mostra com isso, nitidamente, sua incapacidade de manter a profundidade do pensar, ou também sua superficialidade; porque, do contrário, com as palavras que se seguem, imediatamente devia surgir um outro sentimento, correspondente ao conteúdo alterado das palavras, tão logo nele elas se tornem realmente vivas.
Portanto, permanece nele apenas o que as primeiras palavras despertam. Entendesse ele, porém, o sentido correto e o significado verdadeiro das palavras, estas teriam de despertar-lhe uma intuição muito diferente do que um agradável sentimento de acolhimento.
Pessoas mais presunçosas vêem por sua vez na palavra “Pai” a confirmação de descenderem diretamente de Deus, e assim, num desenvolvimento correto, tornarem-se, por fim, até mesmo divinas, já trazendo, porém, sem dúvida, algo divino dentro de si. E assim existem ainda muitos outros erros entre os seres humanos quanto a esta frase. A maioria, contudo, considera-a simplesmente como a invocação na oração, o apelo! Aí necessitam pensar o mínimo possível. E correspondentemente é recitada sem reflexão, quando exatamente na invocação a Deus devia residir todo o fervor de que uma alma humana, enfim, pode tornar-se capaz.
Mas tudo isso esta primeira frase não deve dizer nem ser, contudo, o Filho de Deus inseriu na escolha das palavras simultaneamente a explicação ou a indicação de que maneira uma alma humana deve encaminhar-se para a oração, de que modo pode e deve apresentar-se perante seu Deus, se sua oração deve ser atendida. Diz exatamente qual a disposição que ela deve possuir em tal momento, como tem de ser seu estado de pura intuição, quando quiser depor seu pedido nos degraus do trono de Deus.
Assim, a oração toda se divide em três partes. A primeira parte é a entrega total, a rendição da alma perante seu Deus. Falando figuradamente, ela se abre de todo diante Dele, antes de aproximar-se com uma súplica, dando previamente testemunho de sua própria força de vontade pura. O Filho de Deus quer com isso deixar claro qual deve ser o intuir que unicamente pode formar a base para uma aproximação de Deus! Por isso apresenta-se como um grande sacrossanto juramento, quando no início se encontram as palavras: “Pai nosso, que estás no céu!” Considerai que oração não tem a mesma significação que pedido! Do contrário, não haveria orações de agradecimento que não contivessem nenhum pedido. Orar não é pedir. Já nisso o “Pai Nosso” tem sempre sido incompreendido até agora, por causa do mau hábito do ser humano de nunca se dirigir a Deus, se ao mesmo tempo não espera ou até exige algo Dele; pois no esperar já se encontra o exigir. E aí a criatura humana realmente sempre espera algo, isto ela não pode negar! Mesmo que, falando em traços gerais, exista nela apenas o sentimento nebuloso de receber um dia um lugar no céu. O ser humano não conhece a jubilosa gratidão no alegre usufruir de sua existência consciente a ele concedida, expressa na cooperação desejada por Deus ou por Deus com razão esperada na grande Criação para o bem de seu ambiente! Tampouco pressente que é justamente isso, e somente isso, que abrange seu próprio e verdadeiro bem-estar, seu progresso e sua ascensão.
Sobre tal base desejada por Deus, porém, encontra-se em verdade a oração “Pai Nosso”! De outra forma o Filho de Deus nem poderia tê-la dado, pois apenas desejava o bem dos seres humanos, que reside somente na correta observação e cumprimento da vontade de Deus!
A oração dada por ele é, portanto, tudo, menos uma oração de súplica, mas sim um grande juramento do ser humano abrangendo tudo, o qual, nisso, prostra-se aos pés de seu Deus! Deu-a Jesus aos seus discípulos, que estavam dispostos naquele tempo a viver em pura adoração a Deus, a servir a Deus com seu viver na Criação e com esse servir honrar Sua sacrossanta vontade!
A criatura humana deveria refletir bem e profundamente se pode atrever-se, enfim, a utilizar essa oração e a pronunciá-la, deveria examinar-se seriamente se, na utilização, não procura por acaso mentir a Deus!
As frases introdutórias advertem com clareza suficiente que cada um deve se examinar, se também realmente é assim como nelas se apresenta! Se com isso ousa aproximar-se sem falsidade do trono de Deus!
