terça-feira, 25 de agosto de 2015

Consumidores compulsivos de... felicidade

Consumidores compulsivos de... felicidade


Sibélia Zanon

“Hoje, o mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, como um ‘ fast-food’ da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou velhice. Ser deprimido não é mais ‘comercial’. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina...”, escreve o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor.
Vivemos num universo, em que expectativas desmedidas, vendidas pelos comerciais, nos fazem acreditar que merecemos tudo de melhor o tempo todo. Dessa forma não conseguimos mais agradecer, porque só temos tempo para exigir. A felicidade, que em tempos antigos estava implícita no simples fato de se estar vivo e poder usufruir dessa experiência, hoje é mais exigente. A publicidade alerta: Não basta nascer, é preciso ter!
No artigo Indústria cultural da felicidade, a filósofa Marcia Tiburi diz que o emprego da palavra felicidade tornou-se perigoso desde seu mau uso pelas publicações de autoajuda e pela propaganda, sendo que antes a felicidade se traduzia no ideal ético de uma vida justa.
“A felicidade sempre foi mais do que essa ideia de plástico. Tirá-la da cena hoje é dar vitória antes do tempo ao instinto de morte que gerencia a agonia consumidora do capitalismo. Por isso, para não jogar fora a felicidade como signo da busca humana por uma vida decente e justa, é preciso hoje separar duas formas de felicidade: uma felicidade publicitária e uma felicidade filosófica”.
Somos seres movidos pela busca, pelo anseio de encontrar respostas. A saudade ou a inquietação nos move a buscar entendimento, compreensão. Tanto para as dores quanto para o maravilhamento ofertados pela vida. Mas somos assediados pela constante tentação de calar essa inquietação com um paliativo qualquer.
“Procurais então atordoar ou contentar a inquietação novamente com qualquer coisa, de modo errado. E como para tanto só empregais o raciocínio, naturalmente também lançais mão de desejos terrenos, esperais satisfazer esse anseio no acúmulo de riquezas terrenas, na correria do trabalho ou em divertimentos dispersivos, na comodidade enfraquecedora...”, considera Abdruschin em Na Luz da Verdade.
A angústia interior que nos faz inquietos só vai ser saciada com buscas por valores mais elevados e não com as efêmeras alegrias superficiais oferecidas pela felicidade publicitária.
A busca pela felicidade, considerando-se aqui a felicidade filosófica, torna-se então mais complexa e profunda, já que a felicidade verdadeira vem como consequência daquilo que somos e exige que o olhar seja ampliado, abrangendo também o lado de fora e não apenas a satisfação pessoal e imediatista.
Isso porque quando olhamos exclusivamente para nós mesmos, buscando do lado de dentro, ficamos fechados numa espécie de cismar autoanalítico e choramos nossas desilusões e faltas. Quando abrimos os olhos para as dores do outro, considerando portanto o lado de fora, passamos a buscar uma forma de dar.
Olhar para fora nos ensina a reconhecer os valores, conhecimentos e capacitações que já possuímos e as que ainda podemos conquistar. Desabrocha, assim, a possibilidade de cuidar e a necessidade da troca. Dessa forma, a urgência pela busca da felicidade pode até diminuir, porque não teremos mais tanto o desejo de receber, já que estaremos ocupados em dar.
 Fonte: O Vaga Lume 

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