sábado, 11 de março de 2017

Carta psicografada de uma alma bondosa!

CARTA PSICOGRAFADA DE UMA ALMA BONDOSA



Um ano é decorrido desde que me despi da roupagem carnal. Ano de intensas lutas para quem não estava preparado para enfrentar a realidade da vida de além túmulo. Ano cheio de novas descobertas surpreendentes, para quem não acreditaria jamais encontrar fora do ambiente terráqueo, uma organização completa, em todos os sentidos.
Anos de estudos adiantados na grande Universidade da vida eterna. Estudos que propiciam pelo aprendizado do próprio eu, com a análise dos sentimentos do próprio coração. Estudo despido do caráter transitório das teorias humanas, construídas sobre as opiniões da maioria, que sempre vence no meio humano. Estudo sobretudo, prático, profunda e essencialmente objetivo, onde aprendemos a nos orientar segundo os princípios fundamentais das leis imutáveis e eternas do Criador.
Não me entendas por isso que já me libertei completamente das coisas materiais. Na verdade, vencer esta tendência de agarrar-se àqueles que ficaram para trás, é das coisas mais difíceis de se conseguir. Ainda persiste em meu íntimo o choque tremendo da brutalidade com que me fui compelido a abandonar o corpo físico. A separação dos entes mais amados, me trás momentos dolorosos de profundo abatimento moral.
Uma força difícil de ser vencida me impele a regressar ao ninho terrestre com aqueles que mais amei na vida. É uma luta incompreensível, talvez para vós outros, porquanto aí no mundo físico jamais o homem poderá avaliar o que representa ser ferido por um golpe como o que eu sofri.
Mas para felicidade minha, já capacitei de que não fui injustiçado; antes, que devo agradecer o ocorrido Àquele que preside a todos os acontecimentos da vida, porquanto, do lado de cá conseguimos, à proporção da nossa capacidade de compreensão, retroceder nos séculos e vislumbrar no passado distante, aquilo que é a causa de nossas desventuras presentes. À Geni e às crianças o meu abraço caloroso.
Não se deixem vencer pelas tristezas e pela saudade. Compreendam que a morte não é o fim de coisa alguma, se não de uma jornada que empreendemos para aprender a viver neste mundo de Deus. Vocês continuam na escola terrena, enquanto eu agora estou na escola superior da vida. Separados estamos apenas, porque vocês não podem me ver, em carne e osso.
Porém, isso não quer dizer que eu não possa estar junto de vocês. E quando findar o vosso aprendizado, nos reuniremos novamente aqui, a verdadeira pátria do espírito eterno. Não chorem mais, nem se entreguem a lamentações, por mais difícil que vos pareça esquecer a crueldade da separação.
Deus sabe o que faz e nós de nada devemos queixar, porquanto sendo Ele supremamente Bom, não poderia desejar que sofrêssemos injustamente. Se sofremos é que disso temos necessidade para após podermos ser mais felizes. A verdadeira felicidade não existe aí na terra, embora possamos ter tudo o que os nossos sentidos almejem.
A felicidade absoluta, só a desfrutam aqueles que vencem as batalhas do próprio aperfeiçoamento de seus sentimentos mais íntimos. Por isso mesmo, suportemos com resignação e paciência a sorte que nos coube a todos e procuremos amparar-nos mutuamente pela prece, a mais poderosa de todas as armas de que a alma dispõe para vencer as mais acerbas provas que tiver que enfrentar.
Não peçamos, porém, a Deus o impossível, nem queiramos que Ele remedeie o que não tem mais remédio. Supliquemos apenas que nos infunda paciência, resignação, fé e esperança, para que possamos tragar até a última gota, o amargo cálice que a nossa própria imprevidência preparou em vidas passadas.
Tenham ânimo e coragem. O que aconteceu não pode ser tornado sem efeito e embora vos pareça chocante, creiam que foi em benefício de todos nós. É uma lição de vida que tínhamos de estudar juntos. Esforcemo-nos para que não sejamos reprovados no dia do exame final. Aos meus amigos do CPOR agradeço a sincera homenagem que me prestaram e que foi totalmente imerecida.
Muitos, talvez, não acreditam que estas simples linhas tenham sido traçadas pelo velho “cunhado” do eterno charuto. Mas não faz mal. Minha intenção não é a de convencer ninguém e nem tampouco de induzir alguém a tomar conhecimento dos fenômenos espíritas.
Neles aliás, não acreditava e sempre acolhia com um risinho de mofa as dissertações deste dedicado amigo sobre o assunto. E para mal de meus pecados agora aqui estou a servir-se da mão e do cérebro dele, para vos transmitir os seus pensamentos. A vida é assim.
Não se morre nunca, apesar das aparências em contrário e o velho Gastão ainda pode embora ninguém mais o veja  e nem perceba sua presença, acompanhar os velhos e inesquecíveis amigos na suas discussões, alegrias e tristezas. Obrigado amigos. Foi um belo gesto o de vocês. 
Nada é mais triste, mormente na situação em que me encontro, do que ser-se esquecido. A lembrança dos amigos e parentes conforta-nos o coração e dá-nos ânimo para prosseguirmos a estudar a nós mesmos, nesta escola que todos, mais dia menos dia, têm que frequentar, queiram ou não, acreditem ou não. Ao bondoso amigo os meus sinceros agradecimentos, pela boa vontade com que me atendeu novamente e que Deus o cubra de bênçãos para que possa levar a bom termo a missão que aí te levou.    
Em 10 de abril de 1958. 
                                                                  Ass.)   GASTÃO.                       



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