Se, contudo, vivenciardes em vós as três primeiras frases da oração, então elas vos conduzirão aos degraus do trono de Deus. Elas são o caminho para isso, quando numa alma chegarem ao vivenciar! Nenhum outro leva até lá. Mas este, seguramente! Não vivenciando essas frases, porém, nenhum dos vossos pedidos poderá chegar até lá.
Deve ser uma invocação submissa e, contudo, jubilosa, quando ousais proferir: “Pai nosso, que estás no céu!”
Nesta exclamação repousa a vossa sincera afirmação: “A ti, ó Deus, dou todos os direitos de Pai sobre mim, aos quais quero submeter-me com obediência infantil! E reconheço com isso também Tua onisciência, Deus, em tudo o que Tua determinação trouxer, e peço que disponhas de mim como um pai tem de dispor dos seus filhos! Aqui estou, Senhor, para Te ouvir e Te obedecer infantilmente!”
A segunda frase: “Santificado seja o Teu nome!” Esta é a afirmação da alma em adoração, de como nela é sincero tudo aquilo que ousa dizer a Deus. Que está presente com plena intuição em cada palavra e pensamento, não abusando com superficialidade do nome de Deus! Pois o nome de Deus lhe é sobremaneira sagrado! Considerai, vós que orais, o que com isto prometeis! Se quiserdes ser inteiramente sinceros convosco, tendes de reconhecer que vós, seres humanos, até agora, justamente com isto, tendes mentido diante do semblante de Deus; porque nunca fostes tão sinceros na oração conforme o Filho de Deus, pressupondo, estabeleceu nestas palavras como condição!
A terceira frase: “Venha a nós o Teu reino!” novamente não é nenhum pedido, mas apenas mais uma promessa! É um prontificar-se de que através da alma humana tudo deve tornar-se aqui na Terra tal como é no Reino de Deus! Por isso a expressão: “Venha a nós o Teu reino!” Isto quer dizer: Nós seres humanos queremos fazer de tudo aqui na Terra para que o Teu reino perfeito possa estender-se até aqui! O solo deve ser preparado por nós de modo que tudo viva apenas segundo a Tua santa vontade, isto é, cumprindo plenamente as Tuas leis da Criação, de maneira a tudo se realizar tal qual é em Teu reino, o reino espiritual onde se encontram os espíritos amadurecidos e livres de todas as culpas e cargas, que apenas vivem servindo à vontade de Deus, porque somente no cumprimento incondicional desta surge algo de bom, pela perfeição nela latente. É, portanto, a afirmação de querer tornar-se assim, para que também a Terra, mediante a alma humana, venha a ser um reino do cumprimento da vontade de Deus!
Tal afirmação fica ainda reforçada pela frase seguinte: “Seja feita a Tua vontade, como no céu, assim também na Terra!” Essa não é apenas a declaração da boa vontade de enquadrar-se inteiramente na vontade divina, mas incluída nela também a promessa de interessar-se por essa vontade, de esforçar-se com toda a diligência, após o reconhecimento dessa vontade. Tal esforço tem de preceder, sim, a uma adaptação a essa vontade; pois enquanto a criatura humana não a conhecer direito, não estará apta a orientar-se por ela com seu intuir, seu pensar, falar e agir! Que enorme e condenável leviandade é, pois, para cada ser humano fazer essas promessas sempre e sempre de novo ao seu Deus, quando na realidade nem se importa de como seja a vontade de Deus, que se acha firmemente ancorada na Criação. O ser humano mente, sim, em cada palavra da oração, quando ousa proferi-la! Com isso, encontra-se como um hipócrita diante de Deus! Acumula sempre novas culpas por cima das antigas, sentindo-se por fim digno de lástima, quando ele, no corpo de matéria fina, tiver de sucumbir no Além sob este fardo. Para reconhecer corretamente a vontade de Deus, foi lhe dada oportunidade agora já por três vezes! Uma vez através de Moisés, que foi para isso inspirado. *(Iluminado) A segunda vez pelo próprio Filho de Deus Jesus, que trouxe a Verdade dentro de si, e agora, a terceira e, com isso, a última vez, na Mensagem do Graal que, por sua vez, foi haurida diretamente da Verdade. —
Somente quando estas frases tiverem sido cumpridas realmente por uma alma, como condição preliminar, é que ela poderá prosseguir: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje!” Isso equivale a dizer: “Se eu tiver cumprido aquilo que afirmei ser, deixa então que a Tua bênção paire sobre a minha atuação terrena, a fim de que eu, nas atividades para a obtenção de minhas necessidades grosso-materiais, disponha sempre de tempo para poder viver segundo a Tua vontade!”
