domingo, 2 de abril de 2017

A PORTA NEGRA




PORTA NEGRA

Uma das armas mais poderosas que o ser humano tem é a sua imaginação. Ela tanto pode levá-lo para o bem quanto para mal e depende apenas do modo como a usa. Há situações na vida que nem sempre é de bom alvitre nos utilizar da capacidade imaginativa, posto que, as decisões podem envolver o uso do raciocínio para resolver momentos críticos. 
A imaginação pode ser muito perigosa, mormente quando nos colocam numa situação temerosa, somente porque alguém disse algo que nos apavora. Todavia, não deu provas do medo que nos incutiu, pois, há casos em que as aparências enganam e não saberemos nunca o que há por trás, a não ser que verifiquemos no ato.
Na vida real, é comum representantes do mundo eclesiástico ameaçarem os fiéis com a condenação do fogo eterno (inferno), caso não cumpram com as obrigações religiosas, assim como os pais quando querem obediência dos filhos, ameaçam-nos com bichos-papões. Estes, quando crescerem descobrirão que foram enganados; aqueles, quando morrerem também ficarão sabendo que foram tapeados.
É por isso que fomos dotados do uso do raciocínio, livres para pensar o que é melhor para nós, por escolha própria, ainda que o destino que nos apresentam seja pavoroso. 
Nossa história semanal ilustra algo assim: No país de Mil e uma Noites havia um rei que era muito polêmico por causa de seus atos. Ele pegava os prisioneiros de guerra e levava-os para uma enorme sala. Os prisioneiros eram enfileirados no centro da sala e o rei gritava: 
– Eu vou dar uma chance para vocês. Olhem para o canto direito da sala. Ao olharem, os prisioneiros viam alguns soldados armados de arco e flechas, prontos para a ação. – Agora – continuava o rei – olhem para o canto esquerdo. Ao olharem, notavam que havia uma terrível Porta Negra de aspecto dantesco. Crânios humanos serviam como decoração e a maçaneta era a mão de um cadáver. Algo horripilante só de imaginar, quanto mais de ver.
O rei se posicionava no centro da sala e gritava: – Agora, escolham: o que vocês querem? Morrerem cravados de flechas ou abrirem rapidamente aquela porta negra e entrarem lá dentro enquanto eu tranco vocês? Agora decidam; vocês têm livre-arbítrio – escolham...
Todos os prisioneiros tinham o mesmo comportamento: na hora da decisão, eles chegavam perto daquela horrível porta de mais de quatro metros de altura, olhavam para os desenhos de caveiras, sangue humano, esqueletos, aspecto infernal, coisas escritas do tipo: ‘Viva a morte’, etc., e decidiam: – Quero morrer flechado... Um a um, todos agiam assim: olhavam para a porta negra e para os arqueiros da morte e diziam ao rei:
Prefiro ser atravessado por flechas a abrir essa porta. Milhares optaram pelo que estavam vendo: a morte feia pelas flechas. Mas um dia a guerra acabou. Um daqueles soldados do ‘pelotão da flechada’ estava varrendo a enorme sala quando surgiu o rei. Com toda a reverência e meio sem jeito, perguntou: – Sabe, ó grande rei, eu sempre tive uma curiosidade. Não se zangue com minha pergunta, mas... o que tem além daquela porta negra?
O rei respondeu: – Lembra-se de que eu dava aos prisioneiros duas escolhas? Pois bem, vá e abra a porta negra. O soldado, trêmulo, virou cautelosamente a maçaneta e sentiu um raio puro de sol beijar o chão feio da enorme sala. Abriu mais um pouquinho a porta, e mais luz e um gostoso cheiro de verde inundaram o local.
O soldado notou que a porta abria para um caminho que apontada para uma grande estrada. Foi aí que ele percebeu: a porta negra dava para a... liberdade. Moral da história: temos medo do desconhecido, pois ele é sempre apresentado pior do que na realidade é. Isso nos impede de raciocinar com lucidez.
 Fonte: Richard Zajaczkowski 

Nenhum comentário:

Postar um comentário