E perdoa-nos nossa dívida, assim como nós perdoamos aos nossos devedores!” Nisso jaz o saber a respeito do incorrupto, justo efeito retroativo das leis espirituais, que transmitem a vontade de Deus. Simultaneamente também a expressão da confirmação na plena confiança nisso; pois o pedido de perdão, isto é, de remição da culpa, baseia-se condicionalmente no cumprimento anterior, pela alma humana, do próprio perdoar de todas as injustiças que os semelhantes lhe fizeram. Quem, porém, é capaz disso, quem já houver perdoado tudo ao seu próximo, este também está de tal forma purificado interiormente que ele próprio, intencionalmente, nunca comete injustiça! Com isso, todavia, também estará livre perante Deus de todas as culpas, uma vez que lá só é considerado como injustiça o que tiver sido feito intencionalmente de má fé. Só assim é que vem a ser uma injustiça. Há nisso uma grande diferença com relação a todas as leis humanas e conceitos terrenos atualmente existentes.
Assim, pois, também nessa frase, como base, encontra-se novamente uma promessa perante seu Deus de cada alma que almeja a Luz, declaração de sua verdadeira vontade, para cuja realização espera, através do aprofundamento e compreensão de si mesma, receber força na oração, a qual, na sintonização correta, também receberá segundo a lei da reciprocidade.
E não nos deixes cair em tentação!” É um conceito errado, quando a criatura humana quer ler nestas palavras que seria tentada por Deus. Deus não tenta ninguém! Trata-se neste caso apenas de uma transmissão incerta que escolheu inabilmente o termo tentação. Seu sentido correto deve ser classificado em conceitos como errar, perder-se, isto é, andar errado, procurar erradamente no caminho ao encontro da Luz. Equivale a dizer: “Não nos deixes tomar caminhos errados, procurar erradamente, não nos deixes fazer mau uso do tempo! Desperdiçá-lo, malbaratá-lo! Mas retém-nos à força, se necessário for, inclusive se tal necessidade tenha de atingir-nos como sofrimento e dor.” Este sentido o ser humano também tem de deduzir da sentença seguinte, e de acordo com o teor diretamente ligado a ela: “Mas livra-nos do mal!” Este “mas” mostra bem nitidamente a unidade das frases. O sentido equivale a: Faze-nos reconhecer o mal, seja qual for o preço que isso venha a nos custar, mesmo com o preço do sofrimento. Capacita-nos para tanto por intermédio de Teus efeitos recíprocos em cada uma de nossas faltas. No reconhecer encontra-se também a remição para aqueles que tenham boa vontade para isso!
Com isso termina a segunda parte, o colóquio com Deus. A terceira parte constitui o remate: “Pois Teu é o reino, a força e a magnificência por toda a eternidade! Amém!”
É uma confissão jubilosa do sentimento de ser acolhido na onipotência de Deus através do cumprimento de tudo aquilo que a alma na oração deposita-Lhe aos pés como juramento! —
Esta oração dada pelo Filho de Deus possui, por conseguinte, duas partes. A introdução da aproximação e o colóquio. Por último, adveio por Lutero a confissão jubilosa do saber do auxílio para tudo aquilo que o colóquio encerra, do recebimento da força para o cumprimento daquilo que a alma prometeu ao seu Deus. E o cumprimento terá de levar a alma ao Reino de Deus, ao país da alegria eterna e da Luz! Assim o Pai Nosso, quando realmente vivenciado, torna-se o apoio e o bastão para a escalada ao reino espiritual!
O ser humano não deve esquecer-se de que numa oração ele tem de buscar, na realidade, somente a força, para poder ele próprio realizar o que pede! Assim deve orar! E assim também é constituída a oração que o Filho de Deus deu aos discípulos!

Mensagem do Graal de Abdrushin
Fonte: Na Luz da Verdade V. 2

segunda-feira, 7 de março de 2016

Infantilidade




Infantilidade

A palavra “infantil” é uma expressão, que pelos seres humanos, em seu modo leviano e impensado de falar, na maioria dos casos é empregada erroneamente.
Impedida pela preguiça espiritual, a expressão não é suficientemente intuída, para também poder ser compreendida direito. Quem, porém, não a houver compreendido em toda a sua extensão, jamais poderá empregá-la acertadamente.
E, no entanto, é exatamente a infantilidade que oferece aos seres humanos uma forte ponte para a escalada às alturas luminosas, para a possibilidade de amadurecimento de cada espírito humano e para o aperfeiçoamento em prol duma eterna existência nesta Criação, que é a casa de Deus-Pai, que Ele põe à disposição dos seres humanos, se... ali permanecerem como hóspedes agradáveis. Hóspedes, que não causam danos aos recintos, que, cheio de graça, lhes foram concedidos apenas para usufruto, com mesa sempre fartamente posta.
Quão distanciado, porém, se encontra agora o ser humano dessa infantilidade para ele tão necessária!
Contudo, sem ela nada poderá obter para o seu espírito. O espírito tem de possuir infantilidade, pois é e permanece uma criança da Criação, mesmo quando adquiriu para si total maturidade.
Uma criança da Criação! Nisso jaz o sentido profundo; pois tem de se desenvolver de maneira a se tornar uma criança de Deus. Quanto a ele alcançar isso, só depende do grau de reconhecimento que ele está disposto a adquirir em sua peregrinação através de todas as matérias.
Conjuntamente com esse estar disposto tem de mostrar também a ação. Nos planos espirituais, a vontade é ao mesmo tempo também ação. Vontade e ação sempre são acolá uma única coisa. Contudo, isto só é assim nos planos espirituais e não nas materialidades. Quanto mais denso e mais pesado for um plano da matéria, tanto mais longe a ação fica da vontade.
Que a densidade age estorvando, já se percebe no som que na movimentação tem de se esforçar a passar através da matéria, que o retarda conforme a espécie da densidade. Isto é perceptível nitidamente, já a distâncias mais curtas.
Quando uma pessoa corta lenha, ou também prega vigas em qualquer construção, pode-se ver nitidamente o golpe da sua ferramenta, ao passo que o som dele só chega após alguns segundos. Isso é tão notório que provavelmente não há pessoa que já não tenha assistido a isso aqui e acolá.
De modo análogo, mas ainda mais difícil, ocorre com o ser humano na Terra com relação à vontade e à ação. A vontade irrompe no espírito, ela, no espírito, se torna imediatamente ação. Todavia, para tornar a vontade visível na matéria, ele precisa ainda do corpo de matéria grosseira. Somente no impulso age cada corpo já alguns segundos depois do irromper da vontade. Com isso, fica excluído o trabalho mais demorado de um cérebro anterior, o qual normalmente tem de intermediar o caminho da vontade até a impressão sobre a atividade do corpo.
O caminho real dura um tempo relativamente mais longo. Às vezes vem a ser apenas uma manifestação fraca, ou nem chega a se tornar ação, porque a vontade acaba por se enfraquecer durante o trajeto mais longo, ou então, por causa do intelecto cismador, fica completamente bloqueada.
Com relação a essa consideração, quero dar uma indicação, independente desse assunto, sobre efeitos despercebidos e, contudo, nitidamente visíveis na atuação humana, da lei da Criação da atração de espécies iguais:
As leis humano-terrestres são elaboradas pelo intelecto terreno e são também executadas por ele. Por isso, os planos ponderados com o intelecto, isto é, atos premeditados, são, como tais, castigados mais severamente e julgados mais gravemente do que os atos irrefletidos, isto é, não premeditados. A estes últimos, na maioria dos casos, é concedido julgamento mais brando.
Isto tem na realidade, imperceptível aos seres humanos, uma conexão na igual espécie da atuação do intelecto sob a pressão da lei da Criação para todos aqueles, que se curvam incondicionalmente ao intelecto. A estes, isso é inteiramente compreensível.
Sem saber disso, num ato irrefletido, a maior parte do remate da culpa é, com isso, transferida para o plano espiritual. Legisladores e juízes nada disso pressentem, pois partem de princípios muito diversos, puramente racionais. Todavia, numa reflexão mais profunda e no conhecimento das leis atuantes da Criação, tudo se encontra sob uma luz bem diversa.
Apesar disso, também em outros julgamentos e sentenças terrenos, as leis vivas de Deus na Criação atuam totalmente autônomas por si, sem ser influenciadas pelas leis nem pelos conceitos humano-terrestres. Provavelmente a nenhum ser humano ocorrerá que verdadeira culpa, não por acaso apenas uma rotulada como tal pelas criaturas humanas, depois de cumprido o castigo ditado e imposto pelo intelecto terreno, pudesse estar liquidada também simultaneamente perante as leis de Deus!
Já desde milênios são praticamente dois mundos distintos, separados pelo modo de pensar e de agir das criaturas humanas, conquanto devessem ser somente um mundo, onde unicamente atuassem as leis de Deus.
Mediante um tal castigo terrestre só pode resultar um resgate, enquanto as leis e as penalidades concordarem totalmente com as leis da Criação de Deus. Existem, porém, dois tipos de atos irrefletidos. Primeiro, os já descritos, que na verdade deveriam chamar-se impulsos e, além disso, aqueles que irrompem no cérebro anterior, isto é, não no espírito, e que pertencem ao setor do intelecto. Eles são irrefletidos e não deveriam ter as mesmas atenuações como as ações de impulso.
Todavia, descobrir nisso de forma exata a diferença justa, só será possível àquelas pessoas, que conhecem todas as leis de Deus na Criação e que estão a par de seus efeitos. Isto deve ficar reservado a um tempo vindouro, no qual também entre os seres humanos não haja mais ações arbitrárias, porque estes terão uma maturidade espiritual, que os deixará vibrar somente nas leis de Deus em todo o seu agir e pensar.
A digressão tem apenas o fim de estimular a reflexão, não pertencia ao tema específico desta dissertação.
Basta que fique acentuado aqui que vontade e ação são uma única coisa nos planos espirituais, mas que são separadas nos planos materiais devido à espécie da matéria. Por isso Jesus outrora já disse aos seres humanos: O espírito está disposto, mas a carne é fraca! A carne, aqui significando a matéria grosseira do corpo, não transforma tudo aquilo em ação, que no espírito já era vontade e ação.
Contudo, o espírito poderia também aqui na Terra, em sua roupa de matéria grosseira, forçar para que a sua vontade sempre se torne ação grosso material, se não fosse demasiado indolente para isso. Ele não pode responsabilizar o corpo por essa indolência, porque o corpo foi dado a cada espírito apenas como instrumento, que ele deve aprender a dominar, para dele utilizar-se com acerto.
O espírito, portanto, é uma criança da Criação. E tem de ser infantil nela, se quiser cumprir a finalidade para a qual se encontra na Criação. A presunção do intelecto deixou-o afastar-se da infantilidade, porque não soube “compreendê-la” como aquilo que realmente é. Com isso, porém, ele perdeu o apoio na Criação, que agora tem de expulsá-lo como estranho, como perturbador e nocivo, para ela própria poder permanecer sadia.
E assim acontecerá que os seres humanos venham a cavar sua própria sepultura, devido ao seu modo errôneo de pensar e de agir.
Eu já falei disso na festa do Natal, como é estranho que cada ser humano, que deseja que a festa de Natal atue uma vez de maneira realmente certa sobre ele, tem de procurar primeiro se transportar para a infância!
Isto deve ser visto, pois, como um sinal suficientemente nítido de que ele, como adulto, nem é capaz de vivenciar a festa de Natal com a intuição. É a prova bem nítida de que perdeu alguma coisa, que possuía quando criança! Por que isso não dá o que pensar aos seres humanos!
Trata-se novamente de indolência espiritual, que os impede de se ocuparem seriamente com as coisas. “Isso é para crianças”, pensam eles, e os adultos não têm tempo para isso! Eles têm de meditar sobre coisas mais sérias.
Coisas mais sérias! Com essas coisas mais sérias referem-se somente à caça às coisas da Terra, isto é, trabalho do intelecto! O intelecto rechaça depressa as recordações para longe, a fim de não perder a primazia, quando uma vez é dado lugar à intuição!
Em todos esses fatos aparentemente tão pequenos poderiam ser reconhecidas as maiores coisas, se o intelecto somente desse tempo para isso. Mas ele tem o predomínio e luta por isso com toda a astúcia e malícia. Isto é, não ele, mas na realidade luta aquilo, que se utiliza dele como instrumento e que se esconde atrás dele: as trevas!
Não querem deixar encontrar a Luz nas recordações. E como o espírito anseia encontrar a Luz e dela haurir nova força, reconhecereis pelo fato de que com as recordações do Natal da criança desperta também uma indeterminada e quase dolorosa saudade, que é capaz de enternecer passageiramente muitas pessoas.
Esse enternecimento poderia tornar-se o melhor solo para o despertar, se fosse utilizado logo e também com toda a força! Mas infelizmente os adultos perdem-se somente ainda em devaneios, com o que desperdiçam e perdem a força que surge. E nesses devaneios se passa também a oportunidade, sem poder trazer proveito ou sem ter sido utilizada.
Mesmo quando algumas pessoas deixam cair algumas lágrimas com isso, envergonham-se delas, procuram escondê-las, recompõem-se com um impulso físico, no qual mui frequentemente se torna reconhecível uma inconsciente teimosia.
Quantas coisas os seres humanos poderiam aprender com tudo isso. Não é em vão que nas recordações da infância se insere uma leve melancolia. Trata-se do sentimento inconsciente de ter perdido algo, que deixou um vazio, a incapacidade de ainda intuir infantilmente.
Mas decerto tendes notado muitas vezes o efeito maravilhoso e revigorante de uma pessoa, apenas com sua presença silenciosa, de cujos olhos irrompe de vez em quando um brilho infantil.
O adulto não deve esquecer que o infantil não é pueril. Ignorais, porém, por que o infantil pode atuar assim, o que ele é na realidade! E por que Jesus disse: Tornai-vos como as crianças!
Para descobrir o que é infantil, deveis primeiramente ficar cientes de que o infantil absolutamente não está ligado à criança em si. Com certeza vós próprios conheceis crianças, às quais falta a verdadeira e bela infantilidade! Existem, portanto, crianças sem infantilidade! Uma criança maldosa nunca se comportará infantilmente, tampouco uma criança mal educada, na realidade, não educada!
Disso resulta claramente que infantilidade e criança são duas coisas por si independentes.
Aquilo, que na Terra se chama infantil é um ramo da atuação da pureza! Pureza no sentido mais elevado e não apenas no sentido humano-terrenal. O ser humano, que vive na irradiação da pureza divina, que concede lugar para a irradiação da pureza dentro de si, adquiriu com isso também o infantil, seja ainda na idade da infância ou já como adulto.
A infantilidade é resultado da pureza interior, ou o sinal de que tal ser humano se entregou à pureza, a serve. Estas são apenas maneiras diferentes de expressão, na realidade, porém, sempre a mesma coisa.
Por conseguinte, somente uma criança em si pura pode comportar-se infantilmente, assim como um adulto, que cultive a pureza dentro de si. Por isso ele exerce um efeito revigorante e vivificador, desperta também confiança!
E onde existir a verdadeira pureza, poderá surgir também o verdadeiro amor; pois o amor de Deus atua na irradiação da pureza. A irradiação da pureza é o seu caminho, por onde ele segue. Não seria capaz de seguir por outro.
Quem não tiver absorvido, dentro de si, a irradiação da pureza, a esse nunca poderá chegar a irradiação do amor de Deus!
O ser humano, porém, privou-se da infantilidade com o seu afastamento da Luz, por causa do seu pensar intelectivo e unilateral, ao qual sacrificou tudo o que podia soerguê-lo, e assim se forja com mil correntes firmemente à Terra, isto é, à matéria grosseira, que o retém sob seu jugo, até que ele mesmo possa libertar-se disso, o que no entanto não pode conseguir com a morte terrena, e sim somente no despertar espiritual.

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Fonte:   Livro Na Luz da Verdade - Abdruschin

Dissertação publicada na revista Die Stimme (A Voz); Caderno 4; 1937.
Postado há 9th November 2012 por Rubens de Oliveira Santos